ENTREVISTA COM LUCINDA SIMÔES- PORTA-BANDEIRA DO GRES BOTA no REGO- SESIMBRA
Obrigado pela tua disponibilidade para esta pequena conversa de sam
ba.
- Idade e profissão ?
- Tenho 42 Anos e sou Assistente Operacional.
- Como foi o inicio desse teu amor pelo samba e em particular por escolas de samba ?
- O inicio desta paixão começou muito cedo, ainda muito pequena já tinha uma grande admiração pelo trabalho apresentado pelas primeiras escolas de samba de Sesimbra, como por exemplo o Ginga no Pandeiro, nesta altura a nível musical, ainda não havia os conhecimentos de hoje em relação aos sambas, as nossas escolas saiam ao ritmo das marchas de carnaval. Ainda demorou algum tempo até eu fazer parte deste universo.
-Qual o teu trajecto como sambista até ao momento actual ?
- Em 1980 como desfilante passei a fazer parte da Escola de Samba Sambinhas No Horizonte, hoje uma das escolas já extintas em Sesimbra, aqui aprendi muito com grandes senhoras, como a Dª Elvira, a Dª Florinda, a Dª Fernanda, entre outras, elas é que me ensinaram a elaborar os trabalhos das minhas primeiras fantasias e lá está, ao som das marchas carnavalescas já se apresentavam grandes desfiles. Estive nesta instituição até 1985 onde neste carnaval pela primeira vez, tive o prazer e a honra de enveredar pela primeira vez o estandarte de uma escola de samba, embora na altura as coisas não tivessem a importância que hoje se lhe conferem, foi para mim um desfile fabuloso e com muito significado, apesar de eu ser ainda muito jovem. Por motivos familiares a minha primeira ingressão no mundo do samba terminou por aqui, pois fui viver para a Ilha de S. Miguel e não me era possível desfilar, mas vim sempre passar o carnaval à minha terra, dois anos depois, após o meu regresso a Sesimbra em 1987, voltei a fazer parte da minha escola de samba através da minha ajuda na elaboração das fantasias da minha irmã mais nova e também na ala de apoio nos dias dos desfiles. Entretanto algumas coisas foram mudando e a minha irmã passou a ser sócia de uma outra escola de samba, o Grupo Recreativo Escola de Samba Trepa no Coqueiro, comecei primeiro por ajudar nos trabalhos, e finalmente no carnaval de 1993 voltei a participar como componente de uma ala, foi um regresso fantástico, senti uma grande emoção ao desfilar novamente na nossa avenida, em 1994 foi-me feito o convite para ser Porta Bandeira, posso dizer que fui totalmente apanhada de surpresa, pois não estava nada a pensar voltar a ocupar um lugar de tal responsabilidade, mas depois a ideia tornou-se numa história muito bonita, pois o meu Mestre de Sala seria o meu irmão mais velho, de facto acabou por ser um carnaval inesquecível, com muito trabalho, primeiro visualizamos alguns vídeos, depois com alguns ensaios e com a ajuda do nosso amigo Paulo Macedo, demos o nosso melhor.
Em 1995 não houve desfile de Carnaval em Sesimbra em homenagem à tragédia do barco de pesca “Menino de Deus”, mas nós Trepa no Coqueiro desfilamos em Almeirim, onde representei a minha escola como Porta Bandeira, em 1996, 1997 fui novamente Porta Bandeira com o meu irmão, como meu Mestre Sala, em 1998 voltei a enveredar a bandeira mas desta feita com outro Mestre Sala Fernando Soromenho, que se estreou nesse ano, no carnaval 1999 decidi voltar a desfilar como componente de uma ala.
No final de 1999 passei a fazer parte da instituição Grupo Recreativo Escola de Samba Bota no Rego, inscrevi-me como componente de ala para o carnaval de 2000, a convite da direcção decidi aceitar assumir o lugar de Porta Bandeira, desta feita com o Mestre Sala Fernando Sebastião, sem entrar em grandes pormenores, posso dizer que foi uma honra e um desfile muito especial, no ano 2001 nas Bodas de Prata do G.R.E.S. Bota no Rego, voltei a desfilar como Porta Bandeira e novamente com a estreia de um Mestre Sala Ricardo Soares, em 2002 tive o prazer de realizar outro pequeno sonho, fazer parte da ala de bateria, depois de muito trabalho e ensaios desfilei na ala das cuicas, foi uma experiencia muito rica, especialmente quando participei nos espectáculos de palco, em 2003 eis que voltei ao meu lugar de eleição, Porta Bandeira, em 2004 decidi novamente conquistar outro sonho, pertencer a ala de compositores da minha escola, decidi concorrer, trabalhei bastante e consegui entrar, foi um orgulho muito grande, em 2005 voltei a fazer parte da ala de compositores, 2006 mais uma nova etapa, concorri a destaque principal de alegoria, foi muito bonito mas não é uma experiencia a repetir, senti uma grande distancia do publico, pessoalmente gosto mais de sentir o contacto mais directo com quem nos está a ver, gosto de poder expressar todo o gosto e prazer pelo trabalho que apresentamos, 2007 e 2008 volto a componente de ala.
Ano de 2009, o bichinho volta a acordar e sentindo que deveria novamente concorrer ao lugar de Porta Bandeira, eis que novamente voltei a erguer o nosso estandarte, com o Mestre Sala Fernando Sebastião, 2010 como Porta Bandeira novamente com o Mestre Sala Fernando Sebastião.
Gostaria também de referir que também aprendi muito a nível institucional no G.R.E.S. Bota no Rego, tendo feito parte de algumas direcções, na Assembleia Geral e na Direcção, assim como sendo elemento participativo em quase todas as iniciativas culturais levadas a cabo pela nossa escola, assim como as Marchas Populares e o Teatro.
Quantos anos de Porta-Bandeira no Gres Bota no Rego ?
- Representei com o maior orgulho e respeito a minha escola, como Porta Bandeira 5 anos, que foram muito importantes para mim.
- Era teu sonho ser Porta Bandeira ? Como foi esse primeiro momento ?
- Tal como já referi no inicio dos nossos desfiles, não havia grande relevância nesses lugares, logo não era um grande sonho quando comecei a desfilar, após a experiencia que vivi ao ser Porta Bandeira no G.R.E.S. Trepa no Coqueiro, ai sim aprendi a sentir a verdadeira beleza que é enveredar o símbolo máximo de uma escola, ser a figura principal de um grupo de pessoas que muito trabalham em prol do resultado apresentado ao publico, só pode ser um sentimento muito intenso, porque quem trabalha sabe o quanto custa colocar uma escola de samba a desfilar na nossa avenida, quem desfila nesta função tem a obrigação de mostrar ao publico que ali está muito de nós, muito da nossa vida, muito da nossa família e acima de tudo transmitir toda alegria e intensidade do nosso trabalho.
- Que mais te agrada ver em uma Porta Bandeira ?
- Para mim uma Porta Bandeira tem que ser feliz, ser simples, ser verdadeira, ser empenhada, ser elegante, ser representativa e acima de tudo levar a sua escola no coração.
- Achas que é dado o devido valor ao cargo mais importante em uma escola de samba ( Mestre-Sala e Porta-Bandeira ) ?
- Nos primeiros anos em Sesimbra as figuras principais de cada escola eram o Rei e a Rainha, depois com a evolução começámos a ter mais conhecimentos qual a composição e orgânica das escolas do Rio de Janeiro, foi-se evoluindo e nos dias já se encara essas personagens com mais relevância, embora ainda muitas pessoas não lhes confira o devido valor.
- Qual frequência ou média de ensaios que realizas com o mestre Sala ?
- Para preparar o nosso trabalho seria bom termos mais tempo disponível, mas como todos sabem, tudo é feito no nosso tempo livre e com família e empregos nem sempre é muito fácil, a frequência dos ensaios também depende do nosso par, se tem mais ou menos experiencia. No caso do meu actual Mestre Sala, tenho que confessar, após a escolha do nosso esquema de apresentação, tivemos muito poucos ensaios, porque além do lugar que representa, ele também ajudou no trabalho de carnavalesco, e claro isso deixa pouco tempo livre para dedicarmos aos ensaios, mas sempre sem descuidar a responsabilidade do nosso trabalho.
-Tens alguma preparação ou cuidados especiais para os desfiles ?
- Sinceramente apenas cuido de estar feliz e viver com a maior intensidade o momento, claro que com alguns pequenos detalhes como a minha saúde, com a alimentação para que não passe mal, maquilhagem e os acessórios de bijutaria.
Quanto à minha fantasia tenho sempre o máximo cuidado, para que tudo esteja perfeito, tento sempre que todo o trabalho seja elaborado por mim, pois é uma das coisas que me dá mais prazer, porque participar nos trabalhos é que nos une e nos faz sentir aquele prazer, que só quem vive o momento sabe o que quero dizer, cuidar para que tudo corra na maior perfeição e possa representar a minha escola na avenida com o maior orgulho.
- Pensas continuar a desempenhar o cargo de Porta Bandeira ainda durante mais alguns anos ?
