Entrevista com Mestre Jota da Unidos do Mato Grosso -Figueira da Foz
- Como e quando foi teu inicio no samba?
Não é uma resposta fácil até porque já passou algum tempo. Lembro-me dos corsos carnavalescos que participava em criança, isto nos anos 90; onde se juntava um grupo de pessoas que, com instrumentos improvisados, com a bateria do meu pai desmontada etc; saía para os desfiles de carnaval, eu já nesta altura participava. Esse grupo foi o início das baterias de samba na Figueira. Tinham de nome “Os Marrriates” (com três “R”). Foi neste meio que cresci.
Em Outubro de 1995 dá-se a fundação da Escola de Samba de Buarcos, onde ainda criança participava.
- No começo que instrumento começaste a tocar e porquê?
No início tudo servia para fazer barulho. (típico de uma criança).
Saí dois anos seguidos a tocar surdo por indicação de quem estava a frente da bateria que na altura era o meu pai.
Se bem que os meus tempos de tamborim levam-me a dizer que este é o meu instrumento de eleição.
- Quando foi o primeiro ano como Mestre de Bateria
Já foi na Unidos do Mato Grosso pouco tempo depois da sua fundação. A princípio o ensaiador era o meu pai, mas no fim de 2002, inicio de 2003 até hoje coube-me a mim essa responsabilidade.
- Como encaraste essa responsabilidade? Como foram os primeiros ensaios?
Os primeiros ensaios foram talvez cedo demais, cometi alguns erros por falta de maturidade. Hoje arrependo-me de decisões tomadas na altura. O mais complicado no início foi a capacidade de liderança.
Mas com o tempo a própria responsabilidade deu-me ensinamentos nos quais me serviram de alicerce para tempos futuros.
- Como mestre de Bateria qual o teu melhor momento?
Talvez um momento caricato que se passou num arranque de um desfile onde mais de metade da bateria chorava de emoção derivado à puxada do samba e ao próprio momento. Sem dúvida, algo que não vou esquecer, emocionei-me também assim que a bateria entrou a tocar também. Este foi um momento, mas tenho muitos felizmente!
-E qual o teu momento mais feliz no samba?
Cada carnaval é um momento especial, tal como cada show de palco ou desfile. Felizmente tenho muitos e bons momentos para recordar. Não só com pessoas ligadas à minha escola mas também com pessoas de outras escolas. Vivi bons momentos com o pessoal da Vai Quem Quer que nunca esquecerei.
Mas sem dúvida que dos melhores momentos senão o melhor foi este ano no festival da Mealhada onde eu festejava os meus 25 anos e no fim da actuação da Unidos do Mato Grosso a festa parou com a entrada em palco de enumeras pessoas amigas, umas de escolas outras sem ligação a nenhuma ao samba, subiram ao palco para me dar a prenda mais sentida que já tive. Sem dúvida algo que nunca esquecerei.
- Quais o (s) mestre (s) de Bateria que admiras e te servem de exemplo?
Eu tenho por norma ser um bocado ousado no que diz respeito ao grau de dificuldade que tento implementar em arranjos de sambas ou paragens. Daí realçar mais mestres de baterias que se destacam pela sua irreverência, não esquecendo que a versatilidade e a originalidade de uma bateria deixou de ser só espectáculo e praticamente virou nota. Sem dúvida Odilon, Marcão, Celinho etc etc. Mas o meu preferido é mesmo o Ciça. A sua criatividade é uma dádiva que nasceu com ele, e é de prestar atenção a tudo o que tem feito enquanto mestre de bateria todos estes anos. Ele é inovador, trabalhar para a nota 10 mas para a perfeição, surpresa e espectáculo, é sem dúvida uma referência.
Em Portugal há também quem se destaque, para mim também uma referência. Não gostando ele que lhe chamemos de Mestre, Xando é sem dúvida o grande mestre em Portugal.
- Quais as características que admiras numa bateria e qual o modelo que procuras seguir?
Procuro a versatilidade, originalidade, que tenha um swing gostoso onde possa mexer com as pessoas, não só pela intensidade sonora mas também pelo correcto equilíbrio entre todos os instrumentos juntamente com o samba. Quem está na frente duma bateria busca sempre a perfeição tentando faze-la chegar o mais próximo do que se faz no Brasil.
- Que esquema (que tipo) de ensaios fazes logo nos primeiros ensaios do ano?
Eu tenho por norma nunca parar os ensaios da bateria. A Unidos do Mato Grosso também tem um calendário que assim o exige. Após o carnaval temos logo o nosso aniversário em Abril isso faz com não haja nenhum período morto de ensaios.
