ENTREVISTA com ANDRÉ BASTOS- Ritimista/compositor, co-responsavel com seu irmão Nuno Bastos da bateria da VAI QUEM QUER e CAVAQUINISTA/INTERPRETE DO GRUPO DE SAMBA " NA CONTRAMÃO "
O meu obrigado pela disponibilidade para esta pequena " conversa " sobre samba companheiro
- Como e quando foi o teu começo no samba ?
Bem, eu praticamente nasci no samba como sabes, porque o meu Pai é do vai quem quer quase desde o seu inicio e logo o meu berço foi pintado de verde e branco. (risos). Mas oficialmente entrei para o VQQ no Inverno de 1992 para desfilar no Carnaval de 1993. Nesse carnaval fui numa mini ala mirim, e no Carnaval seguinte em 1994 fui no carro alegórico. Pois ainda era muito pequenino para ir na bateria mas o gosto pelo o som da nossa bateria já era quase um batimento fundamental do meu coração.
- Como foi a tua evoluçao como ritimista na Vai Quem Quer ?
Foi então no inverno de 1994 que comecei a ir a todas as actuações da bateria do VQQ , com um chocalhozinho, logo me tornei numa “mascote” da nossa bateria.(risos). Mas a minha vontade de aprender sempre mais, quis que eu aprendesse, o meu instrumento preferido no samba, e o teu também, (risos) o tamborim.
Então no carnaval de 1995, o mestre de bateria, na altura era o mestre “Pato”, decidiu que eu iria na bateria sim, mas no tamborim, instrumento que já dominava minimamente apesar de tão novo.
Fui assim me mantendo no tamborim, ate o carnaval de 2000.
Mas nessa altura já era o meu irmão director de bateria, e havendo já alguma evolução no samba, ele notou que necessitava-mos de mais surdos de 3ª na escola, até porque so tínhamos uma pessoa que tocava, que era o Ruizinho, mas tendo pouca disponibilidade para acompanhar a escola durante o ano, era complicado! Eu fui evoluindo com o tempo, ouvindo sempre muito samba, tentando tirar a batida de surdo de terceira, ate que um dia pedi ao meu irmão para me deixar tocar num ensaio, para experimentar, e pronto a partir dai fiquei nesse instrumento, desfilei no carnaval de 2001 no “corte”, até os dias de hoje, no qual me dedico tanto, e transformo-me cada vez que o toco!!
- Como foste sentindo a responsabilidade de seres o " braço direito " de teu irmão Nuno Bastos na bateria da VQQ ?
Bem, nem sei bem quando isso aconteceu, apenas me dediquei sempre muito, aprendi muito com o meu irmão, sempre vivemos juntos, e então era muito mais fácil pra mim acompanhar as suas ideias, a sua evolução, do que os outros.
Acho que deus me deu o dom de conseguir fazer muita coisa ao mesmo tempo, desde conseguir fazer o meu papel no “corte”, cantar, saltar, avisar os outros na bossas da bateria, apitar, corrigir…bem foi quase natural, daí se calhar despertar a atenção das pessoas, e do meu irmão, e então assumindo esse papel na bateria do VQQ. Mas não sou só eu, o meu irmão tem ali um núcleo de pessoas que consegue transmitir aquilo que ele pretende adquirir da restante bateria e isso faz com que tenhamos um grupo forte e unido e isso é que importa.
- Actualmente qual o teu papel na bateria da VQQ ?
Toco surdo de terceira, e sou juntamente com o Nuno sardine, Madaleno, e o Pato, um “responsável”, que tenta organizar a bateria, em suas bossas, cadencia, entre outras coisas que são necessárias visto que o meu irmão toca cavaco e é o interprete da escola e não pode estar dentro da bateria.
- Quais são para ti as principais qualidades que uma bateria deve ter ?
Ora, havendo vários gostos, o samba pra mim não é como a matemática que se tem que seguir aquilo e aquilo mesmo. É sim um gosto, um estado de espírito, e tenho que sentir a batida de uma bateria como se fosse um beijo da minha mãe ou do meu pai, com orgulho e paixão.
Mas indo ao assunto (risos), pra mim uma bateria tem que manter uma cadencia certa, sem oscilações, com um balanço agradável dos surdos de terceira que quase embala , mas com uma batida forte e pujante dos surdos de primeira e segunda.
Claro, caixas com um swing cheio, não muito requebrado. Boas bossas de tamborins mas sem perder o enrolado perfeito….
Ou seja pra mim uma bateria tem que funcionar como um bloco interligando todos os instrumentos num só.
- Quais as principais caracteristicas que se possa dizer que são marca da bateria da Vai Quem Quer ?