- Nunca concorri por concorrer, sinto que é isso que quero e vou em frente, assim será até o meu coração sentir e achar que não deixarei a minha escola mal representada, não se trata de considerar um lugar cativo, fico muito feliz quando aparecem novas concorrentes, porque até há poucos anos não era fácil arranjar potenciais Porta Bandeiras, é bom que os jovens comecem a ganhar o gosto por estes lugares que tanto exigem de nós, porque principalmente numa escola como o Bota no rego, que tem por norma bastantes espectáculos, temos ter alguma responsabilidade e disponibilidade.
- Momentos mais felizes no samba até hoje ?
- Momentos felizes, tive muitos por isso estou nisto há tantos anos.
- E os momentos mais difíceis , menos felizes ?
- Momentos infelizes tive outros tantos, mas como não costumo deixar que as coisas negativas me incomodem, dou a volta e logo os momentos felizes superam o que não interessa.
- Como tens visto a evolução das escolas de samba em Sesimbra ?
- Já se nota alguma preocupação em melhorar a apresentação dos trabalhos das nossas escolas, embora considere que ainda há muito mais a fazer, mas considero que cada instituição deve trabalhar da forma que achar melhor, para a sua evolução e crescimento.
- Como tens visto a evolução em toda a sua estrutura das escolas de samba em Portugal ?
- A nível nacional penso que se verifica um melhoramento, especialmente em relação à originalidade das fantasias e aos sambas enredo, através de alguns espectáculos que pude presenciar, nota-se uma melhoria bastante acentuada, mas não tenho conhecimento de causa para referir muito mais.
- E a nível de dança como tens visto essa evolução ?
- A nível da dança nota-se uma evolução muito boa, posso falar em relação á minha escola, por exemplo as passistas tem aprendido bastante nos últimos anos, com novos passos, uma grande variedade de coreografias, mesmo no lugar de outras figuras, como a Porta Bandeira e o Mestre Sala, nota-se uma maior pesquisa sobre o trabalho das escolas do Rio de Janeiro, ouvem-se muito mais sambas e com muitos ensaios a evolução vai-se impondo.
- Quais as Porta Bandeiras que mais admiras ?
- Lucinha Nobre, Selminha Sorriso e gostei muito da estreia da Patrícia Cristina este ano na Tijuca.
-Que mudanças ou evoluções desejava que acontecessem com o Carnaval de Sesimbra e em particular com o desfile das escolas de samba ?
- Em Sesimbra muito ainda há para fazer, precisamos de um local mais apropriado para desfilar ou pelo menos com um pouco melhores condições, especialmente a nível do piso, eu gostava de voltar a desfilar na Avenida, o espectáculo tem uma melhor evolução e quando o tempo resolve estragar a festa, é um menos agreste que desfilar na marginal, embora aceite que desfilar junto ao mar tem a sua magia, mas corremos mais riscos.
- Que gostarias de ver acontecer com o samba em Portugal e em particular com as escolas de samba ?
A nível nacional, penso que se devia realizar mais encontros nacionais, temos muito a aprender uns com os outros, seria importante para divulgar o trabalho realizado pelas diversas escolas do país.
- Mais uma vez obrigado e muitas felicidades.
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ENTREVISTA COM FERNANDO SEBASTIÃO- Mestre -Sala do Gres Bota no Rego
Para começar quero te agradecer pela disponibilidade para esta entrevista e vincar a minha grande admiração pelo sambista que és.
- Fernando qual á tua idade e nome completo ?
Obrigado Guerreiro, pois também te admiro como sambista.
- O meu nome completo é Fernando Miguel Vidal Sebastião e tenho 33 anos.
-Como começaste com a paixão pelo samba e em particular pelas escolas de samba?
- A minha paixão pelo samba e pelas escolas de samba começou muito cedo, por volta dos 5, 6 anos de idade, eu delirava ao ver os desfiles das escolas e grupos pelo Carnaval. Como deves saber nos anos 80 Sesimbra tinha cerca de 15 escolas e outros tantos grupos. Para mim era um regalo ver tanta cor e tanto brilho.
-Qual o teu trajecto como sambista ?
- Em 91 e 92 desfilei na bateria do Bota no Rego, em 93 desfilei como componente de ala tambem no Bota no rego, em 94 desfilei numa escola que já não existe chamada Juventude na Baía, em 95 não houve desfile em Sesimbra por causa do desaparecimento do barco “Menino Deus”. Em 96 por opção decidi não desfilar (e foi das piores decisões que já tomei, espero não voltar a estar de fora a ver o desfile), em 97 desfilei como componente de ala (e chefe de ala) no Bota no Rego, 98, 99 e 2000, desfilei como Mestre-sala do Bota no Rego, em 2001,2002, e 2003, fui esperimentar uma coisa nova que foi a introdução de instrumentos de sopro no desfile da Tripa Cagueira, (como sabes, eu toco Trombone de Varas), embora tenha gostado da experiência, senti a falta do Samba enredo e ainda mais da Fantasia. Para mim, a simples calça e t-shirt não me satisfazia, precisava de mais.
Em 2004 desfilei pela primeira vez no Rio de Janeiro como componente de ala na Portela, em 2005 como era “carnavalesco” dos Saltaricos do Castelo e nesse ano o Mestre-sala da escola iria ser operado por altura do carnaval, a direção não tinha ninguém par assumir o cargo, assim, desfilei como mestre-sala dos Saltaricos. 2006 e 2007 desfilei tambem como Mestre-sala mas no Bota no Rego, em 2008 voltei ao Rio de Janeiro desfilando desta vez pela São Clemente e novamente pela Portela(milha escola de eleição), em ambas como componente de ala, em 2009 e 2010 desfilei como Mestre-sala do Bota no Rego. Como ves já é um percurso longo e com várias experiências.
- Quando começaste também a ter o gosto e vontade de te dedicares a fazer desenhos de fantasias para Carnaval bem como idéias e pesquisas de enredos e com isso tens contribuido em equipe para feitura dos Carnavais do Gres Bota no Rego ?
- Comecei a ter o gosto por criar fantasias, logo no primeiro ano que desfilei. Tentava imitar os desenhos das fantasias do Bota, que em 91 foram feitos pela Vanda Carapinha, que já não se encontra entre nós. Primeiramente desenhava fantasias isoladas, mas quando vi a transmissão do Carnaval do Rio pela TV, verifiquei que o desfile contava uma história, e que as fantasias não estavam no enredo apenas por estarem, tinham um sentido na sua concepção plástica para contar essa mesma história. Nesse ano fiquei apaixonado pelo desfile da Mocidade, que foi campeã com o enredo “Chuê... Chuá... As águas vão rolar” do Renato Lage. A partir daí, comecei a criar os enredos, a fazer as pesquisas e a desenvolver as fantasias dentro do contexto do enredo.
A primeira escola para qual desenvolvi um enredo foi uma escola que referi em cima e que já não existe que era a Juventude na Baia, acho que foi uma opção arriscada por parte dos dirigentes dessa escola, pois na altura tinha 15 anos e não tinha esperiência nenhuma na elaboração de enredos e muito pouca na elaboração das fantasias, como é lógico um enredo em 93 não é nada comparado com os enredos da actualidade, mas para mim foi um grande voto de confiança dessas pessoas.
Ao longo dos anos fui aprefeiçoando a forma de trabalhar, e principalmente aprendendo muito com outros “carnavalescos”, e neste caso ressalvo o Paulo Macedo, porque ajudou-me sempre que necessitava, nunca se negando a dar uma mãozinha amiga para que o meu trabalho fosse sempre o melhor possivel.
No final da década de 90 fui “Carnavalesco” no Bota no Rego, 2004 e 2008 fui “Carnavalesco” dos Saltaricos do Castelo, e em 2006, 2007 e 2009 e 2010 fiz parte da equipe de “Carnavalescos” do Bota no Rego. Actualmente trabalho tambem em equipe com a Marta Andrade (que aproveito para enviar um grande abraço) para o Bota no Rego. Desenvolvemos em conjunto o enredo, elaborando a Sinopse e o Roteiro, bem como as Fantasias. Esse trabalho de criação é feito em conjunto,e tudo é discutido entre os dois, depois para a confecção das fantasias eu dedico-me aos arames, e a Marta a decoração, embora estejamos sempre em contacto e a pedir opiniões sobre o nosso trabalho. Este trabalho só é possível pois acima de tudo somos grandes amigos e respeitamo-nos um ao outro, penso que se não houvesse esse sentimento mútuo o trabalho não resultava. É o chamado trabalho a duas cabeças e quatro mãos.
- Como tem sido a experiencia como mestre-sala do Gres Bota no Rego ?
- Não tenho palavras para descrever, é uma sensação unica, desfilar apresentando a bandeira da nossa escola de coração para o público, poder beija-la, dar a beijar, é indescritivel.
-Em que anos desempenhaste esse cargo ?
