Nome e idade ?
Paulo Ferreira, 39 anos.
Relembrando....Como foi o teu inicio destas andanças pelo samba?
O meu início no mundo do samba deu-se no ano de 1993 do Carnaval de Buarcos num grupo denominado Samba da Praia. No ano anterior este grupo apresentou no carnaval o 1º protótipo de uma bateria de samba composto por cerca de 10 elementos que desfilaram utilizando uma bateria desmanchada. Esta “bateria”, baptizada com o nome de MARRRIATES (com 3 R), cresceu e deu origem àquela que é hoje a RAINHA.
Qual o seu trajecto como sambista?
Ao longo destes quase 20 anos, já abracei vários desafios no mundo sambista, sempre ao serviço da Rainha, escola da qual muito me orgulho de ser um dos sócios fundadores e por essa razão vestir a camisola e estar até hoje de corpo e alma. Ingressei como já disse em 1993 na bateria a tentar “tocar” tamborim e pandeiro. Depois passei pelo agogo, caixa de guerra, surdo de primeira e corte. Em 2002 assumo a direcção da bateria, cargo que ocupo até hoje, à excepção de um período de cerca de um ano em que estive ausente da Rainha. Em 2002 iniciei também uma nova experiência em outra área e apresentei o meu primeiro projecto de carnaval com o qual a Rainha saiu para a avenida com o tema “Reciclar e Preservar a Rainha vem Ensinar”. Até hoje a Rainha já saiu com mais 7 (sete) projectos da minha autoria (2003, 2004, 2005, 2009, 2010, 2011, 2012). Algo que também me orgulho, prende-se com a criação do site da escola, que desde a sua primeira versão (2001) até à actual, me tem dado um gozo enorme em desenvolver, na tentativa constante de o manter o mais actualizado possível e com o máximo de informação disponível.
Como vês o actual momento do Carnaval na Figueira relativamente as escolas de samba?
O Carnaval na Figueira tem vindo a ganhar cada vez mais com as escolas de samba. Apresentamos um trabalho diferente e isso reflecte-se com a crescente adesão por parte do público e nas pessoas que de ano para ano ingressam nas escolas, e se no inicio havia quem disse-se que a Figueira só comportava uma escola, hoje já existem três e todas têm vindo a crescer. No ano passado o Carnaval na Figueira deu mais um salto qualitativo quando acrescentou ao seu programa o desfile nocturno das escolas, prova que está a crescer e muito graças à existência das escolas.
Que alterações e melhorias desejava que acontecessem no Carnaval da Figueira da Foz?
Esta tua pergunta vem completar a minha resposta anterior porque se te digo que as escolas actualmente na Figueira estão bem e com vontade de continuar a crescer, isso só será possível se se alterar a forma como a Figueira Grande Turismo prepara o carnaval, em concreto com o tempo que as escolas têm para desenvolver os projectos. Não se consegue crescer em qualidade com um mês de tempo para por uma escola na avenida. Não é possível crescer quando a três meses do carnaval já estão trabalhos a decorrer noutras cidades e na Figueira quem organiza ainda acha que é cedo falar em carnaval. Por exemplo, um aspecto a melhorar em muito, diz respeito aos carros alegóricos que as escolas apresentam, mas como é que podem apresentar algo de qualidade se não têm tempo? De uma vez por todas, a entidade organizadora tem de olhar com outros olhos para o carnaval e começar a preparar o mesmo com bastante antecedência para permitir às escolas desenvolver os projectos e evoluir de ano para ano. Se as escolas puderem crescer, o carnaval também cresce. Estamos a falar do evento mais importante existente na Figueira na chamada época baixa. As escolas querem mais e está também na hora de alargar e complementar o programa do carnaval com eventos como os que já se fazem em Ovar, Estarreja ou Mealhada e onde os resultados são bem positivos. Refiro-me a espectáculos de bandas locais, concursos de máscaras, apresentação dos sambas enredos das escolas, desfile das escolas primárias e jardins-de-infância, bailes de carnaval, etc.
Quais as maiores dificuldades sentidas pela tua escola de samba ou/e em geral pelas escolas da Figueira ?
Estão referidas na pergunta anterior.
Para alem da maravilhosa sede social, que após grande labuta a Rainha se orgulha de ter, que projectos e ambições futuras tem a direcção para a escola?
