- Nome e idade ?
Bruno Peres. 33 anos.
- Como e quando foi o teu começo no samba?
Os meus pais estão ligados ao carnaval da Mealhada desde o início, sendo o meu pai um dos fundadores.
A minha mãe diz que eu comecei aos 2 anos a desfilar no grupo “O Cleto”, que mais tarde viria a dar origem ao “Batuque”.
Os ensaios do Batuque nos primeiros anos eram na adega do meu pai e eu fazia questão de assistir.
Com os da minha geração, fundei a primitiva Escola de Samba Juventude de Paquetá pois não podia tocar no “Batuque” por ser muito novo. Mas dada a tradição familiar e as ligações fortes à génese do Batuque rapidamente integrei o conjunto de ritmistas da minha escola.
- Como foi o teu trajecto até hoje no samba?
Foi natural. Para além de ter tido sempre presença assídua na bateria do Batuque, sempre com uma atitude de autodidacta de quem gosta verdadeiramente de algo, pertenci, também, durante mais de uma dúzia de anos, ao Grupo Sambalele com quem tive a oportunidade e o prazer de desenvolver os meus conhecimentos como ritmista, os meus conhecimentos como sambista e o gosto por esta arte.
Por agora, e devido aos meus compromissos pessoais e profissionais, apenas tenho tempo para participar no carnaval do Batuque.
- Que representa para ti a responsabilidade de seres director (mestre) de bateria do Batuque ?
Não é nenhuma responsabilidade especial. A forma como encaro todos os desafios a que me proponho, conjugados com o trabalho que venho desempenhando na Escola, tornam a responsabilidade um prazer!
- É muita responsabilidade estar à frente de uma bateria que vem vencendo consecutivamente o prémio para a melhor bateria do Carnaval da Mealhada. Como vês o actual momento da bateria do Batuque e como sentes esse desafio de a manter vencedora ?
Devo corrigir-te pois no Carnaval da Mealhada não há qualquer prémio para a melhor Bateria do Carnaval. Julgo que esse reconhecimento vem do facto de termos sido a Escola que tem conseguido as notas mais altas no quesito Bateria que é apenas um dos dez quesitos em avaliação no concurso de Escolas de Samba do Jornal da Mealhada.
A bateria do Batuque está numa fase normal. O nosso desafio é sempre tentar atingir a nota 10 e com isso garantir que, por nós, a Escola pode sair campeã.Só uma vez conseguimos alcançar a nota 10, não é fácil, mas trabalhamos para isso..
- Que ideias e objectivos para a bateria a curto e a médio prazo?
A médio prazo é, seguramente, criar condições para que a Bateria do Batuque atinja a nota máxima no respectivo quesito.
Tal objectivo só é possível se conseguirmos manter um clima de amizade e companheirismo, aliados a um espírito de exigência e respeito pela instituição GRES Batuque.
Só definindo um plano de formação adequado e incutindo o gosto pelo samba nos ritmistas poderemos, a médio prazo, manter a qualidade. Nada se faz sem trabalho árduo.
No curto prazo os objectivos são os do costume: preparar o próximo carnaval de forma a continuarmos a ter uma boa nota no quesito pelo qual somos responsáveis. Para além deste, queremos também continuar a ser a melhor bateria em desfile, aquela que “bate” para a Escola. Gosto de pensar que preparamos os nossos ritmistas para, durante o desfile, não terem dores, não terem bolhas nas mãos, não sentirem cansaço, não sentirem necessidades fisiológicas e não pensarem noutra coisa que não seja proporcionar uma base rítmica muito boa e um clima de alegria para os outros integrantes e para o público que paga para ver o Carnaval da Mealhada. E isto tudo apenas pelo prazer de pertencer a este grupo: ao GRES Batuque.
- Que caracteristicas mais gostas de ver em uma bateria?
Sem dúvida que a característica que mais me agrada é ver uma bateria que “bate” para a Escola. Que consegue passar a emoção para o desfile, para os outros integrantes, para o público!
Também me agrada muito saber que uma bateria mantém a cadência durante todo o desfile.
- Tens alguma figura como idolo no samba ou que te sirva de inspiração?
Não sou uma pessoa de idolatrar ou de gostar de ser idolatrado. Claro que tenho algumas pessoas cujo trabalho, dedicação e resultados no samba me nutrem especial simpatia.