- Como disse anteriormente, desempenhei o cargo de Mestre-sala do Bota no Rego em 98, 99, 2000, 2006, 2007, 2009 e 2010, e Mestre-sala dos Saltaricos do Castelo em 2005. A Porta-bandeira que mais vezes me acompanhou foi a Lucinda Simões, que para mim é a melhor Porta-bandeira da actualidade em Sesimbra, é um prazer e uma honra desfilar ao lado desta grande mulher do samba em Sesimbra.
- Onde te tens sentido mais á vontade ? Onde te dá mais prazer ?
- Sinto-me à vontado nos dois cargos, e são prazeres diferentes, como “carnavalesco” (se pode-se chamar a minha pessoa carnavalesco), os trabalhos vão saíndo conforme a imaginação e sendo desenvolvido com a ajuda de todas as pessoas que se envolvem no trabalho da escola, como Mestre-sala, é um trabalho mais individual, e que sobra muito pouco tempo para o preparar, pois quase todo o tempo disponivel é dedicado à elaboração e confecção das fantasias, por esse motivo, quando assumo esta posição opto por desfilar com uma Porta-bandeira com mais esperiência tanto individual como de casal, como é o caso da Lucinda. Nos ultimos anos é ela que prepara toda a parte cénica e coreográfica, eu limito-me a ensaiar (admito que é muito pouco) aquilo que ela idealizou.
- Quais os teus Carnavalescos preferidos e que estilo de Carnaval mais gostas ?
- Não tenho um estilo definido, mas gosto pricipalmente de inovação, de apresentar coisas novas e diferentes, por isso adoro a genialidade do Joãozinho 30 e do Paulo Barros, da originalidade e do colorido de Fernando Pinto, e da perfeição de trabalho e acabamento quer de fantasias quer de alegorias do Renato Lage.Gosto muito tambem dos excelentes enredos desenvolvidos pelo Milton Cunha, embora depois o ache fraco no desenvolvimento plástico do enredo.
- E quais os mestre -sala ou casais de mestre-sala /porta-bandeira que mais admiras ?
- Sem qualquer dúvida os casais Selminha Sorrizo/Claudinho da Baija-Flor, Lucinha Nobre/Rogerinho da Portela, e Giovanna/Marquinhos da Unidos da Tijuca. Perco horas a ver videos destes casais.
- Qual o teu momento mais feliz no samba ?
- Tenho vários, mas destaco três, todas as vezes que vejo o meu trabalho de meses realizado na avenida, todas as vezes que assumo o cargo de Mestre-sala do Bota no Rego, e as duas vezes que cruzei a Marques de Sapucaí pela minha querida Portela. Em todos estes momentos choro de emoção.
- Qual o mais triste...menos feliz ?
- Não gosto mesmo nada de recordar, mas o ano em que decidi não desfilar foi para mim dos piores momentos que já vivi, também fico muito triste quando já muito próximo do final, sinto falta de apoio de algumas pessoas que julgava que estavam para me ajudar, e nos momentos mais difíceis elas faltam. Mas para este caso, parece que estas atitudes ainda me dão mais energia para levar a bom porto o trabalho a que me propus.
- Que mais gostarias de seguir...... mestre-sala ou Carnavalesco ?
- Não sei, até porque as duas ao mesmo tempo é um pouco dificil. Nos ultimos anos tenho tido alguma dificuldade para desempenhar a posição de Mestre-sala, como tenho uns quilinhos a mais (rsss), já não tenho a mobilidade que tinha, e a idade já pesa na barriga, juntando às noites mal dormidas durantre meses a fio, quando chega a hora do desfile, se não bebo uns cafés e junto uma boa dose de emoção, não chegava a meio, mas depois de tudo pronto, abro um sorriso e lá vou eu.
Como “carnavalesco”, como é normal , ainda tenho muito a aprender, mas penso que das duas posições que actualmente ocupo será aquela que deverei aguentar mais tempo.
- Já tens tido algumas experiencias no Rio de Janeiro conta p`ra gente como foi e como te sentiste?
- Em 2004 quando fui ao Rio pela primeira vez, estive lá apenas 10 dias, cheguei dois dias antes de começar a festa e voltei para Portugal no Domingo logo a seguir ao desfile das campeãs, mas fiquei logo apaixonado pela beleza da cidade, o titulo de “Cidade Maravilhosa” acenta-lhe como uma luva. Não deu para conhecer muita coisa, fui ao cristo, à Cinelândia, ao Sahara (como é logico),à ilha de Paquetá e pouco mais pois o tempo foi pouco, nestas andanças estivemos sempre acompanhados pela Dora, que tambem conheces, que é uma senhora Carioca que é uma grande amiga minha e das Escolas de Samba de Sesimbra. Mas desfilar pela primeira vez na Portela, que nesse ano levava a reedição do Samba Enredo “Lendas e Mistérios da Amazónia”, que adoro, embora não concorde com reedições de sambas, foi demais, nesse ano a Portela foi a ultima escola a desfilar no domingo, já era de manhã, estava na concentração e ouço o Gera iniciar o esquenta com o Samba “Portela na Avenida”, não segurei as lágrimas, e foi assim até à praça da Apoteose, se me perguntarem o que se passou nesse desfile eu não sei dizer, apenas lembro-me de dar a curva para entrar na armação, e de chegar ao final. É indescritível. Neste ano fui apenas com a minha esposa.
Em 2008, já estive 26 dias no Rio, e fomos um grupo muito maior, foi a minha esposa, a minha filha, a Ana Alves (Preta), o Pedro Canana, A Débora Samagaio, e a Patricia Jesus, ao todo eramos 7 pessoas, todas do Bota, parecia a escursão no Avião. Neste ano deu para ver muito mais, embora destes dias todos, 80% do tempo tenha estado a chover, mas sempre que podiamos iamos à praia (como bons Pexitos), fomos vezes sem conta ao Sahara e à Uruguaiana, voltamos ao Cristo, à ilha de Paquetá, fui assistir no Carioca da Gema, na Lapa à actuação do Rixxa, que para mim é o melhor interprete de samba da actualidade, fomos vezes sem conta à Cidade do Samba, fomos ao Centro Cultural Cartola e fizemos uma visita à D. Regina, filha da D. Zica na Mangueira, e assisti avários ensaios de escolas de samba, quer na quadra quer em ensaios técnicos. Conheci a quadra da minha querida Portela que gostei bastante. Como a minha filha tinha apenas 7 anos, não me era possivel alongar as noites, pois ela andava sempre comigo, e a dada altura da noite ela tinha sono e tinhamos de ir para o apartamento para ela dormir, mas nos dias dos desfiles aguentou todos até ao final.
Neste ano eu voltei a desfilar pela Portela, na mesma ala que tinha desfilado em 2004, e foi muito bom, pois tinha conhecido algumas pessoas que voltei a encontrar, a minha esposa e a minha filha não desfilaram, e o resto do grupo desfilou na Mangueira. Como assistimos a vários ensaios da São Clemente, e a Dora era muito amiga do Director de Harmonia da escola, havia fantasias de uma ala da comunidade disponiveis, e lá fomos nós desfilar tambem na São Clemente. Neste ano voltei a desfilar no Sábado das campeãs, pois a Portela ficou em 4º lugar, a São Clemente ficou em ultimo e desceu para o grupo de acesso. Voltou a ser indescritivel os desfiles, pois quando estamos na concentração encontramos muita gente conhecida, viramos para um lado está o Diogo Nogueira, viramos para o outro está a D. Dôdô, a tia Surica, o Monarco, o Walter Alfaiate, é demais, e vemos que são pessoas como nós, que conversam conosco como se nos conhecessem à muito tempo, foi maravilhoso, espero poder voltar um dia, mas com o bilhete de avião só de ida.
-Como tens visto a evolução das escolas de samba em Portugal a nivel de fantasias ?
- Ao nivel das fantasias, as escolas em Portugal têm evoluido muito, não se pode comparar as fantasias apresentadas pelas escolas no principio dos anos 2000, com as que são apresentadas actualmente,embora ainda existam escolas que se limitam a copiar (plagiar) fantasias de escolas do Rio, uma coisa é inspirarmo-nos nesta ou naquela fantasia, depois colocamos o nosso toque pessoal, outra coisa é fazer cópias integrais de fantasias, depois assinar-mos com o nosso nome como se fossem originais, acho isso muito feio, até porque não precisamos disso, temos muitos bons valores neste país para fazer fantasias completamente originais sem qualquer necessidade de recorrer a cópias. De qualquer forma acho que em relação a fantasias, as escolas de Sesimbra estão um passo à frente das escolas do resto do pais.
-E a um nivel geral de todos os quesitos ?
Em relação ao resto dos quesitos, penso que a maior evolução foi ao nível do Samba enredo, as escolas passaram a fazer sambas originais, o que não acontecia na maioria das escolas que se limitavam a alterar letras de sambas de escolas do Rio de Janeiro. Também houve um maior cuidado tanto na fantasia como na dança do casal de Mestre-sala e Porta-bandeira, que são as figuras mais importantes do desfile de uma escola de samba,embora estas figuras continuem a passar para segundo plano em detrimento da figura da Rainha da Bateria e das passistas, o que é uma pena, e também um maior cuidado na apresentação da comissão de frente. Penso que a nivel geral as escolas ainda têm muito a evoluir ao nivel dos quesitos técnicos, como harmonia e evolução. A nível de bateria, as escolas do norte do país regra geral são melhores, mas as escolas do sul estão a trabalhar para atingir o nível dessas escolas.
