ENTREVISTA COM JOÃO OLIVEIRA- SÓCIOS DA MANGUEIRA ( Mealhada )


ENTREVISTA com JOÃO OLIVEIRA - Baluarte do CARNAVAL da MEALHADA


- Começo por lhe agradecer a disponabilidade para esta pequena conversa de samba.
-Sr João Oliveira você é parte da historia da Escola de samba Socios da Mangueira e até do Carnaval da Mealhada.
Conta-nos como foi o inicio de tudo isso ?
No que diz respeito à questão de pertencer à história do carnaval da Mealhada, de facto, e sendo filho daquele que foi verdadeiramente o fundador, António José, meu pai, conhecido pelo MACÁCÚ, não poderia ficar de fora das primeiras manifestações de Entrudo da Mealhada. Fui sócio fundador, e se a memória não atraiçoa, com o número 74, por imposição do meu pai já que eu tinha então 10 anos de idade.
- De lá para cá como foi essa tua trajectória no samba ?
Participei sempre como actor no teatro de rua que o meu pai criava, momos e entremezes de piada e crítica social, de costumes, que lhe granjearam fama para além do seu trabalho noutras criações dramáticas. Aí por 1978 adiantei-me na ideia de criar um grupo de samba para ocupar a ausência de uma série de estudantes brasileiros que por uso desfilavam no corso de carnaval tocando e sambando. Os meus companheiros de então gostaram da ideia, apoiaram-me e nascem os Sócios da Mangueira fazendo jus a uma saudação que tínhamos entre nós ex. «Eh sócio, vamos ao baile?», e à Estação Primeira de Mangueira, escola do meu pai e referência para mim e para os meus colegas do mundo do samba da altura. Dei nome, dirigi, fui instrumentista, cantor, ensaiador, estilista, cenógrafo, enfim, tudo o que se pode dizer de um história à volta dos Sócios teve a minha presença até à data de hoje, e ainda tem.
- Actualmente que funções desempenha nos Sócios da Mangueira ?
Sou hoje um simples associado, colaborador, e funcionário se as circunstâncias assim o exigirem, mantendo para as minhas gentes associativas o lugar de sócio com mais experiência e portanto credível de opinião e conselho sempre que necessário.
- Quais os momentos mais felizes no samba que recorda até hoje ?
Tenho muitos momentos de satisfação no exercício da minha qualidade de membro da Sociedade Mangueirense, mas, sem dúvida alguma que as vitórias nos concursos de carnaval me deram muito gozo. Para além disso foi a visita ao Brasil e à Mangueira que marcou a minha maior emoção, estar com Dona Zica, Jamelão, Carlinhos, e muitas outras figuras marcantes da escola matriz, deram-me uma alegria mais no meu historial.
-E os momentos mais dificies ?
O momento mais difícil foi suportar a arrogância do poder político autárquico que, à força de GNR, nos expulsou de uma sede, a nossa estação primeira, para fazer valer a estupidez do exercício da opressão. No entanto por triste e difícil que tenha sido abriu asas e fez voar a associação cultural que hoje somos, e quase independente, para uma nova vida e uma nova consciência. Eu diria que já faltou mais para ela se tornar absolutamente autónoma. É o meu desejo.
-Como tem visto a evolução das escolas de samba em Portugal ?
É claro que é de notar uma evolução, não muito acentuada, mas pormenorizada, a meu ver. A preocupação pela imagem, pela confecção, trouxe mais requinte para a passarela do samba, melhor tratamento, mais enredo. Ao mesmo tempo e por simpatia a musicalidade procurou acompanhar este sintoma evolutivo, o que tem sido tela para boas produções de samba-enredo e harmonia de bateria.
-E a evolução das escolas de samba na Mealhada?
O que referi antes tem acontecido com as escolas de samba na Mealhada mas, por serem em maior número do que noutros locais do país e tendo menor apoio financeiro da Associação Carnavalesca, num carnaval já em decadência, sem regras nem respeito por elas, salvo excepções, poucas, a ordem e o progresso das mesmas não se efectiva como seria desejável.