- Que perspectivas para o Carnaval 2010 relativamente á bateria da UMG (Unidos do Mato Grosso)?
As perspectivas da escola são elevadas até porque o orçamento para 2010 duplicou relativamente ao ano 2009.
O projecto está lidíssimo e o enredo está muito bem abordado. É um tema à Juan.
Há quem diga que 2009 foi o melhor ano de sempre da escola, mas eu prevejo que este ano vai superar em larga escala o ano que passou. Mato Grosso vem com muitas novidades e inovações.
- Que número de elementos e novidades pensa apresentar este ano na sua bateria?
No ano passado a bateria saiu no carnaval com 52 elementos contáveis.
Este ano tem havido muito mais afluência de novos sócios para a bateria. Eu preferia manter o número do ano passado tentando melhorar a qualidade, mas não será fácil. É possível que pela primeira vez a bateria da Unidos do Mato Grosso chegue aos sessentas.
- No panorama actual quais as 5 escolas que colocarias no primeiro patamar a nível nacional?
Há escolas que sem dúvida se destacam de outras mas não acho justo enumera-las até porque cada cidade tem um orçamento diferente, cada carnaval tem uma cultura distinta, que faz o seu próprio estilo. Não posso comparar por exemplo escolas da figueira que desfilam com 80 pessoas com escolas de Sesimbra que saiam no carnaval com cerca de duzentas e muitas pessoas.
Há terras onde há concurso, outras onde não o há. Tudo isso influência na qualidade que se apresenta.
Justo seria se houve uma entidade nacional onde atribuísse a mesma verba a todas as escolas e depois as julgasse.
- No quesito bateria também como definirias as 5 mais completas?
Eu não conheço todas a baterias nacionais. E das que conheço há muitas que não tenho acompanhado, mas das que têm aparecido em festivais, desfiles, aniversários ou eventos semelhantes destaco aquela que mais se aproxima do que se faz no rio, que tem sido de há muitos anos para cá e actualmente melhor que nunca a bateria da Charanguinha.
A Vai Quem Quer tem estado em muito bom nível e todos os anos se tem apresentado cada vez melhor, está de parabéns o Nuno que com a sua criatividade sempre nos surpreende.
Há também baterias que se têm apresentado muito bem tais como o Trepa de Estarreja a minha bateria a Unidos do Mato Grosso, a bateria dos Sócios da Mangueira que no festival da Mealhada esteve em muito bom nível e agora com novo ensaiador a coisa promete. O Batuque também é sempre de ter em conta pois é uma escola com muito ano e tem tirado sempre a melhor nota no carnaval.
O Chora tem desenvolvido um trabalho muito bom na Bota no Rego. Sempre muito criativo e inovador. (gostei muito de ver a bateria do Bota no Rego em Penafirme).
Confesso que não sei como estão actualmente algumas escolas que por norma se apresentam muito bem.
- E essa faceta de compositor de samba como surgiu? É para continuar também?
Esta é uma faceta necessária. Todos os anos é preciso fazer um samba para o carnaval consoante o enredo. Cada vez tem ficado mais sério pois há três anos surgiu a ideia de se fazer samba enredo original. Eu acabei por fazer o primeiro em Setembro de 2007, até então adaptávamos a letra em cima de sambas do rio. No carnaval de 2007 no qual o enredo foi “Angola berço de toda a riqueza”, fiz a letra sob a melodia de um samba da imperatriz, até então era o Nuno Bastos que dava uma ajuda nas letras dos sambas junto comigo.
Para 2010 o samba já ta feito. Será mais um original que, com música e letra composta por mim, embora tenha tido uma ajuda preciosa, em certas partes da letra, por parte de Xandinho e Juan (carnavalesco dos Unidos do Mato Grosso). Espero que contagie a escola da mesma maneira que contagiou em 2009.
É uma experiência interessante mas complicada.
- Deixa 5 conselhos para quem quer ser mestre de bateria e atingir bons níveis?
Eu não sou ninguém para dar conselhos destes mas se uma pessoa tiver espírito de liderança, humildade já é um bom começo. Depois convém saber tocar direitinho todos os instrumentos para ter uma noção do que se faz. Ser criativo, ousado e respeitar quem sabe mais do que nós e já cá anda há muitos anos. Dedicar-se aos instrumentos e aos seus ritmistas, depois é fechar os olhos e sentir o samba e saber viver o samba.