Bem, a bateria da VQQ tem varias marcas que a caracterizam na minha maneira de ver…acho que o rigor em termos de disposição no modo como desfila é uma grande característica na nossa bateria. Agora a nível técnico, acho que a firmeza e “pujança” na batida dos surdos , e os desenhos de tamborins são a grande marca. Mas acima de tudo a bateria da VQQ funciona como um bloco, com todos os ritmistas a um bom nível, e com um balanço “gostoso” e cadencia sem oscilações. Como gosto de ouvir.
- Tens alguma personagem do samba que admires e que tenhas como "inspirador ".... "idolo " ?
Como interprete, “Wander Pires” pela sua maneira de interpretar todos os sambas e claro a sua voz que é inconfundível e Como director de Bateria “Mestre Ciça” pela maneira como gere suas baterias e bossas.
- Momentos mais felizes no samba até hoje ?
Graças a Deus tive muitos (risos). Claro, todos os troféus ganhos, mesmo dando mais valor ao próprio samba e todos os conhecimentos que vou ganhando ao longo do tempo, acho que é sempre um momento de grande euforia e ao mesmo tempo uma alegria muito grande por ver o nosso trabalho reconhecido, mas, o melhor momento, foi em 1997, em que alguns elementos da bateria na altura se juntaram e compraram um tamborim para me oferecer, visto que na altura já tocava e tinha um tamborim muito velho. E então ofereceram-me num ensaio em frente a todo mundo. Guardo esse tamborim ate hoje. Foi um momento magico que jamais esquecerei.
- E os momentos mais dificies ?
Sem duvida que foi quando vi o meu pai na bancada a ver o desfile, por ter falecido o meu avo dias antes. Não desfilou mas fez questão que os filhos desfilassem. Partiu me o coração.
- Como tens visto a evolução das escolas de samba em Portugal ?
É de louvar haver cada vez mais pessoas a entrarem no mundo do samba, a amarem o samba como os seus familiares, e a vibrarem com tudo aquilo de bom que o samba nos trás. Felizmente somos cada vez mais e com mais qualidade e estamos no bom caminho.
- E a evolução das escolas em Estarreja ?
A meu ver, o samba esta cada vez melhor em Estarreja. Nota se uma aproximação muito boa a nível de fantasias em relação ao Brasil, porque são eles os nossos inspiradores, e a nível de sambas e bateria tambem. Vemos o Trepa de Estarreja, que evoluiu muito e está a muito bom nível principalmente este ano, e confirmou se isso neste troféu Nacional, Os morenos que passaram um momento difícil mas que agora estão num rumo certo e certamente irão evoluir cada vez mais, Os independentes apesar de muitas dificuldades, penso que vira ai uma nova era e que darão ainda muito que falar no Carnaval em Estarreja. E claro a minha querida Verde e Branco que apesar de as coisas não terem corrido tão bem este ano como por exemplo nos dois anos passados que foram muito bons para a escola, vira ainda com mais força e mantendo o bom nível que já nos habitou a ver e ouvir. Estamos no rumo certo.
- Quais são para ti as escolas que em Portugal melhor tem apresentado as suas baterias ?
Já há muito boas baterias em Portugal pra mim, no que tenho acesso. Vejo Vai Quem Quer, Charanguinha, Trepa de Estarreja, Costa de Prata, com grande qualidade, e grandes evoluções na Bota no Rego, Mato grosso, Amigos da tijuca…. Mas pra mim a maior evolução neste ultimo ano, foi sem duvida Os Sócios da mangueira, estão com um nível bom e certamente estarão cada vez melhor de ano para ano, graças ao grande trabalho feito pelo Xandinho.
-E no geral de todos os quesitos quais as escolas que mais te agradam no país ?
É claro que acho a minha escola muito completa (risos), mas excluindo um pouco a VQQ, acho a Bota no Rego é a que mais se tenta assemelhar ao rio, mas também acho que o Trepa e o UMG estão também muito próximos.
-Que gostarias de ver acontecer com o samba em Portugal e em particular com as escolas de samba ?
So acho que falta mais apoio para que as escolas se possam expandir cada vez mais e melhorarem, e claro adorava que fosse criada a Liga de Escolas de Samba Portuguesas, para que pudesse projectar e unir ainda mais o samba em Portugal.
- E que alterações e melhoramentos gostarias que acontecessem no Carnaval de Estarreja ?
Que fosse criado um “mini sambodromo” em Estarreja, para que as escolas melhorem as suas qualidades em termos de desfile e para quem nos visita e vê o nosso Carnaval, esteja em melhores condições.
E também acho que em termos de votações deveria ser o mesmo sistema como no Rio, que todas as pessoas deveriam assistir e acompanhar todas as notas em cada item, e poder ver a cara dos jurados .
- Concordas com o ENCONTRO NACIONAL de SAMBA ( Estarreja ) a realizar-se nos moldes em que se realiza e com os criterios de avaliação em que se baseia ?