-Que rescaldo faz destes já longos anos nos Sócios da Mangueira ?
Ao fim de 31 anos de existência, numa luta contra muitas adversidades, Mostrengos, velhos do Restelo, Caciques Indianos, e outros bichos que por cá andam, mais do lado de fora do que do lado de dentro, dou-me por satisfeito de nos termos conseguido adaptar, saindo vencedores desta luta, mas ainda não totalmente convencidos de que a ganhámos.
- Que objectivos tem para a Escola ? Que sonhos ?
O meu sonho, já por duas vezes apresentado aos meus associados, é o de adquirirmos um terreno e criarmos a nossa Casa Cultural, livre e independente, onde a instituição só responda perante si e o estado sem se sentir algo dependente de estratégias e eventualidades terceiras. Assim poderemos fazer instituir actividades na área cultural, desportiva e recreativa, que me são caras e necessárias até para a mudança para mais e melhor da condição associativa e social da nossa instituição e do espaço territorial que habitamos.
-No geral de todos os quesitos quais as escolas que mais lhe agradam no país ?
As escolas que me mereceram alguma atenção maior ao longo do tempo, ou por contacto ou por tratamento de amizade foram e são, A Charanguinha de Ovar e a Rainha da Figueira da Foz.
-Que gostaria de ver acontecer com o samba em Portugal e em particular com as escolas de samba ?
Gostaria que existisse o que já foi pensado em outros tempos, uma Fundação Nacional do Samba, para a qual fui chamado a intervir, em reuniões e debates algumas vezes. Uma fundação que pudesse defender o nosso mercado no que diz respeito a tudo o que honra e preenche as nossas necessidades nas áreas da cultura e do recreio a que nos propomos. Permitiria uma itinerância de realização, por exemplo, de um evento maior, entre outros que já acontecem, de diferentes formatos, do Grande Desfile Nacional de Escolas de Samba, para além de instituir um caderno representativo da nossa actividade no mercado da exibição.
-E no Carnaval da Mealhada que evoluções gostaria de ver realizadas ?
A maior evolução que eu poderia ver no carnaval da Mealhada era aparecer alguém que a dirigisse mais ou menos como eu a dirigi em 1990, com independência, sentido organizativo, respeito pelas classes, criatividade, e acima de tudo com a honestidade e a integridade que se exigem a uma instituição deste calibre, favorecendo o bem público, principalmente aquele que lhe dá vida, as escolas de samba, que sem elas ele não é nada que se aproveite e mesmo assim…
-Concorda com o ENCONTRO NACIONAL de SAMBA ( Estarreja ) a realizar-se nos moldes em que se realiza e com os criterios de avaliação em que se baseia ?
É um bem aceitável enquanto não existir outro mais audaz e mais abrangente. Não conheço com rigor de pormenor os critérios de avaliação em que se baseia mas do que me têm referido são de respeito pela apresentação das escolas. Nisso tenho uma visão muito própria ao ponto de alterar substancialmente o que há a respeito dos quesitos e critérios de concursos, por exemplo na Mealhada. Precisaria portanto de informação mais detalhada para opinar sobre o que se passa em Estarreja. Nunca presenciei o concurso nem acedi ao seu regulamento daí as minhas limitações em fundamentar qualquer ideia.
-Que recados gostaria de deixar para quem faz parte da comunidade de sambistas do nosso país ?
O recado fica dado, visitem a Sociedade Mangueirense, Os Sócios da Mangueira, visitem o nosso Bar, poderemos trocar pontos de vista e poderemos ver pontos de troca entre nós. Temos a melhor caipirinha do país, nossa opinião e sem ofensa, para quem vai fazer 32 de existência merece ser tema de enredo carnavalesco. Estava a brincar… ou não…

-Obrigado companheiro por me dar este contributo para ficarmos a saber mais sobre a história do carnaval da Mealhada. Muitas felicidades

Saudações Joaninas
Saudações Mangueirenses