ENTREVISTA COM LUIS AMARO- JOVEM ( 24 anos ) DIRECTOR DE BATERIA DO GRES NOVO IMPERIO DA FIGUEIRA DA FOZ.
Começo por te agradecer a disponibilidade para esta pequena entrevista (conversa de samba ).
1- Como foi o teu inicio destas andanças pelo samba ?
Antes de mais um bem-haja a todos os sambistas e amigos do samba, e um muito obrigado amigo Guerreiro por me concederes o prazer desta entrevista
– Vou ser muito sincero… Quando entrei (2004) não sabia bem do que se tratava e não gostei, pelo menos nos primeiros tempos. Com o passar do tempo fui-me habituando ao ritmo do “haver ensaio ao fim-de-semana” e quando dei por mim já só ouvia samba e todos os géneros de música associados.
2- Qual o teu trajecto como sambista ?
– No Verão de 2004 entrei para os Unidos do Mato Grosso, comecei por tocar caixa e após o Carnaval de 2005 passei para o surdo de terceira (corte), instrumento pelo qual me interesso e me cativa mais no samba. Desde aí, esse tem sido o instrumento pelo qual quem me conhece me associa.
Em 2008 entrei para a nova escola de samba da Figueira da Foz, GRES Novo Império, onde me foi proposto ser Director de Bateria e onde me encontro até hoje.
3- Que significa para ti ser director de bateria ?
– No meu entender, um Director de Bateria é a pessoa que tem a capacidade de construir a harmonia da Bateria pela qual dá corpo, sendo conhecedor e capaz de ensinar como se toca cada instrumento, conjugando cada um num bloco só, criando a sua própria marca ou estilo, como se queira entender.
No meu caso, há excepção de alguns Directores de Bateria de Escolas de Samba portuguesas, faço parte do grande corpo da bateria, pois vou a tocar no meio dos outros ritmistas.
De qualquer forma, ainda não me considero um Director de Bateria mas espero um dia realmente o ser, sou apenas um constante aprendiz que lidera a bateria da GRES Novo Império.
4- Como e porque nasceu a Escola de Samba Novo Imperio?
– A Novo Império nasceu entre elementos que haviam pertencido às outras duas escolas da Figueira da Foz e da necessidade que elas partilhavam em criar um novo projecto, uma vez que não se sentiam enquadradas no lugar em que estavam, mas que ao saírem tanto de um lado como do outro, não queriam deixar o samba de parte.
5- Como foi esse arranque como escola de samba ? Memórias ( que são recentes ) desses primeiros passos ?
– Para arranque, apenas com mês e meio de trabalho pela frente com a bateria, passistas e restantes alas e mesmo na realização do projecto de Carnaval, foi bastante bom, surpreendendo muita gente. Mas claro que nunca me vou esquecer do “terror” que foi nos primeiros ensaios de bateria, quando eu ainda não me conseguia ligar ao papel de ensaiador (pois até ali era um mero ritmista que era ensaiado) e começavam a chegar aqueles que iriam ser os ritmistas e eu tinha de lhes explicar o que tinham de fazer com o instrumento que tinham na frente (e maior parte deles nunca tinha tocado nada), eles meio envergonhados, com medo de fazer mal…foi complicado. Como podes imaginar foi atribulada a criação do esquema do primeiro samba que a Novo Império levou para a rua numa verdadeira corrida contra o tempo. Mas naquele que para todos os Imperianos da Figueira foi o grande dia, o dia da primeira exibição a público, o dia em que tínhamos de mostrar que realmente chegámos lá, que não éramos tão fracos como muita gente afirmava, foi de tal forma espectacular que quando a bateria fecha o samba-enredo “com uma pancada só“ a plateia em silêncio solta de repente um enorme aplauso…foi arrepiante para quem estava naquele palco, posso afirmar que foi impossível conter as lágrimas de tanto orgulho depois de tantas dificuldades. Foi sem dúvida o momento mais marcante até hoje!
6- Como analisas o Carnaval actual da Figueira da Foz ?
- O Carnaval da Figueira/Buarcos com a terceira escola só veio a ganhar, pois além do Rei ou Rainha do Carnaval serem figuras públicas, são as escolas de samba que trazem o público à cidade. E desta forma penso que já se encontram reunidas condições mais que suficientes para haver uma disputa entre as três escolas em vez de sairmos para a rua para tocar e mostrar as fardas. Penso que agora só falta a entidade organizadora (Figueira Grande Turismo) dar o sim e claro, que se arranje um júri composto por pessoas competentes para o efeito e idóneas às escolas, de preferência, para poderem avaliar as escolas nos diferentes quesitos.
7- Que alterações e melhorias desejavas que acontecessem no Carnaval da Figueira ?
– Como já referi anteriormente, penso que só falta mesmo as escolas de samba irem a concurso pois o local onde se realiza o desfile é óptimo!