Gosto particularmente da música de Zeca Pagodinho, Dudu Nobre e Fundo de Quintal; Do empenho e lealdade de Neguinho da Beija-flor pela sua (nossa) Escola, da voz de Dominguinhos do Estácio, Quinho e Wantuir; Das baterias do mestre Ciça e da Beija-flor.
- Quais as maiores dificuldades que encontras para a realização do trabalho que pretendem na bateria?
Captar a atenção dos elementos da bateria e fazer com que percebam que, para progredirem como ritmistas, têm que desenvolver uma atitude proact
iva, ouvir muito samba, tocar muito fora dos ensaios, batucar nas pernas, no prato, na secretária e no pires do café, aprender a tocar mais do que um instrumento e dedicar-se a esta forma de intervenção cívica e social de forma apaixonada.
As actividades concorrentes são muitas e nem sempre é fácil obter a dedicação necessária para se passar para além do nível em que nos encontramos.
Também tem sido muito difícil motivar os elementos para se mobilizarem fora da época do Carnaval, numa altura em que se pode trabalhar com outra calma e com objectivos mais específicos que promovam a qualidade, o desenvolvimento pessoal e a versatilidade da bateria.
- Como tens visto a evolução das escolas de samba na Mealhada?
É indubitável que evoluíram positivamente a todos os níveis, desde há uns anos, especialmente desde que começou o concurso de escolas de samba. Obviamente que umas têm evoluído mais do que outras.
Temos três escolas praticamente ao mesmo nível e duas que podem vir a melhorar muito rapidamente.
- E o Carnaval da Mealhada como tem evoluído?
Tem evoluído com as Escolas de Samba. Está mais organizado, mais maduro, embora talvez demasiado dependente da participação das Escolas. Estas, por sua vez, têm pouca noção de espectáculo e de que o objectivo principal é proporcionar espectacularidade ao público pagante. Estão muito fechadas em si próprias e demasiado preocupadas em atingir objectivos internos.
Apesar disso penso que a Associação de Carnaval da Bairrada (ACB) pode começar a pensar em novas formas de fazer evoluir o evento pois sabe que agora tem, nas Escolas, uma base sustentável.
No entanto, o concelho é pequeno e não será fácil suscitar a organização de grupos de crítica político-social (tão valorizados pelo povo) ou outro tipos de grupos. É necessário fazer uma reflexão sobre esse assunto e procurar soluções. Talvez investindo no evento como um activo regional pudéssemos contar com a colaboração mais sistemática das pessoas e das entidades dos concelhos limítrofes.
- A nivel nacional como tens visto a evolução das baterias e qual é para ti a melhor ou as melhores (mais evoluídas)?
Temos claramente uma boa meia dúzia de baterias que são de “primeira divisão” e que não envergonhariam se tocassem no Brasil! Quando o Batuque começou o Festival de Samba, em 1995, um dos grandes encontros do samba em Portugal nesse tempo, não poderíamos dizer a mesma coisa.
A Bateria da Charanguinha é, indiscutivelmente, uma referência em Portugal, pelo trabalho que tem desenvolvido ao longo de todos estes anos. A da Trepa Coqueiro e Vai Quem Quer também têm apresentado, consistentemente, boa qualidade.
- Actualmente existe alguma rivalidade desnecessaria na Mealhada. Como analisas a situação e que solução vês para isso?
Sinceramente não me parece que haja rivalidade desnecessária. Mas se calhar é por eu não ligar muito a essas coisas…
Só devemos dar importância aos assuntos que realmente interessam para benefício das Escolas e do Carnaval da Mealhada.
- Qual a postura do Batuque para que seja possível uma maior cordialidade entre todas as escolas?
O Batuque enquanto instituição sempre teve relações cordiais com as outras escolas (exceptuando talvez um ou outro episódio pontual).
O que faz falta às Escolas não é só manterem relações cordiais, mas principalmente entenderem-se relativamente aos assuntos principais do Carnaval da Mealhada. Faz falta que as Escolas olhem além dos seus interesses, muitas vezes mesquinhos e personalizados, dos seus dirigentes, e percebam que foram crescendo porque existe Carnaval da Mealhada. Têm de perceber que devem defender o evento a uma só voz. Promover a sua projecção municipal, regional e Nacional.
