ENTREVISTA COM HELDER GABOLEIRO- Presidente do GRES BATUQUE DO CONDE ( Quinta do Conde - Sesimbra )
Desde já o meu muito obrigado pela tua disponibilidade para esta pequena entrevista
Agradeço eu, o convite…
- Qual a tua idade?
Tenho 29 anos.
- Helder como começou essa tua paixão pelo samba e em particular pelas escolas de samba?
Penso que a paixão pelo samba surgiu apenas aos 14 anos, quando comecei a ter aulas de cavaquinho com Reinaldo Nunes, e aumentou dois anos mais tarde quando conheci um dos melhores músicos de Sesimbra, Luis Taklin, que me ensinou muito de samba e escolas de samba, pois embora estivesse numa escola de samba desde os 3 anos o contacto com samba era muito pouco da minha parte e agora com o Reinaldo Silva aprendi muito, acerca do sentimento e do carinho que o samba merece...
-Qual o teu trajecto como sambista?
Como disse começou aos 3 anos, na escola de samba Saltaricos do Castelo foi lá que cresci juntamente com a escola de samba, ao fim de aproximadamente 24 anos de lá estar, saí pois adorava demais aquela escola de samba, e nem sempre isso é bom… Depois estive fora de escolas de samba durante um ano, mas sempre a ouvir muito samba, como um ano só não mata o bichinho do samba, e falo por experiência no assunto… Penso que renasci para construir uma nova escola de samba, que se chama Batuque do Conde, num sitio que à muito se desejava ter uma, Quinta do Conde, e já vão quase 2 anos que estou por cá... tocando e ouvindo muito samba...
- Que te levou a fundar uma nova escola de samba?
Penso que a necessidade de provar a mim mesmo que era capaz de fazer um sonho tornar-se realidade, construindo uma escola com a capacidade de unir muitas culturas diferentes, muitas pessoas, e acima de tudo para me divertir com os meus amigos … Tenho a certeza que com a Batuque do Conde, voltei apreciar o samba de uma maneira mais bonita…
- Como tem sido a reacção da população da Quinta do Conde?
De uma forma geral tem sido muito boa, embora ainda não tenhamos chegado a toda a população, como é nosso objectivo. Claro que não há bela sem senão e como ainda não temos sede, durante alguns ensaios, devido ao som, surge uma denúncia ou outra…lol … mas nada que não tenha sido contornado até agora…
- Quais as maiores dificuldades com que se debate a escola de samba?
Sem dúvida a falta de sede… E esse facto é como uma bola de neve, todos os problemas que daí advêm podiam já ter sido debelados… Claro que não deve ser desculpa, mas é a realidade que estamos a lutar todos os dias. Mas também temos de enaltecer o papel que à Junta de Freguesia da Quinta do Conde tem feito por nós nesse campo, ao ceder-nos uma sala nas suas instalações.
- Que rescaldo fazes destes 2 anos de actividade?
O primeiro ano não dá para esquecer do espírito de entre ajuda entre os poucos que ainda éramos, neste ano, naturalmente crescemos para mais do dobro, e foi um grande salto, temos estado a trabalhar quase todos os dias para conseguir dar respostas aos nossos associados, em termos de estrutura organizativa, pois não tem sido fácil todo este crescimento, mas confesso que tem sido bom demais…
- Quais os projectos para o futuro a curto e médio prazo para o Batuque?
A curto prazo, batendo na mesma tecla, a sede social, mas adiante, isso não impede o nosso outro projecto, que passa essencialmente pela formação, quer musical, quer na dança e temos mais dois outros projectos que passaram por uma academia de dança e por uma oficina de artes.
- Que rescaldo fazes do Carnaval deste ano da tua escola?
Não foi o que planeamos, mas acredito sempre que se erra, temos de aprender novamente a lição . Sei que as expectativas criadas eram muito elevadas em torno de nós, embora não tenhamos levado tudo a 100%, houveram coisas muito positivas, e é dessas que devemos falar, levamos alas e grupos maravilhosos, como as danças da corte, a ala das danças tribais, também de enaltecer a ala dos abba, e para não esquecer as nossas baianas… lindas… Trabalhamos com uma bateria completamente nova, do ano passado para este toda a formação de passistas também renovado e começado quase do zero, por isso penso que a Batuque do Conde tem de estar de parabéns pois cresceu e não foi só em número… Gostava de dar os parabéns à equipa de formação que continua connosco, a todos eles um grande obrigado…
- E do Carnaval de Sesimbra?
A chuva estragou-nos a terça feira… e não me irei alongar mais por agora…
- Qual o teu momento mais feliz no samba?
Tenho muitos momentos felizes, mas penso que a primeira vez que o meu filho desfilou a meu lado na bateria foi muito especial…
- Qual o mais triste... o menos feliz?
Como dizia Vinícius de Morais no Samba da Bênção e que me perdoe esse grande mestre, que está lá em cima junto de Deus, pois sou apenas um amante de samba…
O grande e único mestre Vinícius dizia assim…
(…)Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança (…)
- Como tens visto a evolução das escolas de samba em Portugal ?