Bem, acho que é de louvar todas as organizações de samba como estes e que é muito bom para o samba em Portugal. Mas a minha opinião é que em termos de avaliação, deveria ser como os critérios do próprio Carnaval de Estarreja, os mesmos itens e com júris neutros, que tenham conhecimento de causa. Acho que não é pedir muito!!
Gostava também que este troféu pudesse ser alargado para outras cidades, para que todas as escolas pudessem conhecer a realidade de todas as escolas nas suas terras!!!
- Agora falando do teu Grupo de Samba/ Pagode. Como e quando surgiu essa ideia de formar o grupo ?
Ora bem o nosso grupo nasceu oficialmente a 25 de Fevereiro de 2009, após o carnaval desse ano. Mesmo antes de ser-mos um grupo de pagode, éramos também um grupo de amigos, então estávamos juntos num bar a tomar um cafezinho e a “reinar” um pouco quando o João (pandeiro) falou na possibilidade de formar-mos um grupo, logo fiquei com aquilo na cabeça ate que decidimos andar pra frente e ver a melhor maneira para compor o grupo. Os primeiros elementos eram o João no pandeiro, Bruno Madaleno no surdo, Sérgio no rebolo, eu no Cavaco e voz principal, e Alex na bateria. Mas, faltava-nos mais harmonia então procuramos alguém que pudesse tocar violão, mas tinha de ser alguém como nos, novo, com humildade, e dedicado. Encontra mos o Pedro que nunca tinha tocado samba na vida e nem sequer ouvia, pois neste momento o gosto dele é tanto que já é um dos compositores do grupo. Por falta de disponibilidade o Madaleno e o Alex não puderam continuar conosco. Logo tivemos de partir pra outras opções, e logo surgiram muito naturalmente, o Kinho e o Fabinho. E pronto é mais ô menos esta a nossa pequena historia.
- Que mais dificuldades sentiram ou sentem ?
Principalmente foi conseguir um espaço para podermos ensaiar, e ter o material necessário para podermos tocar. Mas foi se conseguindo, a VQQ disponibilizou-nos a sede para ensaiar e alguns instrumentos, e necessitámos da algumas pessoas e grupos. Deixo um agradecimento enorme, a pessoas como o meu irmão Nuno Bastos, Pedro Mendes, Luciano Oliveira, Martinho Almeida e o grupo Axé Brasil, porque sem a boa vontade deles não seria possível a nossa continuação. E claro, neste momento agradecemos ao nosso agente Dinis Pinto que acreditou em nós e nos lançou para uma nova etapa na nossa vida.
- Qual a composição do Grupo ( nomes dos elementos e a que escola de samba pertencem ) ?
Cavaco e voz : André Bastos (Vai Quem Quer)
Violão: Pedro Pereira ( Trepa de Estarreja)
Pandeiro: João Orlando (Vai Quem Quer)
Rebolo: Sérgio Chipelo ( Vai Quem Quer)
Surdo: Marco Silva (Trepa de Estarreja)
Bateria: Fábio Miguel (Vai Quem Quer)
- Que linha musical vão procurar seguir ?
Nós achamos que o samba é de todos, então tentamos agradar todo o mundo, com axé, forro, tudo com o samba de raiz por perto. E assim vamos seguindo um caminho muito próprio e tentando acompanhar a evolução de quem realmente percebe.
- Como tem sido a aceitação do publico sambista ?
Não podia ser melhor, todos sabem que ainda somos muito novos, que temos ainda muito que aprender mas já nos respeitam e muitos já vêem em nós um exemplo a seguir.
- Depois do lançamento do Cd que projectos futuros tem o grupo ?
Bem, só nos resta continuar a trabalhar no duro como sempre fizemos, poder alargar o nosso gosto pelo samba pelo país, manter os pés no chão, e continuar com humildade, só assim chegaremos longe.
- Como vês o panorama musical de Grupos de Samba em Portugal ?
Não conhecendo todos os grupos, vejo o samba lele como o grupo que mais se destaca. Mas é claro que há outros com grande qualidade, como Papo de Samba, e outros também começando como, Bagunço no Boteco, Toque de Samba, Monovolume, cada um com o seu estilo e isso é bom…Espero que surjam cada vez mais grupos e que todos façamos com que o Samba engrandeça em Portugal.
Obrigado companheiro . Muitas felicidades para o Grupo e para a tua Vai Quem Quer.
Obrigado eu, por esta conversa, e deixa me felicitar por todo o esforço que tens feito pelo samba em Portugal, e sei que és daqueles que o faz de coração. Considero o teu blog como “a biblioteca” do samba em Portugal, pois tenho tudo o que necessito para me manter informado e evoluir mais como Sambista. Muito Obrigado.
Aquele ABRAÇO companheiro.