Obrigado e parabéns pelo teu trabalho, pelo teu estudo e dedicação ao samba em Portugal
- Como e quando foi teu inicio no samba?
Não é uma resposta fácil até porque já passou algum tempo. Lembro-me dos corsos carnavalescos que participava em criança, isto nos anos 90; onde se juntava um grupo de pessoas que, com instrumentos improvisados, com a bateria do meu pai desmontada etc; saía para os desfiles de carnaval, eu já nesta altura participava. Esse grupo foi o início das baterias de samba na Figueira. Tinham de nome “Os Marrriates” (com três “R”). Foi neste meio que cresci.
Em Outubro de 1995 dá-se a fundação da Escola de Samba de Buarcos, onde ainda criança participava.
- No começo que instrumento começaste a tocar e porquê?
No início tudo servia para fazer barulho. (típico de uma criança).
Saí dois anos seguidos a tocar surdo por indicação de quem estava a frente da bateria que na altura era o meu pai.
Se bem que os meus tempos de tamborim levam-me a dizer que este é o meu instrumento de eleição.
- Quando foi o primeiro ano como Mestre de Bateria
Já foi na Unidos do Mato Grosso pouco tempo depois da sua fundação. A princípio o ensaiador era o meu pai, mas no fim de 2002, inicio de 2003 até hoje coube-me a mim essa responsabilidade.
- Como encaraste essa responsabilidade? Como foram os primeiros ensaios?
Os primeiros ensaios foram talvez cedo demais, cometi alguns erros por falta de maturidade. Hoje arrependo-me de decisões tomadas na altura. O mais complicado no início foi a capacidade de liderança.
Mas com o tempo a própria responsabilidade deu-me ensinamentos nos quais me serviram de alicerce para tempos futuros.
- Como mestre de Bateria qual o teu melhor momento?
Talvez um momento caricato que se passou num arranque de um desfile onde mais de metade da bateria chorava de emoção derivado à puxada do samba e ao próprio momento. Sem dúvida, algo que não vou esquecer, emocionei-me também assim que a bateria entrou a tocar também. Este foi um momento, mas tenho muitos felizmente!
-E qual o teu momento mais feliz no samba?
Cada carnaval é um momento especial, tal como cada show de palco ou desfile. Felizmente tenho muitos e bons momentos para recordar. Não só com pessoas ligadas à minha escola mas também com pessoas de outras escolas. Vivi bons momentos com o pessoal da Vai Quem Quer que nunca esquecerei.
Mas sem dúvida que dos melhores momentos senão o melhor foi este ano no festival da Mealhada onde eu festejava os meus 25 anos e no fim da actuação da Unidos do Mato Grosso a festa parou com a entrada em palco de enumeras pessoas amigas, umas de escolas outras sem ligação a nenhuma ao samba, subiram ao palco para me dar a prenda mais sentida que já tive. Sem dúvida algo que nunca esquecerei.
- Quais o (s) mestre (s) de Bateria que admiras e te servem de exemplo?
Eu tenho por norma ser um bocado ousado no que diz respeito ao grau de dificuldade que tento implementar em arranjos de sambas ou paragens. Daí realçar mais mestres de baterias que se destacam pela sua irreverência, não esquecendo que a versatilidade e a originalidade de uma bateria deixou de ser só espectáculo e praticamente virou nota. Sem dúvida Odilon, Marcão, Celinho etc etc. Mas o meu preferido é mesmo o Ciça. A sua criatividade é uma dádiva que nasceu com ele, e é de prestar atenção a tudo o que tem feito enquanto mestre de bateria todos estes anos. Ele é inovador, trabalhar para a nota 10 mas para a perfeição, surpresa e espectáculo, é sem dúvida uma referência.
Em Portugal há também quem se destaque, para mim também uma referência. Não gostando ele que lhe chamemos de Mestre, Xando é sem dúvida o grande mestre em Portugal.
- Quais as características que admiras numa bateria e qual o modelo que procuras seguir?
Procuro a versatilidade, originalidade, que tenha um swing gostoso onde possa mexer com as pessoas, não só pela intensidade sonora mas também pelo correcto equilíbrio entre todos os instrumentos juntamente com o samba. Quem está na frente duma bateria busca sempre a perfeição tentando faze-la chegar o mais próximo do que se faz no Brasil.
- Que esquema (que tipo) de ensaios fazes logo nos primeiros ensaios do ano?
Eu tenho por norma nunca parar os ensaios da bateria. A Unidos do Mato Grosso também tem um calendário que assim o exige. Após o carnaval temos logo o nosso aniversário em Abril isso faz com não haja nenhum período morto de ensaios.