- E em Sesimbra como tens visto essa evolução ?
- Em Sesimbra houve uma grande evolução ao nível das fantasias, temos escolas a apresentar fantasias tanto de alas como de destaques ao nivel das fantasias apresentadas no Rio. É pena que a baterias de algumas escolas não tenham evoluído da mesma forma como evoluiram as fantasias, acho até que temos escolas que regrediram na qualidade das suas baterias. Já vemos em praticamente todas as escolas passistas femininas sambar no pé, e estamos a começar a ver os masculinos, pessoalmente não gosto de ver os passistas a rodar o pandeiro à volta da mulher, não acho nada elegante, gosto sim de ver um homem a sambar bem ao lado de uma mulher tambem a sambar bem, isso sim é bonito de se ver. Agora acho que temos de ter mais atenção na harmonia, embora o Bota este ano tenha levado em atenção este quesito com os varios ensaios feitos na sede onde toda a escola cantava o samba, e isso reflete-se no desfile, pois é muito mais bonito ver uma escola a passar onde toda a gente canta com um sorriso na cara, do que estar a ver passar uma escola apática onde os componentes nem sequer conhecem o samba da escola, demonstra um total desinterese desses mesmos componentes pelo trabalho apresentado. Em termos da evolução as escolas em Sesimbra ainda têm muito a caminhar, abrem-se buracos entre uma ala e um destaque, entre uma ala e outra ala, isso tem de ser ensaiado e não é uma nem duas vezes, tem de ser ensaiado muitas e muitas vezes, e as pessoas que estão no desfile a organizar a evolução das escolas têm de ter visão para detectar essas situações antes de acontecerem, e se acontecerem corrigirem o mais rápido possível, mas com muito trabalho e empenho tenho a certeza que as escolas chegam lá.
-Que gostarias de ver acontecer no samba em Portugal e mais particularmente no Carnaval de Sesimbra ?
- Primeiramente e acima de tudo gostaria de ver um concurso de Escolas de Samba, na minha opinião o Carnaval de Sesimbra só tinha a ganhar com o concurso pois as próprias escolas aprimoravam-se nos seus trabalhos, pois como bom pexito que sou, sei que não há um pexito que queira ficar em 2º lugar, todos querem ficar em primeiro, e desta forma todas as escolas trabalhavam para o primeiro lugar, o que faria com que a qualidade das escolas subissem cada vez mais, e não se vissem alguns descalabros como se viu este ano. Outra coisa que gostava de ver em Sesimbra era um precurso digno do trabalho das escolas, com as entradas pagas, com condições para todas as pessoas que quizessem assistir, e uma melhor organização do espectáculo, é triste chegar a avenida e ver a assistência a passar pelo meio das escolas que estão a desfilar, pior ainda é ver elementos de escolas que acabaram de desfilar passarem pelo meio do desfile onde estão as outras escolas a se apresentarem, o que demosntra um a total falta de respeito entre colegas. As passistas a tentarem sambar em cima de calçada, na eminência de partirem um pé, o casal de Mestre-sala e Porta-bandeira não se conseguirem apresentar pois o espaço disponivel é da largura da saia da Porta-bandeira, e o mestre sala tem de ir atraz porque não tem espaço, ver pessoas da organização que não fazem a menor ideia daquilo que se está a passar, caem ali do céu aos trambulhões e ainda vêm durante todo o desfile a dizer autênticas barbaridades aos desfilantes. Mas penso que com o tempo isso irá melhorar, pelo menos espero.
Outra coisa que gostava de ver era mais união entre as escolas, mas em relação a isso vamos no bom caminho, já esteve bem pior.
Muito obrigado .... muitas felicidades..... e muito samba.
Obrigado eu e muitas felicidades para ti também.
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ENTREVISTA COM GISELA ( GI )- 2ª PORTA -BANDEIRA DO GRES BOTA no REGO
Obrigado pela tua disponibilidade para esta pequena conversa de sam
ba.- Idade e profissão ?
- Tenho 42 Anos e sou Assistente Operacional.
- Como foi o inicio desse teu amor pelo samba e em particular por escolas de samba ?
- O inicio desta paixão começou muito cedo, ainda muito pequena já tinha uma grande admiração pelo trabalho apresentado pelas primeiras escolas de samba de Sesimbra, como por exemplo o Ginga no Pandeiro, nesta altura a nível musical, ainda não havia os conhecimentos de hoje em relação aos sambas, as nossas escolas saiam ao ritmo das marchas de carnaval. Ainda demorou algum tempo até eu fazer parte deste universo.
-Qual o teu trajecto como sambista até ao momento actual ?
- Em 1980 como desfilante passei a fazer parte da Escola de Samba Sambinhas No Horizonte, hoje uma das escolas já extintas em Sesimbra, aqui aprendi muito com grandes senhoras, como a Dª Elvira, a Dª Florinda, a Dª Fernanda, entre outras, elas é que me ensinaram a elaborar os trabalhos das minhas primeiras fantasias e lá está, ao som das marchas carnavalescas já se apresentavam grandes desfiles. Estive nesta instituição até 1985 onde neste carnaval pela primeira vez, tive o prazer e a honra de enveredar pela primeira vez o estandarte de uma escola de samba, embora na altura as coisas não tivessem a importância que hoje se lhe conferem, foi para mim um desfile fabuloso e com muito significado, apesar de eu ser ainda muito jovem. Por motivos familiares a minha primeira ingressão no mundo do samba terminou por aqui, pois fui viver para a Ilha de S. Miguel e não me era possível desfilar, mas vim sempre passar o carnaval à minha terra, dois anos depois, após o meu regresso a Sesimbra em 1987, voltei a fazer parte da minha escola de samba através da minha ajuda na elaboração das fantasias da minha irmã mais nova e também na ala de apoio nos dias dos desfiles. Entretanto algumas coisas foram mudando e a minha irmã passou a ser sócia de uma outra escola de samba, o Grupo Recreativo Escola de Samba Trepa no Coqueiro, comecei primeiro por ajudar nos trabalhos, e finalmente no carnaval de 1993 voltei a participar como componente de uma ala, foi um regresso fantástico, senti uma grande emoção ao desfilar novamente na nossa avenida, em 1994 foi-me feito o convite para ser Porta Bandeira, posso dizer que fui totalmente apanhada de surpresa, pois não estava nada a pensar voltar a ocupar um lugar de tal responsabilidade, mas depois a ideia tornou-se numa história muito bonita, pois o meu Mestre de Sala seria o meu irmão mais velho, de facto acabou por ser um carnaval inesquecível, com muito trabalho, primeiro visualizamos alguns vídeos, depois com alguns ensaios e com a ajuda do nosso amigo Paulo Macedo, demos o nosso melhor.
Em 1995 não houve desfile de Carnaval em Sesimbra em homenagem à tragédia do barco de pesca “Menino de Deus”, mas nós Trepa no Coqueiro desfilamos em Almeirim, onde representei a minha escola como Porta Bandeira, em 1996, 1997 fui novamente Porta Bandeira com o meu irmão, como meu Mestre Sala, em 1998 voltei a enveredar a bandeira mas desta feita com outro Mestre Sala Fernando Soromenho, que se estreou nesse ano, no carnaval 1999 decidi voltar a desfilar como componente de uma ala.
No final de 1999 passei a fazer parte da instituição Grupo Recreativo Escola de Samba Bota no Rego, inscrevi-me como componente de ala para o carnaval de 2000, a convite da direcção decidi aceitar assumir o lugar de Porta Bandeira, desta feita com o Mestre Sala Fernando Sebastião, sem entrar em grandes pormenores, posso dizer que foi uma honra e um desfile muito especial, no ano 2001 nas Bodas de Prata do G.R.E.S. Bota no Rego, voltei a desfilar como Porta Bandeira e novamente com a estreia de um Mestre Sala Ricardo Soares, em 2002 tive o prazer de realizar outro pequeno sonho, fazer parte da ala de bateria, depois de muito trabalho e ensaios desfilei na ala das cuicas, foi uma experiencia muito rica, especialmente quando participei nos espectáculos de palco, em 2003 eis que voltei ao meu lugar de eleição, Porta Bandeira, em 2004 decidi novamente conquistar outro sonho, pertencer a ala de compositores da minha escola, decidi concorrer, trabalhei bastante e consegui entrar, foi um orgulho muito grande, em 2005 voltei a fazer parte da ala de compositores, 2006 mais uma nova etapa, concorri a destaque principal de alegoria, foi muito bonito mas não é uma experiencia a repetir, senti uma grande distancia do publico, pessoalmente gosto mais de sentir o contacto mais directo com quem nos está a ver, gosto de poder expressar todo o gosto e prazer pelo trabalho que apresentamos, 2007 e 2008 volto a componente de ala.
