ENTREVISTA COM PEDRO SILVA-PIRUSSAS


ENTREVISTA COM UM DOS MELHORES RITIMISTAS PORTUGUESES-PEDRO SILVA



O meu obrigado pela disponibilidade para esta pequena " conversa "
- Como e quando foi o teu começo no samba ?

Quando o ainda Grupo de Samba Trepa Coqueiro se formou foi necessário escolher uma costureira, a escolhida foi a minha mãe, aquando dessa escolha convidaram-me para integrar o grupo e eu aceitei, tinha 13 anos , entretanto passaram-se 21 anos e eu continuo a fazer parte da família Trepa assim como a minha mãe continua a ser a costureira oficial da Escola.

- Qual o teu percurso como sambista ?

Comecei então com 13 anos, um ano após a fundação, a sede da Escola passou a ser em casa dos meus pais, dessa forma pude ter contacto diário com todos os instrumentos, que de certa forma contribuiu claramente para a minha evolução.
Aos 16 anos fui estudar para Ovar e foi aí que me iniciei na prática do pandeiro graças á ajuda dos manos Reis (Tânia e Carlos), depois, creio que em 96, fundámos o Grupo Trepagode só com elementos da já Escola de Samba Trepa Coqueiro.
Em 98 é com grande alegria e orgulho que, após algumas actuações á experiencia, numa roda de samba na sede dos Sócios da Mangueira o Mestre Xando me declara oficialmente como membro efectivo do Sambalêlê que integrei durante 10 anos e que foi indubitavelmente onde mais evoluí.
Pelo meio fiz parte da direcção do Trepa, fui director de bateria do Trepa, fui chefe de ala de tamborins do trepa e sempre que possível dou uma “perninha” na Charanguinha.

- Que funções tens desempenhado no Trepa de Estarreja?

Já passei por muitas funções no Trepa, como disse anteriormente já fui director de bateria, chefe de ala dos tamborins, já fui da direcção da Escola e inclusive já fui Mestre Sala (quem diria?!) juntamente com a minha irmã como Porta Bandeira.
Actualmente toco tamborim ou o que for preciso e sou uma espécie de “conselheiro/consultor” do nosso mestre de bateria o Pedro Osório, infelizmente a minha disponibilidade não dá para mais.

- Como vês o momento actual do Trepa Coqueiro ?

Estamos sem dúvida a viver um momento muito bom, após sete anos sem vencer conseguimos duas vitórias importantes (carnaval de Estarreja e Troféu Nacional) que provocaram naturalmente uma grande euforia entre nós e claro aumentaram os nossos níveis de motivação para continuarmos o nosso trabalho.

- Que perspectivas futuras para a vossa escola ?

As perspectivas passam por continuar com a formação de novos elementos (destaco o trabalho do Pedro Osório), continuar e melhorar as actividades desportivas , culturais e sociais que têm dignificado em muito o nome da Escola e claro sair em grande para a rua (ou pelo menos tentar J).

- Que alterações fizeram e que linha procuram seguir para com vossa bateria ?

No últimos três anos a bateria cresceu muito em nº de elementos o que nos permitiu gerir melhor a disposição dos instrumentos e que também nos permitiu libertar alguns ritmistas para outros instrumentos com o intuito de criar mais polivalência entre os integrantes, conseguimos criar uma ala forte de chocalhos e eu pretendo que no próximo ano se consiga ter uma ala de cuícas que se faça sentir.

- Quais são para ti as principais qualidades que uma bateria deve ter ?

Pessoalmente , e apesar de serem importantes e necessárias, não dou muito valor a paradinhas e bossas quando avalio uma bateria (desde que ensaiadas todos as podem fazer), prefiro uma bateria coesa e homogénea entre todos os instrumentos, com uma cadência constante que desde o “arranque” até ao fim se mantenha sem altos e baixos, gosto especialmente de baterias agressivas com afinações altas.

- Quais as principais caracteristicas que se possa dizer que são marca da bateria do Trepa?

É uma bateria agressiva que assenta num forte naipe de caixas, é rápida, empolgante e consegue manter a velocidade durante toda a performance, mas não são só virtudes, é uma bateria que ainda precisa de trabalhar na definição do som de cada instrumento (uma vantagem de sermos muitos é que este problema não se nota assim tanto). A principal característica são os jantares que fazemos! (risos)

- Alguma novidade ou inovação para o proximo carnaval por parte da bateria ?

Temos de esperar para ver, ainda é cedo.

- Tens alguma personagem do samba que admires e que tenhas como "inspirador ".... "idolo " ?

Sim muitos, por exemplo Mestre Ciça, Mestre Taranta, Ivo Meireles… noutra vertente Paulinho da Viola, Cartola, Beth Carvalho… daria uma lista interminável.
Admiro muito, pessoalmente e musicalmente, o grande Cavaquinista Wanderson Martins.
Em Portugal tenho também alguns “personagens” que me continuam a inspirar e a ajudar na minha evolução, eles sabem quem são, são acima de tudo meus amigos.

- Momentos mais felizes no samba até hoje ?

Felizmente já tive muitos, destaco todas a vitórias do meu Trepa por motivos óbvios e a minha entrada para o Sambalêlê, por ser o melhor grupo de Samba do país e por me ter permitido evoluir muito com notáveis sambistas como o Xando, o Xandinho e os demais que por lá passaram enquanto integrei o Grupo.

- E os momentos mais dificies ?

Felizmente também, não são muitos. Um deles Foi a morte da Sara Castro, grande amiga e pessoa muito querida no seio da Escola, e o outro foi a minha saída do Grupo Sambalêlê.

- Como tens visto a evolução das escolas de samba em Portugal ?