Penso que todas têm evoluído mas algumas escolas de forma muito débil, eu explico, enquanto não houver uma abertura e uma união entre todos torna-se difícil, pois umas escolas evoluem em termos de fantasias, outras em termos de bateria, outras em termos de alegoria, para se evoluir uniformemente tem de haver uma abertura para o exterior e não falo para fora de Portugal, primeiro tem de haver abertura de mente, no sentido de que não se sabe de tudo, depois respeito por todos, respeitando as diferenças, pois é muito mais fácil apontar o dedo aos outros do que olhar para os nossos problemas internos. Sei que sou novo nisto mas quero estou na Batuque do Conde nesse caminho da evolução, que passa pela mente aberta, respeito pelos que já cá estão e por aquele que virão…
- Para ti quais as que mais evoluíram?
A Unidos da Tijuca, Rio de Janeiro… Estou a brincar, embora o caminho passe pela inovação no desfile e no espectáculo. O público merece, pois também é para eles tanto trabalho, tanta dedicação e brio naquilo que se está a fazer e em Portugal isso não deve ser diferente.
- E a evolução das escolas de samba em Sesimbra?
Penso que a evolução nas escolas de samba em Sesimbra já conheceu melhores dias, vive-se um sentimento muito triste, para mim, apontar o dedo aos outros é muito feio e eu não gosto que me-o façam, por isso não o faço aos outros.
E temos que todos nós, escolas de samba, como agentes de cultura que somos, agir responsavelmente pois o samba merece isso…
Mudando de assunto, gostei muito da recepção que a Batuque do Conde teve na Casa do Bota no Rego na altura do seu Aniversário, parabéns velha escola, que tanto tem para ensinar, continuem o caminho é esse… e nós estamos lá.
- O que gostarias de ver acontecer no samba em Portugal e mais particularmente no Carnaval de Sesimbra?
Numa palavra Sambodromo, possível ou não!!! Logo se vê … Além disso, para nós minoria associativa, que são as escolas de samba, temos de nos unir para um objectivo maior, senão nada de novo vai acontecer no samba em Portugal e mais particularmente em Sesimbra.
Agradeço também o que tens feito pelo samba, pela divulgação. Acerca de tua coragem, embora nem sempre concorde com tudo, é muito bom estarmos num país livre, em que podemos expressar as nossas opiniões.
Desde já o meu muito obrigado pela tua disponibilidade para esta pequena entrevista
Agradeço eu, o convite…
- Qual a tua idade?
Tenho 29 anos.
- Helder como começou essa tua paixão pelo samba e em particular pelas escolas de samba?
Penso que a paixão pelo samba surgiu apenas aos 14 anos, quando comecei a ter aulas de cavaquinho com Reinaldo Nunes, e aumentou dois anos mais tarde quando conheci um dos melhores músicos de Sesimbra, Luis Taklin, que me ensinou muito de samba e escolas de samba, pois embora estivesse numa escola de samba desde os 3 anos o contacto com samba era muito pouco da minha parte e agora com o Reinaldo Silva aprendi muito, acerca do sentimento e do carinho que o samba merece...
-Qual o teu trajecto como sambista?
Como disse começou aos 3 anos, na escola de samba Saltaricos do Castelo foi lá que cresci juntamente com a escola de samba, ao fim de aproximadamente 24 anos de lá estar, saí pois adorava demais aquela escola de samba, e nem sempre isso é bom… Depois estive fora de escolas de samba durante um ano, mas sempre a ouvir muito samba, como um ano só não mata o bichinho do samba, e falo por experiência no assunto… Penso que renasci para construir uma nova escola de samba, que se chama Batuque do Conde, num sitio que à muito se desejava ter uma, Quinta do Conde, e já vão quase 2 anos que estou por cá... tocando e ouvindo muito samba...
- Que te levou a fundar uma nova escola de samba?
Penso que a necessidade de provar a mim mesmo que era capaz de fazer um sonho tornar-se realidade, construindo uma escola com a capacidade de unir muitas culturas diferentes, muitas pessoas, e acima de tudo para me divertir com os meus amigos … Tenho a certeza que com a Batuque do Conde, voltei apreciar o samba de uma maneira mais bonita…
- Como tem sido a reacção da população da Quinta do Conde?
De uma forma geral tem sido muito boa, embora ainda não tenhamos chegado a toda a população, como é nosso objectivo. Claro que não há bela sem senão e como ainda não temos sede, durante alguns ensaios, devido ao som, surge uma denúncia ou outra…lol … mas nada que não tenha sido contornado até agora…
- Quais as maiores dificuldades com que se debate a escola de samba?
