ENTREVISTA COM LILI NASCIMENTO ( LILIANE )- CAVAQUINISTA DA BI-CAMPÊA DO CARNAVAL DE SÃO PAULO- MOCIDADE ALEGRE





Começo por lhe agradecer a disponibilidade para esta pequena conversa sobre samba.
Eu é que lhe agradeço, estou muito contente!
Tomei a liberdade de anexar algumas fotos, fique a vontade para usá-las ou não!
Parabéns pelo seu trabalho, com certeza ele encurta a distância entre o Brasil e Portugal!
Obrigada.
 
- Nome e idade ?
Lili Nascimento – 30 Anos
 
- Onde nasceu e onde vive actualmente ?
Nasci em São Paulo e atualmente estou pela Europa divulgando um pouquinho mais da cultura brasileira através da percussão e do cavaquinho.
 
- Como e quando, ou através de quem, você entrou para o mundo do samba?
Meu avô, José Maria do Nascimento foi um dos fundadores da Escola de Samba Mocidade Alegre. Não tive o prazer de conhecê-lo, mas herdei o amor pelo samba! Desde pequena acompanhava meu pai, que foi durante muitos anos o primeiro repinique da Mocidade e em seguida diretor da Bateria.
 
FOTO: FUNDADORES DA MOCIDADE ALEGRE - MEU AVÔ JOSÉ MARIA DO NASCIMENTO ESTA SENTADO NO CHÃO A DIREITA TOCANDO CUÍCA.
 
- Como foi o seu começo ma Mocidade Alegre ?
Desfilei pela primeira vez na barriga da minha mãe! Não me lembro muito bem (risos), mas devo ter gostado muito, pois nos anos seguintes continuei.
Já desfilei como passista mirim, na ala das crianças, na ala de compositores e time de cordas.

FOTO: EU DE PASSISTA MIRIM AO LADO DO MEU PAI NA BATERIA CARNAVAL 1993
 

- Desde quando aprendeu a tocar cavaquinho ?
Desde pequena fui atraída pelo som dos instrumentos musicais. Sempre que meu pai tocava suas percussões em casa eu estava do lado tentando imitar, e quando estava na casa da minha avó, via meu tio tocar cavaquinho. Sempre que tinha uma oportunidade pedia pra ele me ensinar algum solo ou acorde. Isso com 12 anos. No meu aniversário de 14 anos, ganhei do meu pai meu primeiro cavaquinho. Aos 15 anos já tocava na mocidade e percebi que precisava buscar conhecimento. Logo dei início aos estudos musicais na Universidade Livre de Música Tom Jobim, onde estudei cavaquinho, percussão popular e percussão erudita. Cito a percussão porque ela me ajudou muito no aprendizado do cavaquinho. O aprendizado é contínuo!
 
- Quando se iniciou como cavaquinista no carro de som da Mocidade ?
Toquei pela primeira vez no palco da mocidade alegre, nas eliminatórias de 1998. Meus tios compuseram dois sambas e me deram a oportunidade de tocar.
Nos anos seguintes outros compositores me convidaram para tocar seus sambas.
Como eu sempre estava na quadra, na ausência do cavaquinista oficial eu tocava nos ensaios e apresentações da escola. 
Em 2002 tive a primeira oportunidade de fazer um desfile oficial.
 FOTO: EU E MEU PAI NA CONCENTRAÇÃO PARA O MEU PRIMEIRO DESFILE OFICIAL 2002

- O que é para si estar nessa equipe de sua gloriosa escola de samba ?
Música é meu trabalho. Em função de novas oportunidades, neste ano não estive presente na escola o quanto gostaria, mas posso dizer pelos anos anteriores. É uma emoção muito grande! Eu sempre tive uma relação de amor com a Mocidade. Passei muitos anos da minha vida lá e aprendi muito mais do que samba. A escola cresceu muito e me sinto lisonjeada em ter participado nesse período de ascensão. Guardo com carinho todas as experiências que tive enquando estava lá!
 