Ano de 2009, o bichinho volta a acordar e sentindo que deveria novamente concorrer ao lugar de Porta Bandeira, eis que novamente voltei a erguer o nosso estandarte, com o Mestre Sala Fernando Sebastião, 2010 como Porta Bandeira novamente com o Mestre Sala Fernando Sebastião.
Gostaria também de referir que também aprendi muito a nível institucional no G.R.E.S. Bota no Rego, tendo feito parte de algumas direcções, na Assembleia Geral e na Direcção, assim como sendo elemento participativo em quase todas as iniciativas culturais levadas a cabo pela nossa escola, assim como as Marchas Populares e o Teatro.
Quantos anos de Porta-Bandeira no Gres Bota no Rego ?
- Representei com o maior orgulho e respeito a minha escola, como Porta Bandeira 5 anos, que foram muito importantes para mim.
- Era teu sonho ser Porta Bandeira ? Como foi esse primeiro momento ?
- Tal como já referi no inicio dos nossos desfiles, não havia grande relevância nesses lugares, logo não era um grande sonho quando comecei a desfilar, após a experiencia que vivi ao ser Porta Bandeira no G.R.E.S. Trepa no Coqueiro, ai sim aprendi a sentir a verdadeira beleza que é enveredar o símbolo máximo de uma escola, ser a figura principal de um grupo de pessoas que muito trabalham em prol do resultado apresentado ao publico, só pode ser um sentimento muito intenso, porque quem trabalha sabe o quanto custa colocar uma escola de samba a desfilar na nossa avenida, quem desfila nesta função tem a obrigação de mostrar ao publico que ali está muito de nós, muito da nossa vida, muito da nossa família e acima de tudo transmitir toda alegria e intensidade do nosso trabalho.
- Que mais te agrada ver em uma Porta Bandeira ?
- Para mim uma Porta Bandeira tem que ser feliz, ser simples, ser verdadeira, ser empenhada, ser elegante, ser representativa e acima de tudo levar a sua escola no coração.
- Achas que é dado o devido valor ao cargo mais importante em uma escola de samba ( Mestre-Sala e Porta-Bandeira ) ?
- Nos primeiros anos em Sesimbra as figuras principais de cada escola eram o Rei e a Rainha, depois com a evolução começámos a ter mais conhecimentos qual a composição e orgânica das escolas do Rio de Janeiro, foi-se evoluindo e nos dias já se encara essas personagens com mais relevância, embora ainda muitas pessoas não lhes confira o devido valor.
- Qual frequência ou média de ensaios que realizas com o mestre Sala ?
- Para preparar o nosso trabalho seria bom termos mais tempo disponível, mas como todos sabem, tudo é feito no nosso tempo livre e com família e empregos nem sempre é muito fácil, a frequência dos ensaios também depende do nosso par, se tem mais ou menos experiencia. No caso do meu actual Mestre Sala, tenho que confessar, após a escolha do nosso esquema de apresentação, tivemos muito poucos ensaios, porque além do lugar que representa, ele também ajudou no trabalho de carnavalesco, e claro isso deixa pouco tempo livre para dedicarmos aos ensaios, mas sempre sem descuidar a responsabilidade do nosso trabalho.
-Tens alguma preparação ou cuidados especiais para os desfiles ?
- Sinceramente apenas cuido de estar feliz e viver com a maior intensidade o momento, claro que com alguns pequenos detalhes como a minha saúde, com a alimentação para que não passe mal, maquilhagem e os acessórios de bijutaria.
Quanto à minha fantasia tenho sempre o máximo cuidado, para que tudo esteja perfeito, tento sempre que todo o trabalho seja elaborado por mim, pois é uma das coisas que me dá mais prazer, porque participar nos trabalhos é que nos une e nos faz sentir aquele prazer, que só quem vive o momento sabe o que quero dizer, cuidar para que tudo corra na maior perfeição e possa representar a minha escola na avenida com o maior orgulho.
- Pensas continuar a desempenhar o cargo de Porta Bandeira ainda durante mais alguns anos ?
- Nunca concorri por concorrer, sinto que é isso que quero e vou em frente, assim será até o meu coração sentir e achar que não deixarei a minha escola mal representada, não se trata de considerar um lugar cativo, fico muito feliz quando aparecem novas concorrentes, porque até há poucos anos não era fácil arranjar potenciais Porta Bandeiras, é bom que os jovens comecem a ganhar o gosto por estes lugares que tanto exigem de nós, porque principalmente numa escola como o Bota no rego, que tem por norma bastantes espectáculos, temos ter alguma responsabilidade e disponibilidade.
- Momentos mais felizes no samba até hoje ?
- Momentos felizes, tive muitos por isso estou nisto há tantos anos.
- E os momentos mais difíceis , menos felizes ?
- Momentos infelizes tive outros tantos, mas como não costumo deixar que as coisas negativas me incomodem, dou a volta e logo os momentos felizes superam o que não interessa.
- Como tens visto a evolução das escolas de samba em Sesimbra ?
- Já se nota alguma preocupação em melhorar a apresentação dos trabalhos das nossas escolas, embora considere que ainda há muito mais a fazer, mas considero que cada instituição deve trabalhar da forma que achar melhor, para a sua evolução e crescimento.
- Como tens visto a evolução em toda a sua estrutura das escolas de samba em Portugal ?
- A nível nacional penso que se verifica um melhoramento, especialmente em relação à originalidade das fantasias e aos sambas enredo, através de alguns espectáculos que pude presenciar, nota-se uma melhoria bastante acentuada, mas não tenho conhecimento de causa para referir muito mais.
- E a nível de dança como tens visto essa evolução ?
- A nível da dança nota-se uma evolução muito boa, posso falar em relação á minha escola, por exemplo as passistas tem aprendido bastante nos últimos anos, com novos passos, uma grande variedade de coreografias, mesmo no lugar de outras figuras, como a Porta Bandeira e o Mestre Sala, nota-se uma maior pesquisa sobre o trabalho das escolas do Rio de Janeiro, ouvem-se muito mais sambas e com muitos ensaios a evolução vai-se impondo.
- Quais as Porta Bandeiras que mais admiras ?
- Lucinha Nobre, Selminha Sorriso e gostei muito da estreia da Patrícia Cristina este ano na Tijuca.
-Que mudanças ou evoluções desejava que acontecessem com o Carnaval de Sesimbra e em particular com o desfile das escolas de samba ?
- Em Sesimbra muito ainda há para fazer, precisamos de um local mais apropriado para desfilar ou pelo menos com um pouco melhores condições, especialmente a nível do piso, eu gostava de voltar a desfilar na Avenida, o espectáculo tem uma melhor evolução e quando o tempo resolve estragar a festa, é um menos agreste que desfilar na marginal, embora aceite que desfilar junto ao mar tem a sua magia, mas corremos mais riscos.
- Que gostarias de ver acontecer com o samba em Portugal e em particular com as escolas de samba ?
A nível nacional, penso que se devia realizar mais encontros nacionais, temos muito a aprender uns com os outros, seria importante para divulgar o trabalho realizado pelas diversas escolas do país.
- Mais uma vez obrigado e muitas felicidades.
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ENTREVISTA COM FERNANDO SEBASTIÃO- Mestre -Sala do Gres Bota no Rego
Para começar quero te agradecer pela disponibilidade para esta entrevista e vincar a minha grande admiração pelo sambista que és.
- Fernando qual á tua idade e nome completo ?
Obrigado Guerreiro, pois também te admiro como sambista.
- O meu nome completo é Fernando Miguel Vidal Sebastião e tenho 33 anos.
-Como começaste com a paixão pelo samba e em particular pelas escolas de samba?
- A minha paixão pelo samba e pelas escolas de samba começou muito cedo, por volta dos 5, 6 anos de idade, eu delirava ao ver os desfiles das escolas e grupos pelo Carnaval. Como deves saber nos anos 80 Sesimbra tinha cerca de 15 escolas e outros tantos grupos. Para mim era um regalo ver tanta cor e tanto brilho.
-Qual o teu trajecto como sambista ?
- Em 91 e 92 desfilei na bateria do Bota no Rego, em 93 desfilei como componente de ala tambem no Bota no rego, em 94 desfilei numa escola que já não existe chamada Juventude na Baía, em 95 não houve desfile em Sesimbra por causa do desaparecimento do barco “Menino Deus”. Em 96 por opção decidi não desfilar (e foi das piores decisões que já tomei, espero não voltar a estar de fora a ver o desfile), em 97 desfilei como componente de ala (e chefe de ala) no Bota no Rego, 98, 99 e 2000, desfilei como Mestre-sala do Bota no Rego, em 2001,2002, e 2003, fui esperimentar uma coisa nova que foi a introdução de instrumentos de sopro no desfile da Tripa Cagueira, (como sabes, eu toco Trombone de Varas), embora tenha gostado da experiência, senti a falta do Samba enredo e ainda mais da Fantasia. Para mim, a simples calça e t-shirt não me satisfazia, precisava de mais.
