ENTREVISTA COM ANA ALVES ( PRETA)- GRES BOTA NO REGO




ENTREVISTA COM ANA ALVES ( MAIS CONHECIDA POR "PRETA" NO SAMBA )
RAINHA DE BATERIA DO GRES BOTA no REGO - SESIMBRA




Permitam-me um pequeno " Prefácio " para a entrevista.
Como base em outra citação feita neste espaço á Rainha de Bateria do Gres Bota no Rego num pequeno resumo de uma das idas a festivais de Samba a norte ( nesse caso Mealhada) onde fui acompanhado por mais elementos do Gres Bota no Rego, embora a escola não fosse actuar , citei que fiquei admirado por tanta gente perguntar pela nossa rainha de bateria. Verifiquei a admiração e o respeito que por ela tem.
Mas... soube que muita gente duvidou, principalmente as tais mentes retrogradas e mais ainda as invejosas.
Aproveito agora a sua entrevista que muito me honra para a essas mesmas pessoas dizer que para alem dessa admiração e respeito acabou sendo por varias vezes sondada por elementos de escolas de samba a norte para partilhar os seus conhecimentos e talento como até para dar aulas. É isso aí leram bem !!! Não tem erro !!
É assim ! Quanto a factos não á argumentos !
E não é só para quem quer é para quem pode !
Apenas é de lamentar que na sua propria terra ainda tenha gente que não lha presta a devida admiração e em alguns casos apenas tentem fazer " umas fotocópias ", de má qualidade diga-se de passagem, de seus passes, sua desenvoltura, seu estilo...
Tal como tambem disse independentemente de concursos o seu universo sambista e o seu patamar é de outros niveis- a grande diferença percebe-se perfeitamente até no conteudo desta entrevista.
São mundos diferentes o de uma sambista ( sem falar no dominio que ainda tem com alguns instrumentos de samba...... ) DE TODO O ANO ( que vive e pensa samba TODO ANO ) e a sambista para o CARNAVAL.
Segue a entrevista.


- Ana qual a tua Idade e profissão?

Tenho 26 anos e sou Assistente Dentária e Recepcionista.


- Como e quando foi o teu começo no samba?

Comecei bem cedo! Os meus pais fizeram parte do grupo de pessoas que deu início ao Caga no Rego, agora, GRES Bota no Rego. Nasci e vivi grande parte da minha infância já neste meio!

Quando era pequena os meus pais nunca me deixaram desfilar na Escola pois sou asmática. Tinham muito receio das crises que eram frequentes. Após a separação dos meus pais, fui obrigada a afastar-me, assistia a todos os desfiles na primeira fila.

Aos 12 anos pedi à minha mãe para me voltar a pôr na Escola, e desde então nunca mais parei!


- Qual a trajectória sambista até aos dias de hoje?

Em 1997 desfilei numa Ala de Composição, para mim a decisão mais acertada que tomei, pois todos queriam que eu tivesse ido de Passista, e eu achei mais importante avaliar a minha disposição e atitude no meu primeiro ano como desfilante!

Em 1998 entrei então para a Ala de Passistas, desde então já desfilei como Passista em 1998, 2002, 2005 e 2006; Destaque de Chão, em 1999, 2004 e 2007; Destaque de Carro (uma fantasia tapada J) em 2001, uma experiência fantástica; Rainha de Bateria em 2000, e agora 2009 e 2010 que há-de vir!

Nos anos de 2003 e 2008 tive o prazer de poder desfilar na Marquês de Sapucaí por várias vezes. Desfilei na Imperatriz Leopoldinense em 2003; Estação Primeira de Mangueira, São Clemente e Alegria da Zona Sul em 2008.


- O Carnaval de 2009 foi a realização de um sonho teu que era voltares a ser madrinha de bateria do Gres Bota no Rego. Como foi esse momento? Que sensações?

Rainha de Bateria! Tive já oportunidade de esclarecer essa questão com várias pessoas ligadas as escolas de samba do Rio, e Madrinha de Bateria é: ou uma pessoa antiga na escola; ou que apoia/patrocina a Bateria, nomeadamente as suas fantasias, o que não impede que uma Rainha possa também ser Madrinha e vice-versa!