 
- Não é muito normal uma mulher tocando cavaquinho em carro de som de escola de samba. Como foi recebida ? Foi dificil a integração ?
Realmente não é nada normal, me sinto privilegiada!
Tem suas dificuldades entrar em um mundo predominantemente masculino. A cada olhar duvidoso quanto a minha musicalidade, eu tinha mais vontade de tocar melhor. Mas em geral fui muito bem recebida.
-
 
 REPORTAGEM EM :
 
- Qual o momento de maior felicidade que passou em sua escola de samba?
Tive muitos momentos de felicidade!
Em 2004 eu já era a cavaquinista da escola e foi a primeira vez na minha vida que vi a Mocidade Campeã do Carnaval!!! Foi Maravilhoso!!! Esse momento com certeza marcou toda a comunidade, pois a mocidade não ganhava um carnaval a 24 anos!
 
- O que sente nos primeiros acordes do samba no inicio do desfile de sua escola no Carnaval ?
Não importa quantas vezes já tenha passado por isso, é sempre emocionante!! Arrepia o corpo inteiro!!!

 

- Como vê o actual momento do Carnaval em São Paulo?
O Carnaval de São Paulo está crescendo muito em vários aspectos. Grandes empresas têm investido no carnaval, o que colabora bastante para que as agremiações tenham melhores estruturas, inclusive financeiramente. Isso tem feito com que o carnaval se profissionalize cada vez mais. Hoje grande parte do trabalho dentro de uma escola de samba é remunerado. As escolas buscam contratar os melhores profissionais de cada área. Isso nos afasta cada vez mais de como o carnaval começou, mas as mudanças são necessárias. Não vejo isso como uma coisa ruim, dependendo da maneira que isso é conduzido dentro de cada escola. É muito legal ver ‘pessoas do mundo do samba’ se capacitando para fazerem parte desse processo de evolução do carnaval, espero que o contrário também aconteça. Que os profissionais que chegam, aprendam a amar essa cultura como as pessoas que ali já estavam antes dessas mudanças. Isso, entre outros fatores, favorece muito para que as escolas de samba de São Paulo apresentem um grande espetáculo de brasilidade para o mundo.
 
*Me refiro as pessoas do mundo do samba da maneira mais carinhosa!
 
 
- Qual a sua opinião sobre os sambas de enredo das escolas de S. Paulo ?
As disputas de samba enredo estão cada vez mais acirradas. Temos sambas muito bons!
 
- Como aconteceu a sua vinda a Portugal e assistir a uma Festa de Samba com algumas escolas portuguesas ?
Estava em Londres quando fui convidada por um amigo a conhecer Portugal. Ao chegar, entrei em contato com algumas escolas de samba para saber se alguma teria algum evento para eu assistir. O Ricardo Alves (Chora) da Bota no Rego, foi muito atencioso e me informou do encontro que teria em Penafirme, e inclusive me convidou para tocar nessa apresentação. Não pensei duas vezes e logo aceitei o convite! Que bom, pois pude ver um pouquinho do carnaval Português!
 FOTO: FERNANDO, EU E RICARDO EM PENAFIRME
 
- Que opinião teve daquilo que assistiu ?
Fiquei orgulhosa!! Tem muitos brasileiros que nunca foram a uma escola de samba. Viajar pro outro lado do oceano e ver que mesmo tão longe tem pessoas que valorizam a cultura brasileira é maravilhoso! Tocar samba é difícil até mesmo para muitos brasileiros. As baterias estão de parabéns, assim como os casais de mestre sala e porta bandeira, passistas, intérpretes e cavaquinistas!
 
- Visitou só Portugal ou mais algum pais Europeu?
Além de Portugal, recentemente estive na Alemanha e Espanha. Em todos fui muito bem recebida e tive a oportunidade de compartilhar a cultura brasileira através da música. 
2 FOTOS- WORKSHOP EM ESPANHA
 
- Pensa regressar em breve ao nosso país ?
Fui muito bem recebida em Portugal e isso com certeza me deixou com vontade de voltar. Muito em breve!

 - Deixe um recado aos sambistas portugueses.
 
Que vocês sejam bons multiplicadores da cultura brasileira!
Obrigada!
 
...”Não deixe o samba morrer
    Não deixe o samba acabar
    O morro foi feito de samba
    De samba pra gente sambar”...
 
 
Obrigado Liliane . Felicidades para si e sua Mocidade Alegre.
Eu é que agradeço a oportunidade!
Obrigada e um grande abraço Antonio Guerreiro!

APROVEITE TAMBÉM PARA LER A ENTREVISTA FEITA JÁ ANTERIORMENTE AO MESTRE DESSA MARAVILHOSA BATERIA DA MOCIDADE ALEGRE- MESTRE SOMBRA  - EM : MESTRE SOMBRA- ENTREVISTA