Em 2004 desfilei pela primeira vez no Rio de Janeiro como componente de ala na Portela, em 2005 como era “carnavalesco” dos Saltaricos do Castelo e nesse ano o Mestre-sala da escola iria ser operado por altura do carnaval, a direção não tinha ninguém par assumir o cargo, assim, desfilei como mestre-sala dos Saltaricos. 2006 e 2007 desfilei tambem como Mestre-sala mas no Bota no Rego, em 2008 voltei ao Rio de Janeiro desfilando desta vez pela São Clemente e novamente pela Portela(milha escola de eleição), em ambas como componente de ala, em 2009 e 2010 desfilei como Mestre-sala do Bota no Rego. Como ves já é um percurso longo e com várias experiências.
- Quando começaste também a ter o gosto e vontade de te dedicares a fazer desenhos de fantasias para Carnaval bem como idéias e pesquisas de enredos e com isso tens contribuido em equipe para feitura dos Carnavais do Gres Bota no Rego ?
- Comecei a ter o gosto por criar fantasias, logo no primeiro ano que desfilei. Tentava imitar os desenhos das fantasias do Bota, que em 91 foram feitos pela Vanda Carapinha, que já não se encontra entre nós. Primeiramente desenhava fantasias isoladas, mas quando vi a transmissão do Carnaval do Rio pela TV, verifiquei que o desfile contava uma história, e que as fantasias não estavam no enredo apenas por estarem, tinham um sentido na sua concepção plástica para contar essa mesma história. Nesse ano fiquei apaixonado pelo desfile da Mocidade, que foi campeã com o enredo “Chuê... Chuá... As águas vão rolar” do Renato Lage. A partir daí, comecei a criar os enredos, a fazer as pesquisas e a desenvolver as fantasias dentro do contexto do enredo.
A primeira escola para qual desenvolvi um enredo foi uma escola que referi em cima e que já não existe que era a Juventude na Baia, acho que foi uma opção arriscada por parte dos dirigentes dessa escola, pois na altura tinha 15 anos e não tinha esperiência nenhuma na elaboração de enredos e muito pouca na elaboração das fantasias, como é lógico um enredo em 93 não é nada comparado com os enredos da actualidade, mas para mim foi um grande voto de confiança dessas pessoas.
Ao longo dos anos fui aprefeiçoando a forma de trabalhar, e principalmente aprendendo muito com outros “carnavalescos”, e neste caso ressalvo o Paulo Macedo, porque ajudou-me sempre que necessitava, nunca se negando a dar uma mãozinha amiga para que o meu trabalho fosse sempre o melhor possivel.
No final da década de 90 fui “Carnavalesco” no Bota no Rego, 2004 e 2008 fui “Carnavalesco” dos Saltaricos do Castelo, e em 2006, 2007 e 2009 e 2010 fiz parte da equipe de “Carnavalescos” do Bota no Rego. Actualmente trabalho tambem em equipe com a Marta Andrade (que aproveito para enviar um grande abraço) para o Bota no Rego. Desenvolvemos em conjunto o enredo, elaborando a Sinopse e o Roteiro, bem como as Fantasias. Esse trabalho de criação é feito em conjunto,e tudo é discutido entre os dois, depois para a confecção das fantasias eu dedico-me aos arames, e a Marta a decoração, embora estejamos sempre em contacto e a pedir opiniões sobre o nosso trabalho. Este trabalho só é possível pois acima de tudo somos grandes amigos e respeitamo-nos um ao outro, penso que se não houvesse esse sentimento mútuo o trabalho não resultava. É o chamado trabalho a duas cabeças e quatro mãos.
- Como tem sido a experiencia como mestre-sala do Gres Bota no Rego ?
- Não tenho palavras para descrever, é uma sensação unica, desfilar apresentando a bandeira da nossa escola de coração para o público, poder beija-la, dar a beijar, é indescritivel.
-Em que anos desempenhaste esse cargo ?
- Como disse anteriormente, desempenhei o cargo de Mestre-sala do Bota no Rego em 98, 99, 2000, 2006, 2007, 2009 e 2010, e Mestre-sala dos Saltaricos do Castelo em 2005. A Porta-bandeira que mais vezes me acompanhou foi a Lucinda Simões, que para mim é a melhor Porta-bandeira da actualidade em Sesimbra, é um prazer e uma honra desfilar ao lado desta grande mulher do samba em Sesimbra.
- Onde te tens sentido mais á vontade ? Onde te dá mais prazer ?
- Sinto-me à vontado nos dois cargos, e são prazeres diferentes, como “carnavalesco” (se pode-se chamar a minha pessoa carnavalesco), os trabalhos vão saíndo conforme a imaginação e sendo desenvolvido com a ajuda de todas as pessoas que se envolvem no trabalho da escola, como Mestre-sala, é um trabalho mais individual, e que sobra muito pouco tempo para o preparar, pois quase todo o tempo disponivel é dedicado à elaboração e confecção das fantasias, por esse motivo, quando assumo esta posição opto por desfilar com uma Porta-bandeira com mais esperiência tanto individual como de casal, como é o caso da Lucinda. Nos ultimos anos é ela que prepara toda a parte cénica e coreográfica, eu limito-me a ensaiar (admito que é muito pouco) aquilo que ela idealizou.
- Quais os teus Carnavalescos preferidos e que estilo de Carnaval mais gostas ?
- Não tenho um estilo definido, mas gosto pricipalmente de inovação, de apresentar coisas novas e diferentes, por isso adoro a genialidade do Joãozinho 30 e do Paulo Barros, da originalidade e do colorido de Fernando Pinto, e da perfeição de trabalho e acabamento quer de fantasias quer de alegorias do Renato Lage.Gosto muito tambem dos excelentes enredos desenvolvidos pelo Milton Cunha, embora depois o ache fraco no desenvolvimento plástico do enredo.
- E quais os mestre -sala ou casais de mestre-sala /porta-bandeira que mais admiras ?
- Sem qualquer dúvida os casais Selminha Sorrizo/Claudinho da Baija-Flor, Lucinha Nobre/Rogerinho da Portela, e Giovanna/Marquinhos da Unidos da Tijuca. Perco horas a ver videos destes casais.
- Qual o teu momento mais feliz no samba ?
- Tenho vários, mas destaco três, todas as vezes que vejo o meu trabalho de meses realizado na avenida, todas as vezes que assumo o cargo de Mestre-sala do Bota no Rego, e as duas vezes que cruzei a Marques de Sapucaí pela minha querida Portela. Em todos estes momentos choro de emoção.
- Qual o mais triste...menos feliz ?
- Não gosto mesmo nada de recordar, mas o ano em que decidi não desfilar foi para mim dos piores momentos que já vivi, também fico muito triste quando já muito próximo do final, sinto falta de apoio de algumas pessoas que julgava que estavam para me ajudar, e nos momentos mais difíceis elas faltam. Mas para este caso, parece que estas atitudes ainda me dão mais energia para levar a bom porto o trabalho a que me propus.
- Que mais gostarias de seguir...... mestre-sala ou Carnavalesco ?
- Não sei, até porque as duas ao mesmo tempo é um pouco dificil. Nos ultimos anos tenho tido alguma dificuldade para desempenhar a posição de Mestre-sala, como tenho uns quilinhos a mais (rsss), já não tenho a mobilidade que tinha, e a idade já pesa na barriga, juntando às noites mal dormidas durantre meses a fio, quando chega a hora do desfile, se não bebo uns cafés e junto uma boa dose de emoção, não chegava a meio, mas depois de tudo pronto, abro um sorriso e lá vou eu.
Como “carnavalesco”, como é normal , ainda tenho muito a aprender, mas penso que das duas posições que actualmente ocupo será aquela que deverei aguentar mais tempo.
- Já tens tido algumas experiencias no Rio de Janeiro conta p`ra gente como foi e como te sentiste?
- Em 2004 quando fui ao Rio pela primeira vez, estive lá apenas 10 dias, cheguei dois dias antes de começar a festa e voltei para Portugal no Domingo logo a seguir ao desfile das campeãs, mas fiquei logo apaixonado pela beleza da cidade, o titulo de “Cidade Maravilhosa” acenta-lhe como uma luva. Não deu para conhecer muita coisa, fui ao cristo, à Cinelândia, ao Sahara (como é logico),à ilha de Paquetá e pouco mais pois o tempo foi pouco, nestas andanças estivemos sempre acompanhados pela Dora, que tambem conheces, que é uma senhora Carioca que é uma grande amiga minha e das Escolas de Samba de Sesimbra. Mas desfilar pela primeira vez na Portela, que nesse ano levava a reedição do Samba Enredo “Lendas e Mistérios da Amazónia”, que adoro, embora não concorde com reedições de sambas, foi demais, nesse ano a Portela foi a ultima escola a desfilar no domingo, já era de manhã, estava na concentração e ouço o Gera iniciar o esquenta com o Samba “Portela na Avenida”, não segurei as lágrimas, e foi assim até à praça da Apoteose, se me perguntarem o que se passou nesse desfile eu não sei dizer, apenas lembro-me de dar a curva para entrar na armação, e de chegar ao final. É indescritível. Neste ano fui apenas com a minha esposa.
