ENTREVISTA COM XANDINHO ( Filho de Xando )


-Como foi o inicio dessa já longa carreira ao serviço do samba sabendo que começaste logo de pequeno a acompanhar teu pai (Xando)?

Desde tenra idade que tive contacto com o samba. Nasci e cresci embalado pelo som das batucadas (tanto da Charanguinha como do Samba Lêlê). Enquanto uma criança normal se divertia com uma bola, eu divertia-me com tamborins e pandeiros. Tenho o samba no sangue. Logicamente que o grande impulsionador e responsável pela pessoa que hoje sou no samba, é o meu pai (Xando), que desde bem cedo cultivou em mim o gosto por este maravilhoso género musical. Felizmente deu certo e hoje em dia não vivo sem ele.

- Paralelamente às escolas (Charanguinha e agora os Sócios) tens ainda o valioso projecto SAMBALÊLÊ. É difícil conciliar tudo isso?

Embora desde sempre tenha tido contacto com as escolas de samba, o Samba Lêlê é bem mais antigo na minha vida, pois para quem não sabe, toco com o Samba Lêlê desde os 10 anos de idade, passando a ser elemento oficial apenas aos treze, num pagode na sede da GRES Charanguinha. É um projecto que amo de coração e defendo com todas as forças, para o seu crescimento e qualidade. Agora nos dos Sócios da Mangueira é apenas uma questão de horários e ambas as situações se conciliam facilmente.

- De todos eles qual o que te dá mais prazer e com que te sentes melhor?

São sensações opostas. São diferentes tipos de samba, mas ambos me dão um prazer enorme. É inexplicável o arrepio que sinto quando ouço a bateria de uma escola de samba, mas de igual modo adoro partido alto. É difícil explicar, o samba mexe comigo de qualquer jeito.

-O ano passado já contribuíste na composição do samba da Charanguinha junto com teu pai e pelo que sei vais também apostar nessa área compondo o samba para os Sócios da Mangueira. Fala-nos um pouco disso.

É verdade, foi com imenso prazer que dei um pequeno contributo na composição do samba enredo da GRES Charanguinha para o carnaval 2009, no qual nos sagramos campeões.

Com o meu ingresso nos Sócios da Mangueira, numa posição bem diferente da que tinha na GRES Charanguinha como ritmista e responsável pela sua coordenação tanto em carnaval como em actuações de palco, surgiu essa hipótese pois além de director de bateria irei estar ligado à harmonia, exercendo a função de cavaquinhista. Foi-me feita essa proposta, aceitei o desafio e é com imensa alegria que sou pioneiro na composição de um samba de enredo original no Carnaval da Mealhada, dado que tenho já pronto e oficializado o samba dos Sócios da Mangueira para 2010, desde meados de Outubro passado.

- Essa paixão pelo samba vem já de família mas agora vais iniciar um percurso " a Solo " tomando a direcção da bateria da escola de samba Sócios da Mangueira da Mealhada. Que projectos tens?

É um pouco difícil explanar todos os projectos que tenho para o futuro. Penso que este meu percurso agora a solo é mais um passo na minha realização pessoal. Para já só penso neste projecto com os Sócios da Mangueira. Com bastante trabalho e empenho, não só meus, mas de toda a equipa da escola, penso conseguir os meus principais objectivos, que se traduzem numa franca evolução de ambas as partes.

O futuro só Deus sabe e, como diz a música: “Como será o amanhã, responda quem souber, o que irá me acontecer, o meu destino será como Deus quiser”.

Mas que tudo termine no samba!


-Que alterações fizeste e que linha procuras seguir com essa bateria?

É cedo ainda para falar sobre alterações e mudanças, pois só há escassos ensaios posso considerá-la como minha bateria. Diferenças já se notam logicamente, pois bastam pequenos pormenores para tornar uma bateria melhor e de maior qualidade e isso posso afirmar que já está a acontecer.

Tudo parte um pouco do nosso gosto pessoal e no que depender de mim, a bateria dos Sócios da Mangueira irá surpreender em 2010.

- Quais são para ti as principais qualidades que uma bateria deve ter?

Para mim, a cadência e o chamado miolo (principalmente as caixas) numa bateria são essenciais.

- Momentos mais felizes no samba até hoje?