Tenho visto de forma muito positiva, tem-se notado uma grande evolução a todos os níveis, é claro que agora é mais fácil, graças ás auto-estradas da informação e á facilidade que agora se pode “importar” conhecimento e produtos, o que há 20 anos precisávamos de um ano para conseguirmos, agora precisamos de uma semana, vejamos por exemplo a Unidos do Mato Grosso, que é uma Escola relativamente recente, e que já atingiu um nível equiparado ás Escolas mais antigas.

- E a evolução das escolas em Estarreja ?

As Escolas de Samba em Estarreja evoluíram mais a partir da altura em que entrou em vigor o actual regulamento do concurso em Estarreja, cerca de 16 anos atrás, a Escolas começaram a trabalhar quesito a quesito e isso obrigou a uma evolução natural. Actualmente penso que as Escolas em Estarreja, pelo facto de estarem demasiado “presas” ao regulamento, não têm muito espaço para inovar (para quê investir em duas alegorias se só uma é julgada, por exemplo…).

- Como é a rivalidade e a convivencia entre as escolas em Estarreja ?

A convivência é boa, existe rivalidade sim e muita, mas sã, prova disso é que nas semanas que antecedem o carnaval todas as Escolas participam em cada uma das sedes com uma pequena actuação no dia em que cada Escola apresenta o seu samba enredo.

- Quais são para ti as escolas que em Portugal melhor tem apresentado as suas baterias ?

As seguintes são as que eu mais gosto de ouvir: Charanguinha , Trepa de Estarreja, Vai Quem Quer e “Cuidado que a Mangueira vem aí!” sem dúvida a bateria que mais evoluiu no último ano, Sócios da Mangueira.

-E no geral de todos os quesitos quais as escolas que mais te agradam no país ?

O meu coração veste duas camisolas, a do Trepa (é a que “visto” mais vezes, claro!) e a da Charanguinha (espero que quando o meu filho crescer não me obrigue a vestir uma terceira), estas estando bem ou menos bem para mim são sempre as melhores, depois pelo estilo, fantasias e forma de desfilar, gosto muito da Bota no Rego de Sesimbra. E claro os nossos grandes rivais em Estarreja, Vai Quem Quer, que se apresentam sempre em alto nível.

-Que gostarias de ver acontecer com o samba em Portugal e em particular com as escolas de samba ?

Acho que existe para todos o sonho da criação de uma liga que, entre outras coisas, permitisse negociações em massa de materiais, instrumentos e demais necessidades das nossas Escolas, havendo seriedade seria uma enorme mais valia para todos.
Gostaria também que se fizesse um encontro em Portugal (talvez bienal ou trienal por motivos logísticos) que envolvesse Escolas e grupos da Europa, este tipo de encontros é feito com frequência na Europa e muito raramente tem a presença de Portugueses, eu já estive num desses encontros (com cerca de 800 participantes) e fiquei impressionado com a qualidade que o Samba tem por essa Europa fora.


- E que alterações e melhoramentos gostarias que acontecessem no Carnaval de Estarreja ?

Existem muitos melhoramentos e alterações que gostaria que ocorressem, mas, dificilmente passarão de meros sonhos (aldeia de carnaval, Sambódromo, …), ao nosso alcance, penso que deveriam considerar a localização do desfile, acho que não está adequado á dimensão actual das Escolas.

- Concordas com o ENCONTRO NACIONAL de SAMBA ( Estarreja ) a realizar-se nos moldes em que se realiza e com os criterios de avaliação em que se baseia ?

Concordo com este tipo de encontro com competição, efectivamente não concordo com alguns pontos nomeadamente a forma como as Escolas são julgadas, os quesitos deveriam ser revistos, os júris não deveriam ser escolhidos pelas Escolas e principalmente não deveria ser sempre em Estarreja pois isso deixa as Escolas da terra em vantagem, o regulamento adequa-se à nossa forma de desfilar e conhecemos o percurso melhor que as Escolas de fora.
Tirando isso qualquer actividade que me permita estar com os amigos sambistas é sempre positivo.

-Fazias parte do Grupo Sambalêlê. Qual o motivo da saida ?

Profissionalmente vi-me envolvido num projecto que me obriga regularmente a ausentar-me do país, de forma a que eu não iria conseguir dar o meu melhor ao grupo e como tal optei por sair após um período de dez anos sensacionais.

- Que recordações tens desse tempo ?

As recordações são óptimas, conheci muitas pessoas, fiz muitos amigos, tive a oportunidade de estar em palco e ser apadrinhado pelo Fundo de Quintal e Beth Carvalho, tocar nos mais variados locais (Escolas de Samba, agremiações culturais prestigiadas, etc, etc e até num celeiro em cima de uma carroça lol). O facto de me sentir, como diria o grande Zeca Pagodinho, “bemquisto por todo o mundo” em qualquer Escola que eu vá é uma sensação muito boa.

- Como achas que está o nivel dos grupos de samba/pagode em Portugal ?

Está a crescer definitivamente, começa a aparecer uma nova geração de sambistas com muita vontade de aprender e evoluir.
É claro que na minha opinião o Sambalêlê continua a ser a referência, mas já vi alguns grupos com qualidade e grande margem de progressão, é preciso é humildade e trabalho.

-Que recados gostarias de deixar para quem faz parte da comunidade de sambistas do nosso país ?

O samba não é só um estilo musical, é uma cultura e uma forma de estar na vida sem inveja nem vaidade.
Aproveitem o que o Samba vos pode trazer de bom para além de apenas integrar uma Escola.

Obrigado companheiro . Muitas felicidades para ti e tambem para o Trepa

Obrigado pela oportunidade de me exprimir no teu espaço e parabéns pelo teu trabalho