As Escolas deveriam, de uma vez por todas, organizarem-se para passar a mensagem de que o trabalho que fazem na comunidade também é cultura, investirem na credibilização do Carnaval, e promoverem a noção de que o Carnaval da Mealhada é um produto de excelência no panorama nacional, a par do leitão, do vinho e do pão.
Tenho pena que os responsáveis pela cultura do nosso município, com algum preconceito, encarem as Escolas de Samba associações de segunda categoria.
- Em Portugal como vês também o estado actual do samba e dos sambistas?
Tenho andado um pouco arredado do panorama nacional nos últimos dois anos.
Os festivais das Escolas foram e são muito importantes para promoverem a mobilidade regional e o conhecimento do trabalho dos outros. Esse afastamento do “pólo” do Norte (Mealhada, Estarreja e Ovar) ao do Sul (Sesimbra, etc) é algo que me preocupa. Talvez uma concertação entre as escolas relativamente ao calendário dos festivais fosse uma boa ideia. Se calhar valeria a pena, dadas as restrições financeiras que sempre temos, diminuir o número de festivais por ano, mas aumentar a dimensão e notoriedade dos eventos de forma geograficamente rotativa.
Tenho também notado, com algum contentamento, a vinda de boas bandas e grupos de samba a Portugal o que ajuda sempre a promover este género musical.
- Quais as escolas que para ti mais têm evoluído ou mais te têm impressionado?
Tenho assistido a boas surpresas das Escolas da Figueira e, aqui na Mealhada, à ascensão meteórica dos Amigos da Tijuca!
- Que gostarias de ver acontecer no samba em Portugal?
Um intercâmbio sistemát
ico e organizado com escolas do Brasil para a promoção de Workshops e formação de ritmistas e de outras funções necessárias no seio das escolas de Samba (MS e PB, Directores de desfile, carnavalescos), passando obviamente por formação em instrumentos de harmonia (cavaco, banjo, violão de 7, etc).
- Concordas com os critérios usados no Concurso Nacional de Samba de Estarreja?
Infelizmente nunca tive oportunidade de assistir a esse desfile. Nunca percebi muito bem o objectivo do evento. Pelo que conheço do regulamento (de o ter lido) só julgo verdadeiramente absurdo o quesito Madrinha da Bateria. Na minha opinião, esta passista não é mais do que um destaque da Escola de Samba (na perspectiva do público). Sabemos que, para nós, integrantes de uma Escola e ritmistas dessa bateria, essa pessoa representa muito mais do que isso. Mas nestas coisas eu gosto de me colocar na perspectiva do espectador, aquele que paga o bilhete para ver o espectáculo e que é, por natureza, o verdadeiro jurado.
Também considero que é muito difícil um jurado ser eficaz avaliando simultaneamente todos os quesitos.
Fui e sou um dos responsáveis pela promoção do concurso das Escolas de Samba do Carnaval da Mealhada que irá para a quinta edição. A experiência diz-me que uma boa avaliação advém de um número razoável de jurados, desligados o mais possível das escolas, a avaliarem o menor número de questões específicas (um quesito).
Quanto ao resto… são critérios.
- Como seria para ti um concurso mais credível?
O samba está inventado e não fomos nós que o inventámos. Os melhores (as escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro) têm um modelo de concurso estável e amplamente testado. Parece-me o mais adequado, com necessárias adaptações à realidade das Escolas portuguesas.
Uma avaliação é sempre um exercício subjectivo mas não é impossível. Cabe pois aos seus promotores adoptar estratégias que minimizem essa subjectividade. É assim que se tem trabalhado na Mealhada, junto com o Jornal da Mealhada (www.jornaldamealhada.com), e temos conseguido bons resultados!
Para além disso os resultados de tal exercício devem ser lidos como oportunidades de evolução e aperfeiçoamento.
- Qual a tua opinião sobre o concurso de Baterias que se irá realizar em Fevereiro na Mealhada e o porquê da bateria do Batuque não participar?
Trata-se de uma iniciativa de uma empresa privada (um bar) visando obter dinâmica comercial, (o que é natural). A bateria do Batuque não vai participar porque a Direcção da Escola assim o decidiu. Não cometo nenhuma inconfidência se disser que foi por não perceberem os objectivos de tal evento e de que modo favorece o Carnaval da Mealhada.