Agora que a sede já está pronta, vamos direccionar as nossas ambições para a aquisição de equipamento específico para vários sectores e que nos permita desenvolver todos os nossos projectos da melhor forma. Neste momento posso adiantar-te que a direcção está empenhada em renovar o sistema de som da escola para dar resposta aos vários eventos que estão planeados sem ter necessidade de recorrer ao aluguer deste tipo de equipamento. E vamos conseguir.
Como correu o Carnaval este ano?
Muito bem, realizámos o projecto que tínhamos planeado, com grande esforço de todos e foi muito bom ver toda a escola mobilizada para que no dia tudo estivesse pronto. A Rainha saiu com fantasias diferentes, ousadas, inovando mais uma vez, com muita alegria e garra, as marcas da escola. Posso dizer que desde que me lembro, sempre fiz directa na véspera do carnaval mas nunca tinha vivido nada como este ano. Foi fantástico ver dezenas de pessoas às 6 da manhã a dançar em cima das mesas em plena sede na conclusão das fantasias. Que loucura, é este o espírito da Rainha. Parabéns Família Real.
O que pensas sobre o concurso de Escolas de Samba que se realizou na Figueira e no qual a Rainha se demarcou não querendo participar?
A Rainha está no samba para se divertir e não para competir. As outras escolas demonstraram interesse em implementar o concurso e nós só temos que respeitar mas desde cedo deixámos bem clara a nossa posição junto da FGT. Para nós o concurso não é importante, o que queremos é desfilar e ajudar o carnaval da Figueira a crescer ano após ano e como tal, pedimos para ficar de fora dessa “competição”, mas caso não fosse possível e pretendessem incluir a Rainha na avaliação, nós não iríamos reivindicar qualquer posição e caso houvesse um prémio monetário, gostaríamos que o mesmo fosse entregue a uma instituição de caridade da Figueira. Assim e em coerência, não fomos receber o prémio que nos foi atribuído neste Carnaval. Em cada carnaval, a nossa ambição não é ser melhor do que ninguém, mas sim ser melhor do que fomos no ano anterior. Quero esclarecer que esta é a posição da actual direcção da escola, o que não significa que no futuro a escola não possa ter outra posição.
Como vês a evolução das escolas de samba em Portugal?
Pelas imagens que vou tendo acesso julgo que há uma evolução e que é transversal a todas, no entanto a velocidades diferentes o que se comprova na diferente qualidade quer dos desfiles quer nos espectáculos de palco que apresentam.
Para ti quais as escolas que mais tem evoluído em Portugal no geral de todos os quesitos?
Como referi anteriormente, vou tendo acesso a algumas imagens sobre algumas escolas mas daí a ter um conhecimento que possa sustentar a tua pergunta vai alguma distância. É claro que existem escolas que estão bem o que demonstram evolução, mas é sempre difícil julgar porque as escolas desenvolvem os seus projectos em circunstâncias diferentes. Os financiamentos, a concepção dos carros alegóricos onde há carnavais onde é a organização que desenvolve e custeia este trabalho para as escolas e o mesmo se passa com o aluguer de som, a cedência de profissionais e equipamento ao serviço das escolas, varia de carnaval para carnaval. Desta forma há escolas que têm a tarefa mais facilitada comparando com outras na elaboração dos seus projectos e indiciar uma maior evolução e isso não corresponder à realidade.
Com muitos anos de director de bateria, como vês actualmente a bateria da Rainha e quais as baterias que mais tem evoluído e que mais admiras a nível nacional?
A bateria da Rainha está bem, existe um excelente ambiente entre todos, sabemos o que estamos a fazer, mas temos a consciência que podemos fazer mais e melhor e temos muito para aprender. Temos uma média de idades alta o que joga em muitos aspectos contra nós mas o fundamental é sem dúvida que todos gostamos do que estamos a fazer e fundamentalmente nos divertimos, pois só assim podemos transmitir a alegria que tanto caracteriza o samba. Nunca seremos uma bateria de soldadinhos de chumbo. BATERIA PURA DIVERSÃO
Já com a tua longa experiencia como vês o actual momento das baterias em Portugal?