Felizmente a vida tem-me proporcionado diversos momentos felizes. Posso enumerar alguns como ter assistido aos ensaios nas quadras do Salgueiro, Unidos da Tijuca e São Clemente, enquanto estive no Rio de Janeiro. Esses momentos embora vividos em criança, ficam para sempre na memória. A minha oficialização como elemento do Samba Lêlê, ver ao vivo e actuar tocando tantã com o Grupo Fundo de Quintal, ser apadrinhado pessoalmente pelo Bira Presidente e na noite do show, o Grupo Samba Lêlê ter sido também apadrinhado, participar nos dois shows dados pela Beth Carvalho na última vinda a Portugal e juntamente com todos os elementos do Grupo Samba Lêlê ser desta vez “amadrinhado” por esta Cantora maravilhosa.

São alguns exemplos, que não vou aprofundar, pois daria matéria para muitas entrevistas.



- E os momentos mais difíceis?

Sem sombra de dúvida deixar a escola de samba do meu coração, a Charanguinha, para seguir o projecto nos Sócios da Mangueira. Só Deus sabe o quanto custa ouvir aquela bateria e estar a assistir do lado de fora. Dói no coração.


- Como tens visto a evolução das escolas de samba em Portugal?

A passos largos se dá a evolução das escolas de samba em Portugal. Vejo isso com a maior felicidade pois o maior objectivo é o crescimento do samba no nosso país. Deveria ser o objectivo de todos aqueles que integram as escolas de samba, mas por vezes não é bem assim.

-Quais são para ti as escolas que melhor têm apresentado as suas baterias?

Evidentemente sou suspeito para falar nesta escola, mas temos de ser realistas e saber avaliar. Sem dúvida a bateria da Charanguinha é a que atinge o nível de qualidade mais alto.

Não posso deixar de comentar a bateria da Vai Quem Quer, que nos tem habituado a um óptimo nível, crescendo a cada dia que passa.

Penso que são as duas baterias ao melhor nível neste momento, embora existam outras que evoluem a olhos vistos e que podem vir a ser excelentes baterias. Falo das baterias da Bota no Rego, Unidos do Mato Grosso, Trepa de Estarreja, GRES Batuque e, por último, deixo logicamente a bateria dos Sócios da Mangueira que está neste momento em fase de mudança.

-E no geral de todos os quesitos quais as escolas que mais te agradam no país?

Esta pergunta daria pano para mangas. A comparação entre as escolas de samba nacionais não pode ser feita de ânimo leve, pois os quesitos não são os mesmos nos diversos desfiles. Por vezes nem existem quesitos pela inexistência de concurso e, a realidade e cultura dos carnavais é diferente, os orçamentos são diferentes, os métodos, os estilos, é impossível comparar. São opções de cada escola.

-Que gostarias de ver acontecer com o samba em Portugal e em particular com as escolas de samba?

Sem dúvida alguma, que o samba em Portugal cresça sem limites. O samba é uma arte, é uma magia que nos envolve, que deveria servir para nos unir ao máximo e nos proporcionar momentos de folia. O samba não deve servir para criar guerras, mau ambiente entre escolas de samba, etc.

O samba deve ser motivo para harmonia, alegria e união. Por vezes é precisamente o contrário. Vamos parar com esse sentimento e “remar” todos para o mesmo lado, pois só assim poderemos ver o samba crescer. Caso contrário só se irá afundar o samba, ou torná-lo notícia pelos piores motivos.


- Concordas com o ENCONTRO NACIONAL de SAMBA (Estarreja) a realizar-se nos moldes em que se realiza e com os critérios de avaliação em que se baseia?


Um evento como esse é sem dúvida sempre louvável e bom para a divulgação do samba. No entanto nos moldes em que está a ser feito não acho que seja correcto, pois devem ser revistos os critérios de escolha de participantes, como também a questão dos jurados, que quanto a mim não devem pertencer às escolas participantes.


-Que recados gostarias de deixar para quem faz parte da comunidade de sambistas do nosso país?

O recado que posso deixar é apenas o que faço com o maior gosto: viver o samba com alegria e lutar pela sua divulgação e crescimento.

Deixo aqui para todos um trecho de um samba meu, que mostra como eu sinto o samba e como penso que todos o deveríamos sentir:

“SENTIDO NO BATER DO NOSSO CORAÇÃO

MARCADO NA SOLA DO PÉ, BATIDO NA PALMA DA MÃO

O SAMBA É AMIZADE, AMOR E UNIÃO

ALEGRIA SIMPLICIDADE, É A FONTE DESSA CANÇÃO”


Um grande abraço à comunidade sambista de Portugal,

XANDINHO.


Obrigado companheiro por me dares o prazer de ser meu amigo. Muitas felicidades