Para além disso já temos um concurso de Escolas de Samba, com objectivos bem definidos e pelo qual o Batuque tem lutado. Apesar de estar em fase de afirmação, no ano passado o concurso teve o apoio oficial de todos os intervenientes, Escolas e ACB. Se ainda estamos a implementar um concurso mais abrangente, mais próximo do ideal, julgo não fazer sentido dividir esforços e desviar atenções desta missão.
- Quantos elementos compõem actualmente a bateria do Batuque?
É uma pergunta a que eu nunca sei responder. Desde que aceitei a responsabilidade de orientar a bateria (e já lá vão alguns anos!) defini como lema que “só trabalho com os que cá estão”.
Julgo que em todas as escolas será semelhante: temos um grupo base de cerca de 20 elementos a que se juntam, nos ensaios específicos para o carnaval, aproximadamente mais 20 a 25.
- Algumas novidades para o proximo Carnaval?
Relativamente à bateria não prevemos nada de especial. Como já perceberam não sou apologista de grandes aventuras na avenida! Bater certinho para a Escola e transmitir toda a nossa energia, garra e alegria são os nossos principais objectivos!
Mas temos um grupo de ritmistas bom! Sentir-me-ei confortável se me apetecer preparar algo para surpreender o povo batuqueiro e o público do Carnaval da Mealhada.
Venham ver o Carnaval da Mealhada para desfrutarem das surpresas na primeira pessoa!
- Qual foi o teu momento mais marcante (mais feliz) no samba?
Foram muitos!
Posso claramente apontar o desfile de 2009, não só por termos sido campeões, mas por termos feito um desfile irrepreensível, e especialmente por o meu filho, com 2 anos, ter desfilado comigo a pé, fantasiado com um apito e a espaços um tamborim, desde o início até ao fim! É um sentimento muito pessoal e muito especial!
Também guardo com carinho e emoção o privilégio de ter subido a palco e tocado com a madrinha Beth Carvalho (enquanto integrante do Sambalele). Foi também um momento especial o apadrinhamento do Grupo Sambalele pelo Grupo Fundo de Quintal, numa altura em que eu era integrante!
Mas os momentos felizes no samba são os mais pequenos, aquelas rodas de samba perfeitas, os momentos de comunhão desta paixão com outros companheiros.
- Queres deixar algum recado aos sambistas e em particular aos portugueses ?
Dedicação e alegria. Afinal o samba é para nos fazer sentir bem!
Obrigado pela tua disponibilidade para esta pequena conversa de samba.
Aquele abraço e saudações sambistas
Bruno Peres. 33 anos.
- Como e quando foi o teu começo no samba?
Os meus pais estão ligados ao carnaval da Mealhada desde o início, sendo o meu pai um dos fundadores.
A minha mãe diz que eu comecei aos 2 anos a desfilar no grupo “O Cleto”, que mais tarde viria a dar origem ao “Batuque”.
Os ensaios do Batuque nos primeiros anos eram na adega do meu pai e eu fazia questão de assistir.
Com os da minha geração, fundei a primitiva Escola de Samba Juventude de Paquetá pois não podia tocar no “Batuque” por ser muito novo. Mas dada a tradição familiar e as ligações fortes à génese do Batuque rapidamente integrei o conjunto de ritmistas da minha escola.
- Como foi o teu trajecto até hoje no samba?
Foi natural. Para além de ter tido sempre presença assídua na bateria do Batuque, sempre com uma atitude de autodidacta de quem gosta verdadeiramente de algo, pertenci, também, durante mais de uma dúzia de anos, ao Grupo Sambalele com quem tive a oportunidade e o prazer de desenvolver os meus conhecimentos como ritmista, os meus conhecimentos como sambista e o gosto por esta arte.
Por agora, e devido aos meus compromissos pessoais e profissionais, apenas tenho tempo para participar no carnaval do Batuque.
- Que representa para ti a responsabilidade de seres director (mestre) de bateria do Batuque ?
Não é nenhuma responsabilidade especial. A forma como encaro todos os desafios a que me proponho, conjugados com o trabalho que venho desempenhando na Escola, tornam a responsabilidade um prazer!
- É muita responsabilidade estar à frente de uma bateria que vem vencendo consecutivamente o prémio para a melhor bateria do Carnaval da Mealhada. Como vês o actual momento da bateria do Batuque e como sentes esse desafio de a manter vencedora ?