- Que perspectivas para o Carnaval 2010 relativamente á bateria da UMG (Unidos do Mato Grosso)?
As perspectivas da escola são elevadas até porque o orçamento para 2010 duplicou relativamente ao ano 2009.
O projecto está lidíssimo e o enredo está muito bem abordado. É um tema à Juan.
Há quem diga que 2009 foi o melhor ano de sempre da escola, mas eu prevejo que este ano vai superar em larga escala o ano que passou. Mato Grosso vem com muitas novidades e inovações.
- Que número de elementos e novidades pensa apresentar este ano na sua bateria?
No ano passado a bateria saiu no carnaval com 52 elementos contáveis.
Este ano tem havido muito mais afluência de novos sócios para a bateria. Eu preferia manter o número do ano passado tentando melhorar a qualidade, mas não será fácil. É possível que pela primeira vez a bateria da Unidos do Mato Grosso chegue aos sessentas.
- No panorama actual quais as 5 escolas que colocarias no primeiro patamar a nível nacional?
Há escolas que sem dúvida se destacam de outras mas não acho justo enumera-las até porque cada cidade tem um orçamento diferente, cada carnaval tem uma cultura distinta, que faz o seu próprio estilo. Não posso comparar por exemplo escolas da figueira que desfilam com 80 pessoas com escolas de Sesimbra que saiam no carnaval com cerca de duzentas e muitas pessoas.
Há terras onde há concurso, outras onde não o há. Tudo isso influência na qualidade que se apresenta.
Justo seria se houve uma entidade nacional onde atribuísse a mesma verba a todas as escolas e depois as julgasse.
- No quesito bateria também como definirias as 5 mais completas?
Eu não conheço todas a baterias nacionais. E das que conheço há muitas que não tenho acompanhado, mas das que têm aparecido em festivais, desfiles, aniversários ou eventos semelhantes destaco aquela que mais se aproxima do que se faz no rio, que tem sido de há muitos anos para cá e actualmente melhor que nunca a bateria da Charanguinha.
A Vai Quem Quer tem estado em muito bom nível e todos os anos se tem apresentado cada vez melhor, está de parabéns o Nuno que com a sua criatividade sempre nos surpreende.
Há também baterias que se têm apresentado muito bem tais como o Trepa de Estarreja a minha bateria a Unidos do Mato Grosso, a bateria dos Sócios da Mangueira que no festival da Mealhada esteve em muito bom nível e agora com novo ensaiador a coisa promete. O Batuque também é sempre de ter em conta pois é uma escola com muito ano e tem tirado sempre a melhor nota no carnaval.
O Chora tem desenvolvido um trabalho muito bom na Bota no Rego. Sempre muito criativo e inovador. (gostei muito de ver a bateria do Bota no Rego em Penafirme).
Confesso que não sei como estão actualmente algumas escolas que por norma se apresentam muito bem.
- E essa faceta de compositor de samba como surgiu? É para continuar também?
Esta é uma faceta necessária. Todos os anos é preciso fazer um samba para o carnaval consoante o enredo. Cada vez tem ficado mais sério pois há três anos surgiu a ideia de se fazer samba enredo original. Eu acabei por fazer o primeiro em Setembro de 2007, até então adaptávamos a letra em cima de sambas do rio. No carnaval de 2007 no qual o enredo foi “Angola berço de toda a riqueza”, fiz a letra sob a melodia de um samba da imperatriz, até então era o Nuno Bastos que dava uma ajuda nas letras dos sambas junto comigo.
Para 2010 o samba já ta feito. Será mais um original que, com música e letra composta por mim, embora tenha tido uma ajuda preciosa, em certas partes da letra, por parte de Xandinho e Juan (carnavalesco dos Unidos do Mato Grosso). Espero que contagie a escola da mesma maneira que contagiou em 2009.
É uma experiência interessante mas complicada.
- Deixa 5 conselhos para quem quer ser mestre de bateria e atingir bons níveis?
Eu não sou ninguém para dar conselhos destes mas se uma pessoa tiver espírito de liderança, humildade já é um bom começo. Depois convém saber tocar direitinho todos os instrumentos para ter uma noção do que se faz. Ser criativo, ousado e respeitar quem sabe mais do que nós e já cá anda há muitos anos. Dedicar-se aos instrumentos e aos seus ritmistas, depois é fechar os olhos e sentir o samba e saber viver o samba.
Obrigado e parabéns pelo teu trabalho, pelo teu estudo e dedicação ao samba em Portugal