Em 2008, já estive 26 dias no Rio, e fomos um grupo muito maior, foi a minha esposa, a minha filha, a Ana Alves (Preta), o Pedro Canana, A Débora Samagaio, e a Patricia Jesus, ao todo eramos 7 pessoas, todas do Bota, parecia a escursão no Avião. Neste ano deu para ver muito mais, embora destes dias todos, 80% do tempo tenha estado a chover, mas sempre que podiamos iamos à praia (como bons Pexitos), fomos vezes sem conta ao Sahara e à Uruguaiana, voltamos ao Cristo, à ilha de Paquetá, fui assistir no Carioca da Gema, na Lapa à actuação do Rixxa, que para mim é o melhor interprete de samba da actualidade, fomos vezes sem conta à Cidade do Samba, fomos ao Centro Cultural Cartola e fizemos uma visita à D. Regina, filha da D. Zica na Mangueira, e assisti avários ensaios de escolas de samba, quer na quadra quer em ensaios técnicos. Conheci a quadra da minha querida Portela que gostei bastante. Como a minha filha tinha apenas 7 anos, não me era possivel alongar as noites, pois ela andava sempre comigo, e a dada altura da noite ela tinha sono e tinhamos de ir para o apartamento para ela dormir, mas nos dias dos desfiles aguentou todos até ao final.
Neste ano eu voltei a desfilar pela Portela, na mesma ala que tinha desfilado em 2004, e foi muito bom, pois tinha conhecido algumas pessoas que voltei a encontrar, a minha esposa e a minha filha não desfilaram, e o resto do grupo desfilou na Mangueira. Como assistimos a vários ensaios da São Clemente, e a Dora era muito amiga do Director de Harmonia da escola, havia fantasias de uma ala da comunidade disponiveis, e lá fomos nós desfilar tambem na São Clemente. Neste ano voltei a desfilar no Sábado das campeãs, pois a Portela ficou em 4º lugar, a São Clemente ficou em ultimo e desceu para o grupo de acesso. Voltou a ser indescritivel os desfiles, pois quando estamos na concentração encontramos muita gente conhecida, viramos para um lado está o Diogo Nogueira, viramos para o outro está a D. Dôdô, a tia Surica, o Monarco, o Walter Alfaiate, é demais, e vemos que são pessoas como nós, que conversam conosco como se nos conhecessem à muito tempo, foi maravilhoso, espero poder voltar um dia, mas com o bilhete de avião só de ida.
-Como tens visto a evolução das escolas de samba em Portugal a nivel de fantasias ?
- Ao nivel das fantasias, as escolas em Portugal têm evoluido muito, não se pode comparar as fantasias apresentadas pelas escolas no principio dos anos 2000, com as que são apresentadas actualmente,embora ainda existam escolas que se limitam a copiar (plagiar) fantasias de escolas do Rio, uma coisa é inspirarmo-nos nesta ou naquela fantasia, depois colocamos o nosso toque pessoal, outra coisa é fazer cópias integrais de fantasias, depois assinar-mos com o nosso nome como se fossem originais, acho isso muito feio, até porque não precisamos disso, temos muitos bons valores neste país para fazer fantasias completamente originais sem qualquer necessidade de recorrer a cópias. De qualquer forma acho que em relação a fantasias, as escolas de Sesimbra estão um passo à frente das escolas do resto do pais.
-E a um nivel geral de todos os quesitos ?
Em relação ao resto dos quesitos, penso que a maior evolução foi ao nível do Samba enredo, as escolas passaram a fazer sambas originais, o que não acontecia na maioria das escolas que se limitavam a alterar letras de sambas de escolas do Rio de Janeiro. Também houve um maior cuidado tanto na fantasia como na dança do casal de Mestre-sala e Porta-bandeira, que são as figuras mais importantes do desfile de uma escola de samba,embora estas figuras continuem a passar para segundo plano em detrimento da figura da Rainha da Bateria e das passistas, o que é uma pena, e também um maior cuidado na apresentação da comissão de frente. Penso que a nivel geral as escolas ainda têm muito a evoluir ao nivel dos quesitos técnicos, como harmonia e evolução. A nível de bateria, as escolas do norte do país regra geral são melhores, mas as escolas do sul estão a trabalhar para atingir o nível dessas escolas.
- E em Sesimbra como tens visto essa evolução ?
- Em Sesimbra houve uma grande evolução ao nível das fantasias, temos escolas a apresentar fantasias tanto de alas como de destaques ao nivel das fantasias apresentadas no Rio. É pena que a baterias de algumas escolas não tenham evoluído da mesma forma como evoluiram as fantasias, acho até que temos escolas que regrediram na qualidade das suas baterias. Já vemos em praticamente todas as escolas passistas femininas sambar no pé, e estamos a começar a ver os masculinos, pessoalmente não gosto de ver os passistas a rodar o pandeiro à volta da mulher, não acho nada elegante, gosto sim de ver um homem a sambar bem ao lado de uma mulher tambem a sambar bem, isso sim é bonito de se ver. Agora acho que temos de ter mais atenção na harmonia, embora o Bota este ano tenha levado em atenção este quesito com os varios ensaios feitos na sede onde toda a escola cantava o samba, e isso reflete-se no desfile, pois é muito mais bonito ver uma escola a passar onde toda a gente canta com um sorriso na cara, do que estar a ver passar uma escola apática onde os componentes nem sequer conhecem o samba da escola, demonstra um total desinterese desses mesmos componentes pelo trabalho apresentado. Em termos da evolução as escolas em Sesimbra ainda têm muito a caminhar, abrem-se buracos entre uma ala e um destaque, entre uma ala e outra ala, isso tem de ser ensaiado e não é uma nem duas vezes, tem de ser ensaiado muitas e muitas vezes, e as pessoas que estão no desfile a organizar a evolução das escolas têm de ter visão para detectar essas situações antes de acontecerem, e se acontecerem corrigirem o mais rápido possível, mas com muito trabalho e empenho tenho a certeza que as escolas chegam lá.
-Que gostarias de ver acontecer no samba em Portugal e mais particularmente no Carnaval de Sesimbra ?
- Primeiramente e acima de tudo gostaria de ver um concurso de Escolas de Samba, na minha opinião o Carnaval de Sesimbra só tinha a ganhar com o concurso pois as próprias escolas aprimoravam-se nos seus trabalhos, pois como bom pexito que sou, sei que não há um pexito que queira ficar em 2º lugar, todos querem ficar em primeiro, e desta forma todas as escolas trabalhavam para o primeiro lugar, o que faria com que a qualidade das escolas subissem cada vez mais, e não se vissem alguns descalabros como se viu este ano. Outra coisa que gostava de ver em Sesimbra era um precurso digno do trabalho das escolas, com as entradas pagas, com condições para todas as pessoas que quizessem assistir, e uma melhor organização do espectáculo, é triste chegar a avenida e ver a assistência a passar pelo meio das escolas que estão a desfilar, pior ainda é ver elementos de escolas que acabaram de desfilar passarem pelo meio do desfile onde estão as outras escolas a se apresentarem, o que demosntra um a total falta de respeito entre colegas. As passistas a tentarem sambar em cima de calçada, na eminência de partirem um pé, o casal de Mestre-sala e Porta-bandeira não se conseguirem apresentar pois o espaço disponivel é da largura da saia da Porta-bandeira, e o mestre sala tem de ir atraz porque não tem espaço, ver pessoas da organização que não fazem a menor ideia daquilo que se está a passar, caem ali do céu aos trambulhões e ainda vêm durante todo o desfile a dizer autênticas barbaridades aos desfilantes. Mas penso que com o tempo isso irá melhorar, pelo menos espero.
Outra coisa que gostava de ver era mais união entre as escolas, mas em relação a isso vamos no bom caminho, já esteve bem pior.
Muito obrigado .... muitas felicidades..... e muito samba.
Obrigado eu e muitas felicidades para ti também.
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ENTREVISTA COM GISELA ( GI )- 2ª PORTA -BANDEIRA DO GRES BOTA no REGO
Para já o meu muito obrigado pela disponibilidade para esta pequena entrevista.
É com todo o gosto que vou responder ás tuas perguntas,e antes de mais queria dar-te os parabéns por este fantástico blog.
É com todo o gosto que vou responder ás tuas perguntas,e antes de mais queria dar-te os parabéns por este fantástico blog.
- Nome completo ,Idade e profissão ?
* Gisela Madalena Da Silva Rosa Palma - 27 anos -Encadernadora,embora de momento não estar a exercer a profissão.
- Como foi o inicio desse teu amor pelo samba e em particular por escolas de samba ?
*Quando era mais pequena ia sempre a Sesimbra ver o desfile com os meus pais,e adorava ver aquelas fantasias brilhantes,coloridas a música que animava as pessoas que tal como eu ficavam a ver. E sempre pensei, um dia tenho que desfilar aqui também...
-Qual o seu trajecto como sambista até ao momento actual ?