Foram 9 anos de diferença desde a primeira vez que fui Rainha de Bateria. Confesso que não tinha ficado com muito boas recordações desse ano. Como tal, queria muito repetir a experiência para perceber se o problema tinha sido eu ou a escola no seu todo, nesse desfile. E cheguei á conclusão que tive azar na minha estreia na posição, pois em 2009 foi um dos pontos mais altos do meu percurso no samba.

Durante esse período aprendi e evolui muito, as viagens ao Rio de Janeiro foram fundamentais, e contribuíram muito para minha actual visão do samba, do sambar, do que é ser Passista, e Rainha de Bateria. Assim, cheguei a 2009 com imensas ideias novas para empregar no desfile e na minha actuação, e sem dúvida que as melhores sensações que tive foi pô-las em prática e perceber as reacções do público, dos amigos, e responsáveis do Bota e de outras Escolas.



- Que é para ti ser Rainha de bateria?

Ser Rainha de Bateria para mim é fazer parte dela! Como tu sabes ensaio sempre com a bateria (tamborim, agô-gô, chocalho, aquilo que sei tocar). É trabalhar em conjunto com os ritmistas, saber e sentir toda a cadência que está a ser preparada para o samba do ano, de forma a poder melhorar o resultado final da minha apresentação. Uma Rainha de Bateria deve ter ligação umbilical com a bateria e não ser um corpo estranho, desligado. A bateria deve identificar-se com a sua Rainha.


- Que cuidados tens para o desfile de Carnaval?

Ensaiar muito, muito, muito. Ter alguns cuidados com o corpo, e principalmente com a fantasia, não por vaidade… mas para que ela não prejudique todo o trabalho que desenvolvo a nível de dança e coordenação com a bateria… nada pode falhar! A fantasia bem feita, confortável e estável é uma peça fundamental para que tudo esteja perfeito.


- Qual é para ti um modelo.... Um exemplo de uma madrinha/rainha de bateria?

Para mim o mais importante é sem dúvida o lado de Passista e membro da Comunidade, por exemplo a Quitéria Chagas do Império Serrano (samba muito), por outro lado, já vi a Viviane Araújo em conjunto com a Bateria do Salgueiro e existe uma química fantástica entre eles, apesar de não ser passista genuína, mas sim uma figura pública. Mas sem dúvida que prefiro aquelas que não aparecendo na televisão, lutam e trabalham pelas suas comunidades, escolas, sambam muito e bem.


- Melhor recordação de Carnaval?

A primeira vez que pisei na Marquês de Sapucaí…. O maior Palco de Samba do Mundo! É mágico e inexplicável… somos tão pequeninos!

Os meus desfiles no Carnaval 2009.

Sempre que vejo as “minha meninas” que ensino ou ajudo a aperfeiçoar, a crescerem como boas Passistas e a darem espectáculo no Carnaval.


- E a pior recordação?

Tenho alguma dificuldade em lembrar maus momentos, até porque não são muitos e o tempo apaga!

Mas… talvez… o meu afastamento do Gres Bota no Rego aos 5 anos!


- Que perspectivas para o Carnaval do Gres Bota no Rego?

Muito trabalho e dedicação! Evoluir e corrigir os erros. E claro…algumas novidades….


- Qual o tua ambição no samba?

A minha maior ambição era poder dançar ao lado de grandes passistas, mas como esse sonho já tive o prazer de realizar com as Passistas da Mangueira, Tijuca, Estácio de Sá, Jacarezinho, Vila Isabel e Portela. Agora só falta mesmo fazê-lo num desfile oficial na Marquês de Sapucaí! Espero concretizar mas para isso tenho de ir viver para lá…que grande chatice… ahahaha.


- Nas tuas varias idas ao Rio de Janeiro (a ultima nos finais do ano passado) e com isso os muitos conhecimentos que vais adquirindo quais as melhores recordações que já tiveste por lá?