Devo corrigir-te pois no Carnaval da Mealhada não há qualquer prémio para a melhor Bateria do Carnaval. Julgo que esse reconhecimento vem do facto de termos sido a Escola que tem conseguido as notas mais altas no quesito Bateria que é apenas um dos dez quesitos em avaliação no concurso de Escolas de Samba do Jornal da Mealhada.
A bateria do Batuque está numa fase normal. O nosso desafio é sempre tentar atingir a nota 10 e com isso garantir que, por nós, a Escola pode sair campeã.Só uma vez conseguimos alcançar a nota 10, não é fácil, mas trabalhamos para isso..
- Que ideias e objectivos para a bateria a curto e a médio prazo?
A médio prazo é, seguramente, criar condições para que a Bateria do Batuque atinja a nota máxima no respectivo quesito.
Tal objectivo só é possível se conseguirmos manter um clima de amizade e companheirismo, aliados a um espírito de exigência e respeito pela instituição GRES Batuque.
Só definindo um plano de formação adequado e incutindo o gosto pelo samba nos ritmistas poderemos, a médio prazo, manter a qualidade. Nada se faz sem trabalho árduo.
No curto prazo os objectivos são os do costume: preparar o próximo carnaval de forma a continuarmos a ter uma boa nota no quesito pelo qual somos responsáveis. Para além deste, queremos também continuar a ser a melhor bateria em desfile, aquela que “bate” para a Escola. Gosto de pensar que preparamos os nossos ritmistas para, durante o desfile, não terem dores, não terem bolhas nas mãos, não sentirem cansaço, não sentirem necessidades fisiológicas e não pensarem noutra coisa que não seja proporcionar uma base rítmica muito boa e um clima de alegria para os outros integrantes e para o público que paga para ver o Carnaval da Mealhada. E isto tudo apenas pelo prazer de pertencer a este grupo: ao GRES Batuque.
- Que caracteristicas mais gostas de ver em uma bateria?
Sem dúvida que a característica que mais me agrada é ver uma bateria que “bate” para a Escola. Que consegue passar a emoção para o desfile, para os outros integrantes, para o público!
Também me agrada muito saber que uma bateria mantém a cadência durante todo o desfile.
- Tens alguma figura como idolo no samba ou que te sirva de inspiração?
Não sou uma pessoa de idolatrar ou de gostar de ser idolatrado. Claro que tenho algumas pessoas cujo trabalho, dedicação e resultados no samba me nutrem especial simpatia.
Gosto particularmente da música de Zeca Pagodinho, Dudu Nobre e Fundo de Quintal; Do empenho e lealdade de Neguinho da Beija-flor pela sua (nossa) Escola, da voz de Dominguinhos do Estácio, Quinho e Wantuir; Das baterias do mestre Ciça e da Beija-flor.
- Quais as maiores dificuldades que encontras para a realização do trabalho que pretendem na bateria?
Captar a atenção dos elementos da bateria e fazer com que percebam que, para progredirem como ritmistas, têm que desenvolver uma atitude proact
As actividades concorrentes são muitas e nem sempre é fácil obter a dedicação necessária para se passar para além do nível em que nos encontramos.
Também tem sido muito difícil motivar os elementos para se mobilizarem fora da época do Carnaval, numa altura em que se pode trabalhar com outra calma e com objectivos mais específicos que promovam a qualidade, o desenvolvimento pessoal e a versatilidade da bateria.
- Como tens visto a evolução das escolas de samba na Mealhada?
É indubitável que evoluíram positivamente a todos os níveis, desde há uns anos, especialmente desde que começou o concurso de escolas de samba. Obviamente que umas têm evoluído mais do que outras.
Temos três escolas praticamente ao mesmo nível e duas que podem vir a melhorar muito rapidamente.
- E o Carnaval da Mealhada como tem evoluído?
Tem evoluído com as Escolas de Samba. Está mais organizado, mais maduro, embora talvez demasiado dependente da participação das Escolas. Estas, por sua vez, têm pouca noção de espectáculo e de que o objectivo principal é proporcionar espectacularidade ao público pagante. Estão muito fechadas em si próprias e demasiado preocupadas em atingir objectivos internos.
Apesar disso penso que a Associação de Carnaval da Bairrada (ACB) pode começar a pensar em novas formas de fazer evoluir o evento pois sabe que agora tem, nas Escolas, uma base sustentável.