Temos boas baterias de uma forma geral, cada uma com o seu estilo, umas mais musculadas, outras mais melódicas, sempre ao gosto do seu director e com excelentes executantes, e é precisamente este aspecto que quero salientar. Mais do que estar aqui a referir a bateria A ou a B importa destacar o número de jovens que vão integrando as baterias de norte a sul, com vontade de aprender e que dão o garante da continuidade das escolas e com os quais se pode elevar de ano para ano os padrões qualitativos. Temos futuro…..
A nível nacional que mudanças ou evoluções gostaria de ver acontecer para melhorar o nível das escolas de samba e dos seus desfiles?
A nível das escolas, uma maior aposta nos seus valores internos. Logicamente que cada uma sabe de si, mas escola onde os seus projectos e os responsáveis pelas criações e o desenvolvimento dos mesmos são elementos da própria escola, que trabalham por amor à camisola e de forma gratuita têm para mim mais valor e mais futuro. Um maior reconhecimento e mais apoios por parte das entidades locais. Apoios que libertem as escolas de despesas fixas (água, luz, sedes, cedência de autocarros para deslocações, etc) que absorvem grande fatia das verbas que são angariadas com actuações ao longo do ano e que poderiam ser canalizadas para os carnavais e que no fundo reverteriam novamente para o município, pois escolas melhores, carnaval melhor, logo mais público, mais receita. Como contrapartida destes apoios, as escolas podiam realizar espectáculos a custo zero para o município. Recintos bem equipados, com bancadas, bares, um bom sistema sonoro, boa iluminação (desfile nocturno) para que as escolas possam desenvolver o seu trabalho o melhor possível. Recinto com qualidade é sinónimo de espectáculo com qualidade. Na Figueira, podemos não ter muitas bancadas mas temos a melhor avenida do país para desfilar e há carnavais onde as escolas desfilam em ruas que não lembra a ninguém.
Concordas com os moldes em que é realizado é disputado (quesitos e jurados que estão a concurso) o TROFÉU Nacional em Estarreja?
Tenho uma posição bem definida quanto a este assunto, mas já muito foi dito sobre esta matéria. Os aspectos que poderão não estar bem já estão identificados há muito tempo e já foram relatados a quem de direito por muita gente, pelo que não vale a pena estar e como se diz na gíria, “a bater mais no ceguinho”. Se há escolas que vêm a sua participação no Troféu como uma questão de vida ou de morte, para mim é um evento que permite um convívio entre várias escolas a nível nacional, onde cada uma mostra o que de melhor se faz nos respectivos carnavais, uma noite de muito samba, muita folia, onde quem gosta de samba se pode divertir, mas não mais do que isso.
Como são vistas e encaradas as rivalidades existentes entre as escolas na Figueira?
E como é a convivência entre elas?
A rivalidade é boa quando saudável, mas infelizmente na Figueira ainda existem algumas mentes que não contribuem para o bom relacionamento entre escolas. Felizmente estas estão bem identificadas, vão sendo cada vez menos e tendo cada vez menos créditos. Na Rainha compete aos elementos mais antigos filtrar e desvalorizar certos comportamentos que somos alvo para que não se ultrapassem certas barreiras e se já houve em tempos atitudes que nos deixavam mais irritados, hoje esses mesmos comportamentos quando existem, não provocam mais do que um conjunto de gargalhadas na sede a beber umas cervejinhas. Convivência entre escolas? Temos alguma com o Novo Império.
Que opinião tens sobre as rivalidades existentes entre as escolas em Portugal?
É normal, cada um puxa a brasa à sua sardinha. Desde que seja como disse anteriormente uma rivalidade saudável, é bom, une as pessoas à volta da escola, dá vida às instituições, faz com que estas ganhem dinâmica e crescem cada vez mais.
Quais os teus momentos mais felizes no samba? E os menos felizes?
São muitos os bons momentos que tenho vivido no samba pois a história da Rainha está repleta de muitos e bons momentos e posso afirmar que se não estive presente em todos, estive em quase todos, mas gostaria de salientar um que ocorreu recentemente que foi a inauguração da nossa actual sede. Algo com que sempre sonhámos e que felizmente conseguimos. Os menos bons? Também os houve e servem fundamentalmente de exemplo para evitar outros semelhantes no futuro.
Para terminar que conselhos (ou sugestões) daria aos sambistas portugueses?
Um pedido. DIVIRTAM-SE
Abraços Paulo Ferreira
Obrigado pela colaboração companheiro. Obrigado também por seres meu amigo. Muitas felicidades