*Comecei por uma brincadeira numa escola de samba que tinha como nome os Foliões no Seixal,que depois quando chegava o carnaval se juntava com os saltaricos do castelo e desfilavam as duas escolas em uma só,fiz parte desta escola durante 3 anos,a desfilar sempre como componente de uma ala. Depois tive uns aninhos sem desfilar de novo,mas fazia sempre parte do publico todos os anos em sesimbra no carnaval,lá estava eu a ver.
Até que um dia (infelizmente tive um desgosto na fase da minha vida) e o que é que eu pensei,inscrever-me numa escola de samba mas desta vez em sesimbra,para me distrair,comecei por procurar na net escolas de samba de sesimbra e encontrei duas,fiquei indecisa para qual deveria ir,mas comecei por ver as fotos das fantasias do Gres bota no rego,vi também fotos de festas e convívios que havia entre as pessoas,e ai decidi,bem vou ligar para esta escola Bota no rego(que achei uma grande piada ao nome). Liguei e nesse mesmo dia fui até lá,inscrevi-me em Dezembro de 2005 e em Fevereiro 2006 lá fui eu desfilar numa ala. E já estamos em 2010 e continuo na escola BOTA NO REGO COM MUITO ORGULHO,onde já desfilei como destaque alegórico,passista,destaque chão e este ano de porta bandeira.
- Como nasceu a ideia de concorrer a Porta-Bandeira do Gres Bota no Rego ?
Esta ideia ou seja este meu sonho já vem de alguns anos atrás,mas o ano passado pensei e porque não tentar concretizar o meu sonho?! Sempre foi um sonho meu e depois quando comecei a ter mais noção do que é ser uma porta bandeira ainda mais.Só de pensar que podia levar a bandeira da minha escola,a bandeira que percente a 200 desfilantes e alguns 500socios e ser eu a leva-la.......Então assim que acabou o carnaval 2009 sempre disse em 2010 vou tentar ir de porta bandeira,Depois o BOTA decidiu que não haveria concursos de porta bandeira e que as pessoas deveriam ir aos ensaios para aprender a ser uma porta bandeira,ai juntou-se o util ao agradavel.
- Era teu sonho ser Porta Bandeira ?
*Um sonho muito grande,que ainda não concretizei a 100%. Quando fiz parte da escola samba Foliões,as miudas da minha idade todas queriam ir de passista de destaque,mas eu sempre disse que o que me fascinava era aqueles fatos lindos de porta bandeira,aquela saia grande e rodada.
- Como foi essa experiencia de ser a 2ª Porta Bandeira do Gres Bota no Rego ?
A primeira palavra que posso dizer é que AMEI,em relação ao desfile ao mestre sala que me acompanhou,ao orgulho que tive em erguer a bandeira da minha escola,que me deu tanto trabalho a fazer,foi feita com muito esforço e dedicação e não me arrependo das horas e dias que passei a faze-la.Pois ficou linda.
Não foram dias muito fáceis até chegar o grande dia,mas depois tudo passa,e quando chegou o dia nem queria acreditar ,ninguém podia falar para mim e as lágrimas começavam logo a cair,foi muita emoção(...).Foi um ano que nunca vou esquecer a minha primeira experiência como porta bandeira .
- É para continuar ?
*Claro que sim. Sem duvida.
- Que mais te agrada ver em uma Porta Bandeira ?
A sua elegância e simpatia,acho que uma porta bandeira que tenha elegância e simpatia tem tudo,o resto depois vem por acréscimo. Ah não posso deixar também de referir que adoro quando elas começam a rodar como um peão. Um dia vou ser assim também.eheheheh
- Qual frequência ou média de ensaios que realizaste com o mestre Sala ?
Para dizer a verdade não foram muitos,primeiro porque só em finais de Outubro é que soubemos que íamos juntos. E depois o Nuno tem um horário de trabalho complicado.Mas mesmo assim sempre que podíamos encontravamo-nos. Começamos por ensaiar pequenos passos e conhecermo-nos melhor depois veio o nosso samba enredo,e ai fizemos uma coreografia para depois pudermos apresentar nos ensaios tecnicos e no desfile.
-Tiveste alguma preparação ou cuidados especiais para os desfiles ?
Em parte sim,logo que soube que tinha sido escolhida para ir de 2ºcasal porta bandeira,comecei por em casa sozinha ver vídeos e mais vídeos de como se comportar um casal num desfile. Depois todo o tempinho que tinha punha-me na sala a rodar até ficar tonta,sem contar que ai umas duas ou três semaninhas ainda andei a levantar pesos para ganhar músculo,eheheh. Mas depois o tempo começou a passar num piscar de olhos e havia muita coisa para fazer nas fantasias.
- Momentos mais felizes no samba até hoje ?
Não sei bem dizer,pois já passei momentos únicos nesta escola que adoro. Mas acho que todos os momentos em que estejamos todos bem e a divertirmo-nos são sp momentos bons e felizes.
- E os momentos mais difíceis , menos felizes ?
Os momentos menos felizes,que me deixam pensativa e triste é quando por um mal entendido ou outro as pessoas começam por não se entenderem...Quando não há compreensão entre as pessoas. Isso deixa-me muito triste mesmo. Agora momentos difíceis,já tive alguns embora depois tudo acaba por passar,este ano foi um ano complicado para mim,tinha outra responsabilidade em ir de 2ªporta bandeira e sou uma pessoa exigente comigo própria então batalhei muito para conseguir chegar ao dia e estar ali feliz e a concretizar parte de um sonho. E tenho que referir que me deixa triste o nosso presidente Hugo ter de nos deixar...
- Como tem visto a evolução das escolas de samba em Sesimbra ?
*Eu só á 5anos é que comecei a entender mais ou menos como funcionam as coisas dentro de uma escola de samba,e ao que me parece algumas das escolas adormeceram,esqueceram-se que estamos em 2010 e que têm que evoluir e sair para a rua com novidades para puder agradar não só a quem tem por gosto desfilar mas também ao publico.Compreendo que por vezes não haverá verba para grandes luxos,mas por vezes não é o luxo que faz evolução,é a criatividade. E claro é de louvar haver escolas com grande qualidade a nivel musical como em termos de fantasia e muito importante também a maneira de como se dança samba.
- Como tem visto a evolução em toda a sua estrutura das escolas de samba em Portugal ?
Não sou uma das pessoas mais indicadas para falar sobre isso,pq não estou muito dentro deste assunto,percebo pouco. Mas pelo que vejo e me tento informar,acho que devem seguir porque quem diz que o samba é dos brasileiros engana-se também é nosso,hoje em dia já temos muito boas passistas,bons compositores,boas baterias,bons carnavalescos e por ai fora...
- E a nível de dança como tem visto essa evolução ?
Cada vez melhor,embora haja pessoas que pensam que já sabem tudo e que já não vale a pena aprender mais,mas não é bem assim ,agente nunca sabe tudo.Posso dar o exemplo da nossa escola,que nos ultimos anos tem evoluido bastante,graças ás nossas meninas que dedicam todo o tempo que têm aos ensaios e claro á Ana que as tem ensaiado e muito bem.
- Quais as Porta Bandeiras que mais admiras ?
Ui,várias.Mas as que mais admiro é a Selminha por a sua elegância e a Lucinha nobre é uma porta bandeira fora de serie,flutua como uma pena.
-Que mudanças ou evoluções desejava que acontecessem com o Carnaval de Sesimbra e em particular com o desfile das escolas de samba ?
Em 1ºacho que deveria haver concursos entre as escolas,pq umas dão tudo para sairem bem para a rua e outras é o que se vê, mas um concurso saudavel e não para depois existir conflitos entre umas e outras. O piso onde desfilamos que é horrivel dançar de salto alto em cima da calçada. Entre outas coisas mas acho que estas são importantes de referir.
- Que gostarias de ver acontecer com o samba em Portugal e em particular com as escolas de samba ?
Que todas as escolas se dessem bem,que acabassem com as rivalidades. Que em vez de opinarem por maldade o façam para ajudar,é tudo simples as pessoas é que complicam.
- Paralelamente ao samba tens outra actividade ligada á dança. Fala-nos dela e há quantos anos te dedicas a ela ?
*Já lá vão uns aninhos,tinha 7anos quando entrei para o grupo de danças e cantares dos Redondos,do qual eu adoro,hoje já tenho 27 e penso em continuar por muitos e muitos anos. Somos uma familia de 30 menbros mais ou menos,temos alturas do ano em que todos os fins de semana temos actuações para longe,onde passamos 4 e 5 horas de autocarro,mas como quem anda por gosto não cansa é assim.Já tivemos algumas actuações fora do país onde passamos 15 dias todos juntos e é sempre muita animação,(basta que o director é o pior)e gosto pela dança. E além das saídas de rancho de ensaio que temos todo o ano,temos também as nossas jantaradas e saidas como um grupo de bons amigos*
Obrigado muitas felicidades , muito samba e muitas festas
Eu é que agradeço por te lembrares da 2ºporta bandeira do GRES BOTA NO REGO para uma entrevista no teu tão conhecido e falado blog. Obrigado amigo valeu...