No entanto, o concelho é pequeno e não será fácil suscitar a organização de grupos de crítica político-social (tão valorizados pelo povo) ou outro tipos de grupos. É necessário fazer uma reflexão sobre esse assunto e procurar soluções. Talvez investindo no evento como um activo regional pudéssemos contar com a colaboração mais sistemática das pessoas e das entidades dos concelhos limítrofes.
- A nivel nacional como tens visto a evolução das baterias e qual é para ti a melhor ou as melhores (mais evoluídas)?
Temos claramente uma boa meia dúzia de baterias que são de “primeira divisão” e que não envergonhariam se tocassem no Brasil! Quando o Batuque começou o Festival de Samba, em 1995, um dos grandes encontros do samba em Portugal nesse tempo, não poderíamos dizer a mesma coisa.
A Bateria da Charanguinha é, indiscutivelmente, uma referência em Portugal, pelo trabalho que tem desenvolvido ao longo de todos estes anos. A da Trepa Coqueiro e Vai Quem Quer também têm apresentado, consistentemente, boa qualidade.
- Actualmente existe alguma rivalidade desnecessaria na Mealhada. Como analisas a situação e que solução vês para isso?
Sinceramente não me parece que haja rivalidade desnecessária. Mas se calhar é por eu não ligar muito a essas coisas…
Só devemos dar importância aos assuntos que realmente interessam para benefício das Escolas e do Carnaval da Mealhada.
- Qual a postura do Batuque para que seja possível uma maior cordialidade entre todas as escolas?
O Batuque enquanto instituição sempre teve relações cordiais com as outras escolas (exceptuando talvez um ou outro episódio pontual).
O que faz falta às Escolas não é só manterem relações cordiais, mas principalmente entenderem-se relativamente aos assuntos principais do Carnaval da Mealhada. Faz falta que as Escolas olhem além dos seus interesses, muitas vezes mesquinhos e personalizados, dos seus dirigentes, e percebam que foram crescendo porque existe Carnaval da Mealhada. Têm de perceber que devem defender o evento a uma só voz. Promover a sua projecção municipal, regional e Nacional.
As Escolas deveriam, de uma vez por todas, organizarem-se para passar a mensagem de que o trabalho que fazem na comunidade também é cultura, investirem na credibilização do Carnaval, e promoverem a noção de que o Carnaval da Mealhada é um produto de excelência no panorama nacional, a par do leitão, do vinho e do pão.
Tenho pena que os responsáveis pela cultura do nosso município, com algum preconceito, encarem as Escolas de Samba associações de segunda categoria.
- Em Portugal como vês também o estado actual do samba e dos sambistas?
Tenho andado um pouco arredado do panorama nacional nos últimos dois anos.
Os festivais das Escolas foram e são muito importantes para promoverem a mobilidade regional e o conhecimento do trabalho dos outros. Esse afastamento do “pólo” do Norte (Mealhada, Estarreja e Ovar) ao do Sul (Sesimbra, etc) é algo que me preocupa. Talvez uma concertação entre as escolas relativamente ao calendário dos festivais fosse uma boa ideia. Se calhar valeria a pena, dadas as restrições financeiras que sempre temos, diminuir o número de festivais por ano, mas aumentar a dimensão e notoriedade dos eventos de forma geograficamente rotativa.
Tenho também notado, com algum contentamento, a vinda de boas bandas e grupos de samba a Portugal o que ajuda sempre a promover este género musical.
- Quais as escolas que para ti mais têm evoluído ou mais te têm impressionado?
Tenho assistido a boas surpresas das Escolas da Figueira e, aqui na Mealhada, à ascensão meteórica dos Amigos da Tijuca!
- Que gostarias de ver acontecer no samba em Portugal?
Um intercâmbio sistemát
- Concordas com os critérios usados no Concurso Nacional de Samba de Estarreja?
Infelizmente nunca tive oportunidade de assistir a esse desfile. Nunca percebi muito bem o objectivo do evento. Pelo que conheço do regulamento (de o ter lido) só julgo verdadeiramente absurdo o quesito Madrinha da Bateria. Na minha opinião, esta passista não é mais do que um destaque da Escola de Samba (na perspectiva do público). Sabemos que, para nós, integrantes de uma Escola e ritmistas dessa bateria, essa pessoa representa muito mais do que isso. Mas nestas coisas eu gosto de me colocar na perspectiva do espectador, aquele que paga o bilhete para ver o espectáculo e que é, por natureza, o verdadeiro jurado.