8- Quais as maiores dificuldades sentidas no teu inicio como director de bateria ?
– Foi sem dúvida explicar aos outros aquilo que já sabia fazer com cada instrumento sem explicação e que agora tinha de separar por partes, por vezes indo por aqui ou por ali, para no final o esquema ser o tal. Ainda hoje, a maior dificuldade que se me impõe é o tamborim, pois nunca aprendi a tocá-lo e o pouco que sei é de ver e ouvir.
9- Que projectos e ambições futuras para o Novo Imperio ?
– No que diz respeito à bateria, gostava que melhorasse a cada ano que passa pois também seria reflexo das minhas competências que por certas vezes existe quem as questione, mas estou consciente que isso não se consegue da noite para o dia mas gradualmente. O caminho certo é trabalhar e acima de tudo com dedicação e não fazer por fazer.
No que diz respeito à Novo Império no seu global, gostava que os seus componentes que ainda hoje são novos no mundo do samba (mas que algumas já não o são assim tanto) fossem mais unidas no que respeita a vestir a camisola da escola, que levassem a vida da escola mais a sério, que fossem a convívios e certos eventos ligados ao samba, que tivessem mais interesse em ver, saber, conhecer um pouco de tudo, pois uma escola de samba não vive só do desfile de Carnaval. Isto penso que será a base para tudo o resto que nos falta, a final a GRES Novo Império ainda não tem dois anos de actividade e maior parte dos seus integrantes ainda se encontram a atravessar aquela fase de integração ao espírito do que deve ser um verdadeiro sambista.
10- Como correu o Carnaval este ano ?
– O Carnaval este ano não correu como o esperado devido a incertezas e indecisões da FGT que acabaram por atrasar o desenvolvimento do projecto de Carnaval 2010 e também porque não nos foi possível melhorar algumas das fragilidades que nos acompanharam durante o nosso primeiro ano em quase todos os sectores.
Para agravar, as condições de som também não foram as melhores e a chuva que se fez sentir na 3ªfeira de Carnaval causou muitos prejuízos.
11- Como ves a evolução das escolas de samba em Portugal?
– Portugal tem neste momento escolas de samba a um bom nível, mas penso que estão todas também em constante evolução ainda que cada uma tenha mais dificuldades que outras. No entanto, comparado com escolas de samba que existem em vários cantos do mundo, não me referindo ao Brasil, penso que ainda estamos um pouco atrás.
12- Para ti quais as escolas que mais tem evoluido em Portugal no geral de todos os quesitos?
– Sem sombra de dúvida Vai Quem Quer, Bota no Rego, Charanguinha, Trepa de Estarreja e Unidos do Mato Grosso, não desvalorizando nenhuma das outras que não mencionei e tendo em atenção que algumas são muito boas em quesitos e outras noutros, sendo por isso difícil hierarquizá-las.
13- E a nivel de bateria quais as mais evoluidas... quais as que mais admiras e porquê ?
– Vai Quem Quer e Charanguinha. São sem dúvida alguma as únicas baterias que neste momento marcam pela diferença de qualquer uma das outras mas claro que isso também é fruto de terem as pessoas que eu entendo como as mais avalizadas na matéria a dirigi-las. Quero aproveitar e dar os meus parabéns ao Nuno Bastos e ao Xando pelo trabalho desenvolvido.
14- Que projectos e alterações pretendes para a bateria da Novo Imperio ?
– Eu pretendo aquilo que qualquer director de bateria pretende para a sua bateria: boa qualidade, bom ambiente e sempre defendendo a sua camisola. Isto passa por uma maior dedicação dos membros da bateria aliado ao apoio que todos devem dar uns aos outros, pois acredito que ninguém ensina ninguém mas ajuda o outro a aprender.
15- A nivel nacional que mudanças ou evoluções gostaria de ver acontecer para melhorar o nivel das escolas de samba ?
– Gostaria que existisse concurso em todas as cidades que têm escolas de samba (neste caso Figueira e Sesimbra), mais convívio entre todas e mais apoio e incentivos à vida de todas as escolas de samba.
16- Concordas com os moldes em que é realizado e disputado ( quesitos que estão a concurso ) o Encontro Nacional em Estarreja ?
– Acho que o corpo de jurados não deveria ser composto por nenhum membro de nenhuma escola de samba participante, para evitar o favorecimento facilmente calculado de algumas em detrimento de outras. As escolas pertencentes às cidades onde não há concurso no Carnaval deveriam ser coerentemente seleccionadas, o que não tem acontecido, e por outro lado, acho que o vencedor do Troféu do ano anterior deveria poder defender o seu título de campeão nacional, mesmo sem ter vencido o Carnaval desse ano.
Muito obrigado e muitas felicidades para o GRES Novo Imperio
-Muito obrigado e felicidades para todas as escolas de samba
Saudações Sambistas