Como disse anteriormente, uma das melhores recordações foi ter tido a oportunidade de dançar com algumas das e dos melhores Passistas do mundo;

Não me esqueço do arranque da Mangueira em 2003, com o “cantor” Jamelão e a sua voz maravilhosa…foi arrepiante!!!;

Quando pisei pela 1ªvez o “Palácio do Samba”, quadra da Mangueira;

Assistir ao final de um ensaio técnico, que participei, na Visconde de Niterói (morro da Mangueira) da varanda da casa de Cartola e Dona Zica, com direito a exibição particular da Comissão de frente e do Casal de Porta-Bandeira e Mestre-Sala!...quase chorei…eu sou Verde e Rosa!;

Alguns shows que tive o prazer de ver, tais como a gravação ao vivo do CD da Velha Guarda do Salgueiro com a participação de Walter Alfaiate; Show da Velha Guarda da Mangueira; Velha Guarda da Portela com Monarco (sou apreciadora principalmente de samba da antiga); Arlindo Cruz; Nilze Carvalho; Diogo Nogueira; Alcione; Jorge Aragão; Zeca Pagodinho; etc.….

O carinho com que fui tratada por todos na Unidos da Tijuca.

E claro, os diversos ensaios técnicos e desfiles que já fiz, em especial pela “Minha Mangueira”.

As boas recordações são tantas que podia escrever um livro!


- E quais os maiores ensinamentos que tens adquirido nesses contactos com os (e as) sambistas cariocas?

Aprendi várias coisas a vários níveis. Vi métodos de fazer fantasias, carros alegóricos e seus acessórios, e na dança aprendi que para se ser Passista é preciso ser simpática, alegre, humilde, gostar MUITO de samba e acima de tudo ter amor à camisola que se representa.


- Ultimamente tens sido contactada até para partilhares os teus conhecimentos com passistas de escolas do norte. Sendo um motivo de orgulho obviamente, como encaras essa abertura e essa lição de humildade dada por essas sambistas?

Essa “lição de humildade”, também me tem chegado por passistas do sul e de Sesimbra, e claro que me sinto orgulhosa, mas não me desvia do meu caminho, que é o de ter humildade e capacidade de trabalhar para continuar a aprender e evoluir.


- Como tens visto a evolução das escolas de samba em Sesimbra?

Bastante condicionada por algumas mentes menos favorecidas. Algumas Escolas tentam evoluir, outras nem por isso… mas no âmbito geral à uma rivalidade (que deveria ser saudável) que mantém acesa a chama, logo, a evolução é constante!


- E a nível nacional?

Não tenho conhecimentos de causa suficientes, pois não conheço todos os carnavais, e escolas, mas do que já tive oportunidade de assistir é feito um bom trabalho a nível de baterias, segundo sei ensaiam bastante, o que já tem o seu mérito; relativamente a fantasias é sem dúvida nenhuma o ponto fraco das Escolas mais a Norte; quanto à área que mais me diz respeito, a dança, penso que já se começa a tentar apresentar bons trabalhos, mas no geral ainda há muito a evoluir.


- Quais as escolas que na tua opinião mais estão a evoluir?

Na minha opinião o Bota no Rego é a Escola que está a seguir o melhor caminho, apesar de todas as condicionantes, está a seguir o modelo mais fiel de como se deve fazer um desfile de Escola de Samba, trabalhando também outras actividades anuais que fazem com que a Escola esteja sempre em movimento e consequente desenvolvimento.


- Que gostarias de ver acontecer no Carnaval de Sesimbra?

O concurso de Escolas de Samba, com critérios correctos e justos de avaliação, boas condições e uma série de obrigações para todos cumprirem, desde a Autarquia, às Escolas. Não podemos continuar a só brincar ao carnaval!!!! Era o passo fundamental! Sem dúvida!

-E a nível nacional que gostarias de ver acontecer em benefício das escolas de samba?

A valorização do Samba e das boas Escolas de Samba enquanto CULTURA!!!! NOSSA CULTURA!!!! Nós Portugueses também contribuímos, e MUITO, para o inicio do Samba e do Carnaval!


Obrigado Guerreiro pela entrevista! Foi um prazer!

Desejo a todas as Escolas de Samba do país um Excelente Carnaval, DIVIRTAM-SE!!!

Saudações Azuis e Brancas!


Obrigado Ana e muitas felicidades para o Carnaval 2010