Também considero que é muito difícil um jurado ser eficaz avaliando simultaneamente todos os quesitos.
Fui e sou um dos responsáveis pela promoção do concurso das Escolas de Samba do Carnaval da Mealhada que irá para a quinta edição. A experiência diz-me que uma boa avaliação advém de um número razoável de jurados, desligados o mais possível das escolas, a avaliarem o menor número de questões específicas (um quesito).
Quanto ao resto… são critérios.
- Como seria para ti um concurso mais credível?
O samba está inventado e não fomos nós que o inventámos. Os melhores (as escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro) têm um modelo de concurso estável e amplamente testado. Parece-me o mais adequado, com necessárias adaptações à realidade das Escolas portuguesas.
Uma avaliação é sempre um exercício subjectivo mas não é impossível. Cabe pois aos seus promotores adoptar estratégias que minimizem essa subjectividade. É assim que se tem trabalhado na Mealhada, junto com o Jornal da Mealhada (www.jornaldamealhada.com), e temos conseguido bons resultados!
Para além disso os resultados de tal exercício devem ser lidos como oportunidades de evolução e aperfeiçoamento.
- Qual a tua opinião sobre o concurso de Baterias que se irá realizar em Fevereiro na Mealhada e o porquê da bateria do Batuque não participar?
Trata-se de uma iniciativa de uma empresa privada (um bar) visando obter dinâmica comercial, (o que é natural). A bateria do Batuque não vai participar porque a Direcção da Escola assim o decidiu. Não cometo nenhuma inconfidência se disser que foi por não perceberem os objectivos de tal evento e de que modo favorece o Carnaval da Mealhada.
Para além disso já temos um concurso de Escolas de Samba, com objectivos bem definidos e pelo qual o Batuque tem lutado. Apesar de estar em fase de afirmação, no ano passado o concurso teve o apoio oficial de todos os intervenientes, Escolas e ACB. Se ainda estamos a implementar um concurso mais abrangente, mais próximo do ideal, julgo não fazer sentido dividir esforços e desviar atenções desta missão.
- Quantos elementos compõem actualmente a bateria do Batuque?
É uma pergunta a que eu nunca sei responder. Desde que aceitei a responsabilidade de orientar a bateria (e já lá vão alguns anos!) defini como lema que “só trabalho com os que cá estão”.
Julgo que em todas as escolas será semelhante: temos um grupo base de cerca de 20 elementos a que se juntam, nos ensaios específicos para o carnaval, aproximadamente mais 20 a 25.
- Algumas novidades para o proximo Carnaval?
Relativamente à bateria não prevemos nada de especial. Como já perceberam não sou apologista de grandes aventuras na avenida! Bater certinho para a Escola e transmitir toda a nossa energia, garra e alegria são os nossos principais objectivos!
Mas temos um grupo de ritmistas bom! Sentir-me-ei confortável se me apetecer preparar algo para surpreender o povo batuqueiro e o público do Carnaval da Mealhada.
Venham ver o Carnaval da Mealhada para desfrutarem das surpresas na primeira pessoa!
- Qual foi o teu momento mais marcante (mais feliz) no samba?
Foram muitos!
Posso claramente apontar o desfile de 2009, não só por termos sido campeões, mas por termos feito um desfile irrepreensível, e especialmente por o meu filho, com 2 anos, ter desfilado comigo a pé, fantasiado com um apito e a espaços um tamborim, desde o início até ao fim! É um sentimento muito pessoal e muito especial!
Também guardo com carinho e emoção o privilégio de ter subido a palco e tocado com a madrinha Beth Carvalho (enquanto integrante do Sambalele). Foi também um momento especial o apadrinhamento do Grupo Sambalele pelo Grupo Fundo de Quintal, numa altura em que eu era integrante!
Mas os momentos felizes no samba são os mais pequenos, aquelas rodas de samba perfeitas, os momentos de comunhão desta paixão com outros companheiros.
- Queres deixar algum recado aos sambistas e em particular aos portugueses ?
Dedicação e alegria. Afinal o samba é para nos fazer sentir bem!
Obrigado pela tua disponibilidade para esta pequena conversa de samba.
Aquele abraço e saudações sambistas