Sem dúvida a falta de sede… E esse facto é como uma bola de neve, todos os problemas que daí advêm podiam já ter sido debelados… Claro que não deve ser desculpa, mas é a realidade que estamos a lutar todos os dias. Mas também temos de enaltecer o papel que à Junta de Freguesia da Quinta do Conde tem feito por nós nesse campo, ao ceder-nos uma sala nas suas instalações.
- Que rescaldo fazes destes 2 anos de actividade?
O primeiro ano não dá para esquecer do espírito de entre ajuda entre os poucos que ainda éramos, neste ano, naturalmente crescemos para mais do dobro, e foi um grande salto, temos estado a trabalhar quase todos os dias para conseguir dar respostas aos nossos associados, em termos de estrutura organizativa, pois não tem sido fácil todo este crescimento, mas confesso que tem sido bom demais…
- Quais os projectos para o futuro a curto e médio prazo para o Batuque?
A curto prazo, batendo na mesma tecla, a sede social, mas adiante, isso não impede o nosso outro projecto, que passa essencialmente pela formação, quer musical, quer na dança e temos mais dois outros projectos que passaram por uma academia de dança e por uma oficina de artes.
- Que rescaldo fazes do Carnaval deste ano da tua escola?
Não foi o que planeamos, mas acredito sempre que se erra, temos de aprender novamente a lição . Sei que as expectativas criadas eram muito elevadas em torno de nós, embora não tenhamos levado tudo a 100%, houveram coisas muito positivas, e é dessas que devemos falar, levamos alas e grupos maravilhosos, como as danças da corte, a ala das danças tribais, também de enaltecer a ala dos abba, e para não esquecer as nossas baianas… lindas… Trabalhamos com uma bateria completamente nova, do ano passado para este toda a formação de passistas também renovado e começado quase do zero, por isso penso que a Batuque do Conde tem de estar de parabéns pois cresceu e não foi só em número… Gostava de dar os parabéns à equipa de formação que continua connosco, a todos eles um grande obrigado…
- E do Carnaval de Sesimbra?
A chuva estragou-nos a terça feira… e não me irei alongar mais por agora…
- Qual o teu momento mais feliz no samba?
Tenho muitos momentos felizes, mas penso que a primeira vez que o meu filho desfilou a meu lado na bateria foi muito especial…
- Qual o mais triste... o menos feliz?
Como dizia Vinícius de Morais no Samba da Bênção e que me perdoe esse grande mestre, que está lá em cima junto de Deus, pois sou apenas um amante de samba…
O grande e único mestre Vinícius dizia assim…
(…)Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança (…)
- Como tens visto a evolução das escolas de samba em Portugal ?
Penso que todas têm evoluído mas algumas escolas de forma muito débil, eu explico, enquanto não houver uma abertura e uma união entre todos torna-se difícil, pois umas escolas evoluem em termos de fantasias, outras em termos de bateria, outras em termos de alegoria, para se evoluir uniformemente tem de haver uma abertura para o exterior e não falo para fora de Portugal, primeiro tem de haver abertura de mente, no sentido de que não se sabe de tudo, depois respeito por todos, respeitando as diferenças, pois é muito mais fácil apontar o dedo aos outros do que olhar para os nossos problemas internos. Sei que sou novo nisto mas quero estou na Batuque do Conde nesse caminho da evolução, que passa pela mente aberta, respeito pelos que já cá estão e por aquele que virão…
- Para ti quais as que mais evoluíram?
A Unidos da Tijuca, Rio de Janeiro… Estou a brincar, embora o caminho passe pela inovação no desfile e no espectáculo. O público merece, pois também é para eles tanto trabalho, tanta dedicação e brio naquilo que se está a fazer e em Portugal isso não deve ser diferente.
- E a evolução das escolas de samba em Sesimbra?
Penso que a evolução nas escolas de samba em Sesimbra já conheceu melhores dias, vive-se um sentimento muito triste, para mim, apontar o dedo aos outros é muito feio e eu não gosto que me-o façam, por isso não o faço aos outros.
E temos que todos nós, escolas de samba, como agentes de cultura que somos, agir responsavelmente pois o samba merece isso…
Mudando de assunto, gostei muito da recepção que a Batuque do Conde teve na Casa do Bota no Rego na altura do seu Aniversário, parabéns velha escola, que tanto tem para ensinar, continuem o caminho é esse… e nós estamos lá.
- O que gostarias de ver acontecer no samba em Portugal e mais particularmente no Carnaval de Sesimbra?
Numa palavra Sambodromo, possível ou não!!! Logo se vê … Além disso, para nós minoria associativa, que são as escolas de samba, temos de nos unir para um objectivo maior, senão nada de novo vai acontecer no samba em Portugal e mais particularmente em Sesimbra.
Agradeço também o que tens feito pelo samba, pela divulgação. Acerca de tua coragem, embora nem sempre concorde com tudo, é muito bom estarmos num país livre, em que podemos expressar as nossas opiniões.
Obrigado e muitas felicidades para ti e para o Batuque do Conde
Força e aquele abraço
Helder Gaboleiro
Força e aquele abraço
Helder Gaboleiro